O desperdício de alimentos atinge um terço de toda a comida produzida no mundo. A política do mercado financeiro, que gera produção em excesso, e o transporte, são fatores significativos para esse problema. Mas além disso, há desperdício de alimentos na cozinha da nossa casa.
De acordo com a FAO (agência das Nações Unidas preocupada em erradicar a fome), 54% do desperdício de alimentos no mundo ocorre na fase inicial da produção, que é composta pela manipulação pós-colheita e pela armazenagem.
Os outros 36% do desperdício, de acordo com a mesma fonte, ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. Tudo isso também contribui para a insegurança alimentar e a crise climática.
Quando lembramos que todos os dias 870 milhões de pessoas passam fome, esses dados sobre desperdício de alimentos se tornam aterrorizantes.
Uma pesquisa feita pela Unilever, chamada World Menu Report, afirma que 96% dos brasileiros se preocupam com desperdício de alimentos, uma porcentagem alta em comparação à Alemanha (79%), aos Estados Unidos (77%) e à Rússia (69%). Porém, o que é contraditório é que o país possui um dos maiores índices de desperdício de alimentos do mundo, com 40 mil toneladas de alimentos que vão para o lixo todo dia.
Segundo a ONG Banco de Alimentos (organização que busca combater a fome e o desperdício de alimentos), cada brasileiro desperdiça mais de meio quilo de alimento por dia.
As causas para tamanho desperdício são muitas. Muitos produtos, como frutas e vegetais, estragam antes de saírem das prateleiras. Muitos consumidores compram produtos que estragam antes de irem para a mesa e uma parte considerável do que chega até ela não é consumido. Existem também os problemas durante o transporte. Longas distâncias e embalagens impróprias (ou até mesmo a ausência de embalagens) são fatores impactantes.
Preocupado com essa situação, o prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos (PSD) publicou decreto esta semana, instituindo o Programa de Combate ao Desperdício e à Perda de Alimentos no município.
De acordo com o decreto, o objetivo primordial do programa é aumentar o aproveitamento de gêneros alimentícios disponíveis para consumo humano e mitigar o desperdício de alimentos, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional, além de promover melhorias na cadeia produtiva e no processo de doação de alimentos.
Em três supermercados ouvidos pelo site TNL, a informação é que o setor que mais tem desperdício de alimentos é o de legumes, frutas e verduras, que respondem por mais de 90% dos produtos que são retirados das prateleiras.
“Praticamente todos os produtos que ficam impróprios para a venda ao consumidor, são doados a criadores de porcos e galinhas, que buscam esses alimentos, mas muitos alimentos também poderiam ser aproveitados na confecção de alimentos para consumo humano, porém, não temos como doá-los a instituições sem correr o risco de sermos autuados”, sustenta um gerente de supermercado que pediu pra não ter seu nome divulgado.
A implantação e gerenciamento do programa ficará a cargo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semma), que deverá criar um banco de alimentos para captação e distribuição dos produtos a instituições públicas ou privadas, sem fins lucrativos, que atuam como intermediárias entre doadores e consumidores que necessitem das doações.
No Brasil, grande parte do desperdício de alimentos acontece durante o manuseio e logística da produção: na colheita, o desperdício é de 10%. Durante o transporte e armazenamento, a cifra é de 30%. No comércio e no varejo, a perda é de 50%, enquanto nos domicílios 10% vai para o lixo.
Em países desenvolvidos, o desperdício tem uma razão mais estética, onde consumidores se recusam a comprar produtos com aparência mais abatida ou feridos, e as próprias redes rejeitam alimentos de aparência menos saudável.
O desperdício também está presente na casa dos consumidores. Um relatório da ONU destacou que 74 kg de comida são desperdiçados por pessoa a cada ano. No Reino Unido, os resíduos comestíveis representam cerca de oito refeições por família a cada semana.
Além da comida desviada no processo de produção e desperdiçada na mesa do consumidor, a indústria alimentícia desperdiça alimentos ricos em proteínas e fibras dietéticas de alta qualidade, conduzindo-os para outros fins, como ração ou produção de energia.
Prejuízos ambientais
O desperdício de alimentos prejudica enormemente o meio ambiente. Imagine que boa parte dos agrotóxicos, água, terras, fertilizantes, desmatamento, transporte, gastos de energia e petróleo para a produção de máquinas e combustíveis empregados em todos os processos da agropecuária são utilizados em vão. Isso faz com que seja necessário intensificar ainda mais a produção e, consequentemente, a pressão ao meio ambiente.
No caso de desperdício de alimentos de origem animal, o prejuízo ambiental é maior, pois a criação de carneiro ou boi demanda maiores quantidades de insumos que a produção vegetal.
Isso sem falar na questão do aumento da quantidade de resíduos sólidos, que é formado majoritariamente por resíduos orgânicos (60%).
O desperdício e a perda de alimentos também causam cerca de 10% das emissões que contribuem para a crise climática.
Por outro lado, reduzir a perda e o desperdício de comida cortaria as emissões de gases de efeito estufa, desaceleraria a destruição da natureza por meio da conversão de terras e poluição, aumentaria a disponibilidade de alimentos e, com isso, também ajudaria a reduzir a fome.
Como evitar
Grande parte do desperdício de alimentos está na própria produção. Mas o consumidor pode contribuir de alguma forma para mudar esse quadro.
A primeira dica seria, sempre que possível, optar por alimentos produzidos localmente, uma vez que estes não sofrem (ou sofrem menos) as perdas do transporte e da degradação, tornando-se, quem sabe, um locávoro.
Outra forma de evitar desperdício é optar por consumir Pancs (Plantas alimentícias não-convencionais) ruderais, pois essas são uma alternativa às monoculturas e muitas vezes nascem naturalmente em casa ou nas proximidades, podendo ser colhidas na hora do uso, ou pouco tempo antes, evitando também perdas de transporte a longa distância e degradação pelo armazenamento.
Você também evita o desperdício de alimentos aprendendo a fazer receitas com cascas, raízes e sementes. Você já pensou em comer casca de banana, por exemplo, ou utilizar os talos de couve, brócolis, taioba?
Você também pode contatar os produtores de alimentos mais próximos e formar grupos de consumo com seus vizinhos, pois fazendo compras coletivas o preço fica mais em conta e o produtor pode produzir de acordo com a demanda, evitando desperdício.
Outra alternativa aliada a essas é compostar seus resíduos orgânicos. Assim, em vez de virar “lixo” e ocupar espaço em aterros e lixões, ele vira húmus e servirá de insumo, inclusive, para você doar ou começar a plantar localmente em algum espaço compartilhado com vizinhos. (Da Redação com ecycle.com.br)