Um morador de Água Doce do Norte, tem se manifestado em redes sociais, lamentando o fato de ter perdido os seus bens no Brasil para quitar dívida com um agente de imigração ilegal que atuaria na região leste de Minas Gerais e no noroeste do Espírito Santo. Seria apenas um caso, mas a imigração ilegal para os EUA, via México, mesmo com todo o cerco imposto pelo atual presidente daquele país, continua em ritmo acelerado.
Hoje, 22, uma reportagem da Agência de Notícias Reuters, informa que 545 crianças continuam presas e separadas dos pais naquele país, devido à tentativa de imigração ilegal. Entre 2017 e 2018, foram mais de 4,2 mil crianças nessa situação, uma delas do Espírito Santo, mas cujos pais foram localizados.
O tráfico de pessoas da região para os EUA tem feito fortunas e até eleito para administrar seus municípios, alguns agentes de imigração ilegal na região leste de Minas Gerais, embora a Polícia Federal nunca tenha conseguido comprovar o envolvimento deles. Esses agentes fazem fortuna intermediando a imigração ilegal via México desde o final dos anos 90 e início dos anos 2000.
Folha de pagamento de Água Doce do Norte tem servidor até nos EUA
Em 2005, por exemplo, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Emigração realizou audiência pública em Governador Valadares (MG), onde uma moradora de São Félix de Minas acusava o então prefeito da cidade, Wanderley Vieira de Souza, de ser o chefe de uma quadrilha que levava ilegalmente brasileiros para o exterior.
Lúcia contou aos integrantes da comissão que seu filho Wendel Johnatan Pereira, de 23 anos, morreu poucos dias depois de atravessar a fronteira do México com os Estados Unidos, levado pela quadrilha que seria comandada por Wanderley da Silva. A causa da morte teria sido, segundo ela, uma crise asmática em decorrência da travessia nas águas geladas do Rio Grande, na divisa do México com o estado norte-americano do Texas.
Wanderley de Souza já havia sido convidado pela CPI para depor na audiência de Governador Valadares. Em março daquele ano (2005), a revista Istoé publicou uma reportagem na qual o prefeito é apontado como um dos principais “cônsules” da região de Valadares. “Cônsul” é o nome que recebem, na cidade, os financiadores das quadrilhas que levam emigrantes ilegalmente para os Estados Unidos. Depois do depoimento de Lúcia Pereira, a CPI pretendia fazer uma acareação entre ela e o prefeito.
Para o relator da CPI, deputado João Magno (PT-MG), os depoimentos demonstraram a necessidade de se promoverem profundas mudanças na legislação brasileira, que hoje não tipifica como crime o “tráfico de pessoas”, a não ser quando seja comprovado envolvimento com a prostituição. Ele também destacou a necessidade de o governo brasileiro apoiar os cidadãos que vivem no exterior.
Sistema Cai-Cai
A criatividade dos agentes de imigração ilegal no Brasil, que tem forte associação com os “coiotes” do México, acabou por inventar um sistema para levar famílias inteiras de imigrantes para os EUA, o chamado: “Cai-Cai”.
O sistema consiste em tentar atravessar a fronteira pelas barreiras da imigração, escondidos em veículos como ônibus, caminhões e outros.
“Quando a gente é pego, já do lado norte-americano a orientação é “passar mal”, cair no chão e fingir estar com algum problema sério de saúde, para que os agentes de Imigração nos prendam. Depois uma pessoa, geralmente um brasileiro legalizado vai até a Corte e assume a responsabilidade pela nossa estadia até que a Justiça Norte-americana determine que sejamos, ou não, deportados. A gente tem que usar tornozeleira eletrônica, mas, a maioria, acaba “fugindo” dentro do país, retira a tornozeleira e vai trabalhar ilegalmente”, descreve um emigrante ao site ocontestado.com, sob condição de anonimato. (Weber Andrade com Agência Brasil, Agência Senado e G1)