Weber Andrade*
Lá pelo início da década de 80, ganhei uma fita cassete – quem se lembra delas? – só com piadas selecionadas do genial humorista Chico Anysio. Numa delas, ele começa dizendo: “Brasileiro não pode sair da fronteira que já está chamando macaco de maquico.”
Quarenta anos se passaram e o nosso idioma, um dia definido pelo poeta Olavo Bilac como a “última flor do Lácio, inculta e bela”, veio se tornando, a cada dia, um novo idioma, ainda originário do Latim, mas eivado de expressões do inglês, particularmente o norte-americano, muito provavelmente devido à nossa preguiça de pronunciar as palavras e também a um certo sentimento de colonos esnobes, que nos aproxima mais dos também colonizados norte-americanos do que dos nossos verdadeiros colonizadores.
No Facebook – veja aí uma palavra composta em inglês tão entranhada nas nossas mentes – a amiga pedagoga Taiane Negrini, que adora rock – olha o inglês de novo – meteu um ‘post’ onde alguém ressalta que bolinho é uma palavra bem mais agradável do que cupcake. “Bolinho já dá pra perceber que é fofo apenas pela pronúncia. Cupcake é tipo toma aí seu bolo enfiado num copo”, sentencia o post.
Voltando à fita que abriu esta crônica, lembramos que a palavra também é um estrangeirismo, diria um anglogalicismo: cassette, em francês, significa pequena caixa onde sons e imagens são registrados. Originalmente a pequena e revolucionária peça, inventada pela holandesa Philips, chamava-se Compact Cassette, ou seja, uma peça inventada por holandeses com apelido que misturava francês e inglês, mas, nesse caso, conseguimos traduzir, mais ou menos, para o português como fita cassete, por causa da “fita” magnética que continha os áudios.
Dia desses, minha mãe, dona Zezé, ex-enfermeira, apegada a um dicionário, me ligou querendo saber o significado de lockdown.
“Que palavra é essa que agora não sai da boca dos jornalistas?” Questionou.
Tentei traduzir da melhor forma possível a palavra que tomou conta do mundo no final de março e início de maio por causa da pandemia causada pelo coronavírus: um protocolo de confinamento. Em suma, a palavra pode ser traduzida apenas por confinamento.
O brasileiro em geral não sabe falar inglês. O idioma é ensinado oficialmente nas escolas públicas há décadas, existem dezenas de escolas exclusivas para o idioma, mas até o ano passado, dados oficias afirmam que no Brasil, mais ou menos 5%, pouco mais de 10 milhões de pessoas, dominam o idioma (quase) universal.
Na medida em que a tecnologia avança pelo mundo, a disseminação do inglês nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento também acaba ganhando papel preponderante na comunicação.
Qualquer brasileiro, quando quer impressionar uma pessoa com possibilidade de relacionamento afetivo-sexual, é capaz de dizer i love you com uma naturalidade que nem os ingleses têm. Os nossos patrícios se escandalizam. Dizem amo-te, em vez de eu te amo ou i love you.
E eu, que amo, mas não sou amado por quem tanto amo, fico a pensar, parafraseando os portugueses do Deolinda: que parvo que eu sou. Que mundo tão parvo, onde para ser amado, é preciso falar inglês.
*Jornalista e editor de conteúdo do site ocontestado.com
Países da Europa, como França e Portugal, estrangeirismos são proibidos. Se queres dar nome a alguma coisa, tens que usar a linguagem daquele país.
Eu que moro há alguns anos fora do Brasil, fico impressionado com a quantidade de palavras adotadas do inglês e inseridas no vocabulário português do Brasil!
Também me estranha a grande quantidade de frases escritas em inglês aí no Brasil, que não tem nenhum sentido se fossem lidas aqui nos States. Mas, como disse o poeta: isso é globalismo!