A pandemia da Covid-19 trouxe uma nova realidade para milhares de pessoas em todo o país, diante da falta de empregos. O empreendedorismo individual passou a ser a fonte de renda de muitos trabalhadores e trabalhadoras. E, no Espírito Santo, a situação não foi diferente.
A criatividade somada à necessidade de um novo ofício despertou o potencial de empreender em muita gente. A crise financeira foi intensificada com a pandemia do coronavírus, e somente em 2020 mais de 48,5 mil projetos de pequenos negócios saíram da gaveta e se tornaram realidade no Estado.
O jovem Marcelo D. E., 19 anos, que não quis ter seu nome completo e foto divulgados, é um desses novos empreendedores. Com a ajuda da família, ele produz salgados, como pastéis, minipizzas e empadas, que embala e vende diariamente nas ruas de Barra de São Francisco. “Eu estava em busca do meu primeiro emprego, mas, com a crise e a falta de oportunidades, decidi ouvir as amigas e amigos, que me aconselharam a montar um negócio próprio. Foi então que, ao conversar com minha mãe, decidimos produzir e vender salgados. Tudo feito com muito amor e higiene”, alardeia.
Marcelo já trabalha com encomendas via Whatsapp. “Estou usando muito (O Whatsapp) para receber encomendas das pessoas que já experimentam nossos produtos, mas ainda saio todos os dias oferecendo de porta em porta”, comenta.
“As empresas estão surgindo em um novo cenário, onde quase todo o processo de venda acontece no meio digital e, aquelas que não nasceram digitais, têm adaptado seus serviços. Atualmente, 72% dos empreendimentos capixabas já fazem o uso das mídias digitais como canal de interação com o cliente e para venda. Por isso é tão importante os empreendedores se capacitarem para entender a nova dinâmica dos negócios e terem sucesso no empreendimento”, ressalta o superintendente do Sebrae/ES, Pedro Rigo.
Pensando nesse público, que geralmente não tem formação econômica ou financeira para tocar seu pequeno negócio, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Geração de Empregos (Semdege) lançou o programa Hora do Empreendedor, em parceria com o Sebrae/ES no qual consultores gabaritados irão, uma vez por semana – até dezembro, promover palestras presenciais sobre vários assuntos dentro do tema empreendedorismo.
“Você que deseja empreender, dar um up no seu empreendimento ou mantê-lo com segurança, essa é uma ótima oportunidade, mas as vagas são limitadas”, avisa o titular da Pasta, Guilherme Fernandes.
Impactos da Pandemia
Com a crise provocada pela Covid-19, 77% dos pequenos negócios capixabas tiveram seu faturamento reduzido. Muitos negócios precisaram adaptar e até mudar os seus serviços ou produtos para se manter no mercado.
De acordo o Sebrae os empreendimentos capixabas que configuram Micro e Pequenas Empresas geraram mais 373 mil empregos, movimentando cerca de R$ 649,5 milhões em salários, se tornando responsável por mais de 50% dessa movimentação.
“O Sebrae tem uma preocupação muito grande com o empreendedorismo capixaba, uma vez que ele é um dos impulsionadores da economia do Estado. As Micro e Pequenas Empresas são responsáveis por quase 60% da geração de empregos em território capixaba. Nosso papel é fomentar o empreendedorismo e incentivar, por meio de consultorias, orientações, cursos, entre outras ações, os potenciais empreendedores e empreendedores ativos, além de melhorar o ambiente de negócios para quem deseja investir no Espírito Santo”, aponta Rigo.
A 7ª edição da Pesquisa de Impactos da Pandemia sobre os Pequenos Negócios também aponta que 41% das micro e pequenas empresas capixabas que possuíam trabalhadores contratados não realizou demissões e atua com uma média de três empregados. Outro dado interessante é o de endividamento, que apresentou melhora nas taxas. Atualmente, 64% dos pequenos negócios do Espírito Santo não possui dívida ou está com as contas em dia. No início da pandemia o percentual de empresários com dívidas em atraso era de 39% e esse número caiu para 36%.
Crédito
O número de empresários capixabas que tentou conseguir crédito durante a pandemia aumentou. Segundo a última pesquisa Sebrae/FGV, 57% dos entrevistados disseram ter tentado buscar crédito, o maior número desde quando a entrevista começou a ser realizada. Desses, 24% conseguiram o empréstimo, 18% estão aguardando resposta e 58% não conseguiram.
“Mesmo com toda a importância das Micro e Pequenas Empresas no cenário econômico nacional, os pequenos negócios tiveram muitas dificuldades de acessar os serviços financeiros. As linhas de crédito estavam disponíveis, mas não chegavam às empresas que precisam, poucas conseguiram empréstimos. Portanto, devemos ressaltar ainda mais a perseverança e a garra destes empreendedores que conseguiram e ainda estão buscando seu reposicionamento no mercado”, ressalta Rigo.
A dificuldade no acesso ao crédito se concentra em quatros fatores importantes: a ausência de garantias que são exigidas pelo sistema financeiro; a restrição cadastral da pessoa jurídica ou dos sócios; a falta de uma conta bancária ou da movimentação de uma conta pessoa jurídica por parte dos pequenos negócios no sistema financeiro, e a dificuldade na gestão financeira da empresa que dificulta a comprovação da liquidez do negócio.
“A soma desses fatores agravou a situação das Micro e Pequenas Empresas e favoreceu as Médias e Grandes Empresas, que geralmente têm controle de caixa apurado e já possuem lastro com o sistema financeiro, o que facilitou o acesso ao crédito dessas empresas diferentemente do pequeno negócio”, destaca a gerente de acesso ao crédito do Sebrae/ES, Alline Zanoni.
Entre as orientações do Sebrae às MPE’s está o início do relacionamento com o sistema financeiro pela empresa logo na sua abertura, e para o empresário que já está na ativa, a atenção especial à gestão financeira do negócio. “É importante que o pequeno negócio inicie a sua jornada empresarial com uma conta da empresa aberta e em movimentação e realizar o controle de fluxo de caixa do negócio, manter a documentação em dia e tomar cuidado com o endividamento para garantir um processo de financiamento bem sucedido”, ressalta Alline. (Da Redação com Agência Sebrae e Secom/PMBSF)