A Prefeitura de Barra de São Francisco, através da Secretaria Municipal de Agricultura, vai desenvolver em breve, um trabalho educacional entre os agricultores do município para incentivar o uso de práticas saudáveis nas lavouras e plantações de legumes, frutas e verduras, como a abolição ou redução do uso de agrotóxicos.
No último dia 11, segunda-feira, foi celebrado o Dia de Controle da Poluição por Agrotóxicos em todo o país.
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O uso do agrotóxico ainda é uma prática bastante comum em Barra de São Francisco, mas, na Feira Livre da rua Mineira, já existem pelo menos seis barracas que comercializam produtos orgânicos, como couve, alface, cheiro verde, tomate e outros. Um deles é o agricultor João Hermes, do córrego Fervedouro, que vende seus produtos na feira todos os sábados e tem freguesia cativa.
João Hermes conta que abolou os agrotóxicos e até adubos químicos de suas plantações há vários anos e não se arrepende, já que consegue agregar valor aos seus produtos e ainda consome legumes e verduras totalmente saudáveis.
Além dos feirantes, que também são agricultores, vários outros produtores rurais do município oferecem produtos orgânicos como legumes, frutas e temperos através de encomenda direta por telefone. Eles são filiados à Organização de Controle Social (OCS) Campo e Cidade – (27) 98112-2712 campoecidade@gmail.com.
Os consumidores podem encomendar cestas de alimentos diretamente com os produtores ou com os empreendimentos agrícolas, e escolher retirar em locais pré-definidos ou receber em casa. Cada fornecedor da lista trabalha de uma maneira.
Espírito Santo responde por 10% dos
envenenamentos por agrotóxicos
O Espírito Santo responde por 10% dos casos de envenenamento por agrotóxicos no Brasil. São cerca de 1,4 mil casos em 2019, que causaram quase 300 mortes, segundo dados apresentados na Assembleia Legislativa (Ales) naquele ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada caso de intoxicação notificado, 50 outros não são informados ao sistema de saúde.
As notificações de intoxicação por agrotóxico dobraram no Brasil desde 2009, passando de 7 mil para 14 mil casos, segundo o Ministério da Saúde.
O país lidera o ranking mundial de utilização de agrotóxicos, segundo pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Só nos primeiros seis meses do ano passado, o governo federal liberou o uso de 239 novas substâncias na agricultura. O cenário preocupa ambientalistas e consumidores.
De acordo com o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Wagner Miranda Barbosa, todo ano, 25 milhões de pessoas no mundo são envenenadas com agrotóxicos e 20 mil pessoas morrem devido a esse tipo de intoxicação.
Na safra de 2010/11, os brasileiros consumiram 936 mil toneladas de agrotóxicos. Cada dólar gasto com pesticidas gera um gasto de US$ 1,28 (R$ 5,24 na cotação de hoje, 14) para o sistema de saúde. Os agricultores familiares, pela falta de acesso à informação e à tecnologia, estão mais expostos à utilização dessas substâncias.
A prática é muito comum nas áreas de plantação de eucalipto da Suzano (antiga Fibria/Aracruz Celulose) e acaba atingindo os agricultores familiares, quilombolas e trabalhadores sem-terra dessas regiões. Mas, a grande maioria das lavouras de café e outras perenes, além de plantações de verduras e legumes também são ‘protegidas’ com agrotóxicos.
Segundo o professor Wagner Barbosa, além da intoxicação aguda, o consumo de agrotóxicos tem relação com o desenvolvimento de cânceres (linfomas, leucemia, câncer de testículo, mama, próstata, sarcomas, cólon); atraso no desenvolvimento motor, comportamental, intelectual, reprodutivo, hormonal e imunológico; aborto; infertilidade; dentre vários outros efeitos colaterais.
Recorte – O professor realizou seus estudos para a tese de doutorado em Biotecnologia utilizando como recorte os produtores de café da região do Caparaó capixaba. Seus estudos concluíram que essa população está mais sujeita ao mal de Parkinson, depressão e suicídio, e esse quadro está relacionado ao uso de agrotóxicos.
“A prevalência de depressão nos trabalhadores é muito maior que a média do Estado, do Sudeste e do Brasil”, destacou o pesquisador.
Seu estudo analisou, principalmente, a modificação de um gene relacionado à função cerebral e cognição e identificou que 40% de sua amostra tem esse gene bloqueado, o que leva a uma maior dificuldade de aprendizado. “Esse bloqueio vai afetar a pessoa até a 3ª geração. Ou seja, o produtor exposto ao agrotóxico pode comprometer o desenvolvimento até do seu neto”, alertou.
Estado incentiva uso de agrotóxicos
afirma um representante do MPA
Para o representante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Leomar Honorato Lírio, o próprio Estado é um impulsionador do uso de agrotóxicos quando vincula a liberação de crédito agrícola à utilização desse tipo de insumo. Segundo ele, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), ao exigir que os produtores apresentem, por exemplo, as notas fiscais que comprovem a utilização do crédito rural, acaba incentivando a compra de produtos químicos.
“Para acessar o crédito, você precisa informar em que você vai gastar o valor que você está adquirindo no banco. Não posso comprar um produto ou uma ferramenta produzida pelo meu vizinho, porque tem de ter a nota fiscal de uma empresa”, exemplificou.
Sugestões – Uma das sugestões dadas pelo professor Wagner Barbosa para amenizar o uso exacerbado de agrotóxicos no Brasil é a eliminação da isenção fiscal para esses produtos, que contam com a redução de 60% na base de cálculo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e com a isenção total do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Além disso, certamente o volume real é maior do que o registrado pelo Idaf e sistematizado pelo Fesciat, porque há muitos relatos de comercialização clandestina.
Essa realidade oculta ficou mais expressiva no sul do Estado, onde alguns municípios simplesmente não registraram sequer uma única venda de agrotóxicos – Muqui, Atílio Vivacqua, Jerônimo Monteiro, Vargem Alta e Itapemirim – e outros, como Rio Novo do Sul, mostraram números oficiais muito aquém da realidade agrícola similar de seus vizinhos, indicando muito possivelmente uma subnotificação significativa.
Glifosato é o mais danoso
O glifosato o agrotóxico mais usado em todas as bacias hidrográficas capixabas, sendo que no sul, a supremacia do agrotóxico da Monsanto é ainda mais gritante, representado 54% do total. Já no norte – bacias dos rios Cricaré, Barra Seca e Itaúnas – chama atenção o elevado consumo de paraquat, produto que, tamanha toxidade comprovada, já teve seu fim declarado no Brasil para setembro deste ano.
Na Bacia do Rio Doce, um dado alarmante é que, entre os oito mais utilizados, três – glifosato, 2,4D e Mancozeb – não são analisados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) desde 2014, quanto aos resíduos que permanecem na água potável servida à população. (Weber Andrade com Ales e Agência Senado)