A advogada Evelyne Manhães, filha da professora aposentada Eva Manhães de Almeida e o motorista aposentado Antônio Almeida, mudou-se “de mala e cuia” para o Canadá, há alguns anos, levando consigo o marido Raphael e os filhos.
Em janeiro eles estiveram em Barra de São Francisco, visitando a família e matando saudades. “Foram dias maravilhosos, com pessoas especiais. Mas agora, agora é aquela hora difícil em que deixamos nossa casa para voltar para aquele lugar onde também chamamos de lar. Valeu Brasil! Valeu amigos! Valeu família!!! Me espera Vancouver”, postou ela, no dia da “despedida”, demonstrando a sensação dual, de ser e estar em outro país, mas com a alma na sua Pátria e família.
Assim como Evelyne, milhares de pessoas estão para trás o Brasil, sua região, sua cidade, para viver o sonho de vencer em um país desenvolvido e, porque não, civilizado. Os principais destinos dos francisquenses são os Estados Unidos, o Canadá e Portugal. “O Brasil parece ter regredido à Idade da Pedra. Vivemos um tempo difícil, com muito ódio, muita criminalidade e poucas perspectivas de crescimento”, analisa um aposentado que está de partida para a Europa, mas pediu para não ter seu nome divulgado.
Os últimos dados da Receita Federal mostram que 22,4 mil pessoas entregaram a declaração de saída definitiva do país no ano passado. Em 2017, foram 21,2 mil.
A declaração definitiva é obrigatória para quem vai morar no exterior. Os registros de entrega cresceram de forma acentuada a partir de 2014, quando o Brasil passou a sentir os primeiros sinais da recessão econômica. Até então, os pedidos de saída definitiva não superavam 10 mil.
Há países que adotam políticas de incentivo para atrair trabalhadores estrangeiros, embora o processo migratório seja bastante burocrático. Entre os destinos mais tradicionais, estão Japão e Canadá. São economias que combinam baixo desemprego e uma população mais velha e, portanto, lidam com falta de mão de obra.
O Canadá mantém uma busca permanente por trabalhadores estrangeiros. O governo tem um programa exclusivo – chamado de Express Entry – para quem deseja se mudar para o país com um trabalho garantido. E em Barra de São Francisco, hoje, já existe agência especializada em levar brasileiros para aquele país.
No ano passado, 1,3 mil brasileiros integraram o programa, segundo o Consulado do Canadá. A participação de brasileiros tem sido cada vez mais – em 2015, 250 pessoas foram beneficiados. Hoje, o Brasil já representa o sexto maior contingente de contratados por meio da iniciativa, atrás apenas de Índia, China, Nigéria, Paquistão e Reino Unido.
Entre as principais profissões oferecidas pelo Canadá, estão vendedor, operário de obras, soldador, engenheiro elétrico, assistente administrativo, recepcionista, motorista, caixa, enfermeiro, entre outras.
“Para o processo mais realista, com residência permanente, e consequentemente, a obtenção de todos os direitos e deveres de um residente no Canadá, inclusive permissão de trabalho em quase todas as profissões, o candidato precisa, antes de tudo, fazer um processo imigratório, atendendo os critérios de elegibilidade do país”, afirma o cofundador da Canada Intercambio, Eduardo Santos.
Neste mês, a empresa começa um road show pela cidade de São Paulo para receber os trabalhadores interessados em migrar para o Canadá. As cidades de Ribeirão Preto (SP), Campinas (SP), Belo Horizonte, Uberlândia (MG), João Pessoa e São Luís também estão no roteiro.
Japão – No Japão, o governo recruta trabalhadores estrangeiros para 14 áreas, de acordo o consulado japonês. Há vagas para atividades de limpeza e cuidados domésticos; na indústria manufatureira, eletrônica e automotiva; na construção civil; na agricultura, entre outras.
“Houve uma mudança drástica no perfil de quem decide ir para o Japão. Antes o objetivo era conseguir acumular algum dinheiro, hoje são famílias inteiras que querem sair do Brasil em busca de mais qualidade de vida”, afirma o sócio da agência TGK, Armando Shinozaki.
A mudança para o Japão costuma ser mais fácil para os trabalhadores que integram até a terceira geração de japoneses que vieram para o Brasil em décadas passadas. “Se a pessoa estiver nesse grupo, ela pode consegue o visto e aí trabalhar e morar normalmente no Japão”, diz Shinozaki.
Recentemente, com o agravamento do problema de falta de mão de obra, o governo japonês também começou a facilitar a entrada de descendentes da quarta geração.
De forma geral, as agências que recrutam mão de obra brasileira para o Japão trabalham com empresas terceirizadas. São essas companhias que fazem a ponte com as empresas mais importantes do país asiático. “Nós só apresentamos as pessoas. São essas companhais terceirizadas que entram em contato com o trabalhador para fazer o processo seletivo e, depois, ficam responsáveis pela moradia no Japão se o candidato for aprovado”, afirma Shinozaki.
Planejamento é fundamental – Para quem deseja começar uma nova vida no exterior, o planejamento é fundamental, diz Maria Elisa Moreira, professora de gestão e liderança do Insper. “Por mais aventureira que uma pessoa possa ser é um pouco insano não se organizar para uma empreitada dessas, sobretudo as questões que envolvem a parte financeira”, diz Maria Elisa. (Weber Andrade com G1 e Receita Federal)
Veja algumas dicas de como se planejar
Manter uma documentação organizada, como visto de trabalho;
Ter fluência idioma do país de destino;
Não ter pendências jurídicas e financeiras no Brasil;
Conhecer os costumes e a cultura do novo país;
Organizar as questões de moradias e educacionais, sobretudo se a mudança envolver toda a família.