Há sete anos, em 15 de setembro de 2013, o então governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) e o de Antonio Augusto Anastasia (PSDB), estiveram na divisa entre os dois Estados, mais precisamente no distrito de Bananal, em Mantena (MG), para comemorar os 50 anos do acordo de paz assinado pelos governadores Magalhães Pinto e Lacerda de Aguiar, que pôs fim ao litígio entre os dois Estados, chamado de “Guerra do Contestado”.
Foram décadas de litígio, atingindo uma região que cobria quase todo o oeste capixaba, desde Mutum (MG), que chegou a se chamar Marechal Hermes e pertencer ao Espírito Santo, até Ecoporanga, já no extremo norte capixaba, onde surgiu até um novo Estado, – União de Jeová – liderado por um “messias” e que rendeu um dos melhores romances do escritor capixaba Adilson Vilaça.
Este ano, quando se celebra o 57º aniversário do acordo, a Assembleia Legislativa do Espírito Santo, (Ales), lançou uma série de reportagens especiais, na verdade, documentários, baseados nos arquivos capixabas, relatando a história.
links para as três matérias da série já publicadas
https://www.al.es.gov.br/Noticia/2020/09/39907/nos-campos-de-ecoporanga-a-luta-continua.html
https://www.al.es.gov.br/Noticia/2020/09/39837/caminhos-do-ouro-minas-e-mar.html
https://www.al.es.gov.br/Noticia/2020/09/39863/o-messianismo-em-cotaxe.html
As reportagens, publicadas todas as sextas-feiras no site da Ales estão a cargo dos jornalistas Aldo Aldesco, que cuida da pesquisa e dos textos e Nicole Expósito, que faz a edição do material. Outro profissional da área de comunicação da Ales, Lucas Albani, é o responsável pelas artes e tratamento das imagens, a maioria delas recuperadas em arquivos muito antigos.
Hoje, 24, Aldesco, em entrevista ao site ocontestado.com, conta como e porque surgiu a ideia dessa série, que será completada amanhã com a quarta reportagem:
Por que a Assembleia Legislativa está publicando reportagens sobre o Contestado?
Aldo – A Ales tem publicado semanalmente, às sextas-feiras, matérias especiais, não factuais, sobre temas que possam contribuir com informações relevantes para o cidadão capixaba. Agora, estamos tratando do acordo sobre a divisa entre o Espírito Santo e Minas. Outros colegas estão escrevendo sobre outros assuntos.
E no caso do acordo da divisa?
Aldo – No caso das matérias sobre o Contestado capixaba (e mineiro), a pauta surgiu a partir de pesquisas anteriores nos anais da Ales e fundamentadas em estudos e obras já publicados sobre o assunto. A intenção não é se aprofundar no assunto, analisar e trazer hipóteses ou conclusões, como um estudo acadêmico.
Quais são as fontes?
Aldo – Pesquisamos em nosso Arquivo Geral e em outros arquivos públicos. Buscamos mais fundamentação com especialistas e em estudos já realizados. Trata-se apenas de reunir algumas informações relativas às atividades dos deputados na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, conectando esses fatos legislativos com as obras sobre o tema, e apresentando o trabalho do parlamentar.
Qual a importância dessas matérias?
Aldo – Entendo (de acordo com a concepção original das chefias à época da decisão) que é mais uma forma de o Legislativo se relacionar com a comunidade capixaba mostrando aspectos históricos das atividades parlamentares, com textos leves e não muito longos, por meio da comunicação pública, do jornalismo para o cidadão. Acredito que os temas abordados, como este do Contestado, sejam um incentivo para as pessoas procurarem fontes históricas, publicações, e se aprofundarem no conhecimento da realidade capixaba de ontem e de hoje. (Weber Andrade com Aldo Aldesco)
Linha do tempo do Contestado
1904 – Minas e Espírito Santo adotam uma linha divisória, ao norte do Rio Doce, tendo a Serra dos Aimorés como limite
1911 – Um convênio entre os estados confirma os limites na Serra dos Aimorés ou Souza, gerando confusão na região devido à dupla denominação do maciço
1914 – Supremo Tribunal Federal (STF) ratifica os limites na Serra dos Aimorés. A decisão é “contestada” pelos dois estados, iniciando-se o clima de tensão
1939 – Fracassa a primeira negociação entre os estados para resolver a pendência
1940 – Presidente Getúlio Vargas (1882-1954) designa o Serviço Geográfico do Exército para fazer levantamento na região do Contestado. A comissão formada por geógrafos e engenheiros militares elabora um mapa, no qual consta a mesma divisa das cartas anteriores
1942 a 1948 – Novos choques entre as polícias mineira e capixaba. Soldado de nome Pimenta assassina um militar mineiro devido a insultos e provocações. Nos morros perto de Mantena, soldados capixabas passam as noites em trincheiras à espera de invasão
1948 – Governo capixaba ordena a ocupação do território em litígio por 600 homens “em perfeita organização bélica”
1949 – A região fica ainda mais em sobressalto com a chegada de novos contingente dos dois estados. A tensão aumenta até 1956, quando o governador mineiro Bias Fortes (1891-1971) vai ao encontro do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), no Rio de Janeiro, e se declara pronto para a conciliação
1957 – Fim da paz que estava perto de ser conquistada. Um deputado capixaba declara à imprensa que “repeliremos a bala qualquer tentativa de agressão”. Para não pagar impostos aos agentes de Vitória (ES), Minas abre variantes fora do alcance dos postos fiscais capixabas
1958 – As negociações são reiniciadas, mediante formação de comissões em cada estado. O litígio vai a julgamento no STF, que também não encontra uma solução definitiva
1963 – Depois de estudo pelas comissões dos dois estados, a história do Contestado chega ao fim, com a assinatura, em 15 de setembro, de acordo entre os governadores Magalhães Pinto (MG) e Lacerda de Aguiar (ES)