O deputado estadual Enivaldo dos Anjos votou à carga contra o que considera “dois pesos, duas medidas” em dois casos de transgressão ocorridos na Grande Vitória, nos últimos dias. No início da noite de ontem, 28, Enivaldo enviou mensagem de Whatsapp onde já sinalizava seu discurso: “Este Brasil pra onde, hein?”. Ele fez um paralelo entre a repercussão e tratamento dados a dois casos de transgressão: O do vendedor ambulante que tratava as pessoas com agressividade dentro dos ônibus do Transcol e o do empresário que destruiu uma lancha na baía de Vitória, navegando em local proibido e com suspeita de embriaguez.
Assista aqui a sessão virtual de hoje da Ales
Sessão Ordinária Virtual 29/07/2020
Acompanhe ao vivo os trabalhos legislativos desta quarta-feira. #assembleiaes #sessaoordinaria #aovivo
Posted by Assembleia Legislativa do Espírito Santo on Wednesday, July 29, 2020
“O trabalhador informal que estava vendendo balas no ônibus e fez uns apelos desesperados pra vender, foi crucificado na mídia como violento, isto ontem (segunda-feira, 27), hoje (terça-feira, 28) já estava na delegacia depondo. O empresário da lancha preta, que estava com a lancha cheia de bebidas e em alta velocidade, e que bateu tentando passar em lugar proibido, saiu do hospital e foi para a mansão, sem prestar nem depoimento na Polícia Civil, que só hoje disse que pensa em apurar o caso. Este Brasil vai pra onde, hein?” Protestou Enivaldo em mensagem a amigos no Whatsapp.
Hoje, 29, pela manhã, durante a sessão virtual da Assembleia Legislativa (Ales), o deputado do nororeste caixaba foi enfático: “Estamos vivendo em uma sociedade adoecida”, disse, emendando que hoje, a discriminação social é bem pior do que a racial.
“Sentimos que a discriminação social é latente, automática”, disse ele, descrevendo as reações do Poder Judiciário, da mídia e da Polícia Civil em relação aos dois casos.
O deputado destacou que o vendedor ambulante, que disse algumas palavras agressivas, na tentativa de vender suas balas e chicletes, provavelmente pela necessidade de alimentar a família, cometeu um erro que a sociedade elitizada considera como agressão e foi exposto na mídia, inclusive pela Polícia Civil, enquanto o empresário que destruiu uma lancha, tirou uma vida e conduzia uma embarcação cheia de bebida alcoólica, sequer foi incomodado.
“O empresário conduzia a lancha em local proibido, bateu, matou uma pessoa, no domingo, foi hospitalizado e na segunda-feira já estava de alta e em casa. Acho impossível alguém que disse que teve 11 costelas quebradas, pulmão perfurado, tenha se recuperado tão rápido”, questiona.
Enivaldo lembrou ainda que a Polícia Civil ainda estava “pensando” se abriria inquérito contra o empresário, enquanto o vendedor de balas só escapou de processo porque ninguém foi lá fazer a denúncia, mas teve que ir à delegacia e ser exposto diante da mesma sociedade.

As duas histórias
O vendedor ambulante que foi filmado xingando passageiros dentro de um ônibus na Grande Vitória foi ouvido na Delegacia Patrimonial de Vitória e liberado, na tarde de ontem, 28. Segundo a polícia, Thiago Nielsen Teixeira, de 35 anos, não ficou preso porque ninguém registrou ocorrência contra ele.
“Ele foi liberado porque ninguém apareceu para representar contra ele na delegacia. Ele ainda pode ser preso, mas as vítimas precisam procurar a polícia. Nós pedimos que as pessoas que se sentiram ameaçadas venham à delegacia para fazer a representação. Tão logo feita, vamos encaminhar ao judiciário a representação desses crimes”, pediu o delegado Gabriel Monteiro.
Na filmagem, é possível escutar o vendedor se irritando com quem não compra e ofendendo as pessoas.
“Se você puder ajudar, amém. Se você está com miséria de me ajudar, leva para casa e joga fora. Não tenho medo de polícia, nem de vigilante e nem de advogado […]”, ele diz em um trecho do vídeo.
Depois da repercussão negativa ele, gravou um vídeo pedindo desculpas pelo comportamento. Ele disse que está vivendo um momento difícil e pediu um “voto de confiança” dos passageiros.

A lancha preta – A Polícia Civil do Espírito Santo disse, nesta terça-feira, 28, que vai instaurar um inquérito policial para investigar as causas e responsabilidades do acidente com uma lancha na baía de Vitória, no sábado, 25. A Capitania dos Portos também apura o que aconteceu.
Na polícia, a investigação será conduzida pelo 1° Distrito de Polícia de Vitória, no bairro Santo Antônio. Até o momento, a Capitania dos Portos informou que o tráfego de embarcações é proibido no local onde houve o acidente e que a lancha está devidamente regularizada.
A embarcação era conduzida pelo dono, o empresário José Silvino Pinafo, que tem habilitação. Ela bateu em uma estrutura utilizada para atracação no Porto de Vitória. A noiva do empresário, Bruna França Zocca, de 25 anos, morreu na hora.
Um dos pontos a serem esclarecidos pelas investigações é se o piloto bebeu. Em fotos tiradas na lancha, é possível ver várias garrafas de bebida alcoólica. Em um vídeo, José Silvino aparece segurando uma garrafa de água.
Na segunda-feira, 27, o advogado do empresário disse que pessoas que estiveram na lancha disseram que ele não bebeu. Nem a Capitania dos Portos e nem a Polícia Civil confirmaram se o piloto fez o exame de alcoolemia.
José Silvino quebrou 11 costelas e sofreu perfuração nos pulmões. Ele teve alta nesta segunda do Hospital de Urgência e Emergência e se recupera em casa.
Informações da Polícia Militar apontam que, por volta das 18h do sábado, a lancha na qual sete tripulantes estavam se chocou contra o píer de uma empresa. A estrutura de aço é utilizada para atracação no Porto de Vitória.
Bruna estava na parte da frente no momento do impacto e morreu no local. O corpo dela foi sepultado em Itaguaçu, na região Serrana do estado, onde moram os avós da jovem.
Após a colisão, a lancha foi rebocada para as proximidades do Sambão do Povo, a fim de facilitar o socorro dos feridos.
O Corpo de Bombeiros informou, na ocasião, que Silvino e outras duas pessoas foram socorridas e levadas para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência. O empresário teve fratura nas costelas e perfuração no pulmão. Todos os feridos já receberam alta. (Weber Andrade com G1 Espírito Santo)