Se vivo fosse, o líder sindical Sezínio Fernandes de Jesus estaria completando 82 anos nesta segunda-feira, 29 de julho, curiosamente, um dia depois da data nacional dedicada ao Agricultor. Um dos fundadores do PT em Barra de São Francisco e líder do Movimento dos Sem Terra (MST), ele morreu há 15 anos, em 2004, de morte natural, mas deixou um legado de luta pelos pequenos agricultores da região norte capixaba. Casado com dona Maria Anita, tiveram três filhos, mas o menino morreu com oito meses de idade. Restaram as duas filhas, Vera e Renata.
Nascido em Barra de São Francisco, filho do pioneiro Francisco Fernandes, Sezinio e seu irmão Jair foram presidentes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) do município, no final da década de 70 e início dos anos 80. Hoje, ele empresta o nome a uma rua do bairro Irmãos Fernandes, gleba de terra devoluta que foi doada pelo governo do Estado nos anos 30, quando seu pai veio morar no incipiente Patrimônio de São Sebastião.
“Meus familiares vieram dos municípios de Santa Tereza e da comunidade de Santa Júlia, em Colatina. Eles receberam uma gleba de terras de 11 alqueires que ia desde as proximidades do atual Posto Sombra da Tarde até o Banestes, no centro, passando pela ponte da Rua Mineira”, conta a filha mais nova de Sezinio, a assistente social Renata.

O nome de Sezinio ficou mais conhecido no Espírito Santo após a criação, em 2008, de um assentamento no distrito de Humaitá, município de Linhares. Lá foram assentadas 100 famílias, na antiga Fazenda Aliança e, pela sua luta em prol dos trabalhadores sem terra e pequenos agricultores, os líderes do assentamento resolveram batiza-lo com o nome do sindicalista francisquense.
Na tarde da última quinta-feira, 25, a Associação dos Pequenos Agricultores do Assentamento Sezinio Fernandes de Jesus, foi homenageada no Palácio Anchieta pelo governador Renato Casagrande, numa solenidade em alusão ao Dia Internacional da Agricultura Familiar, ao Dia Nacional da Agricultura Familiar (24 de julho) e ao Dia do Agricultor (28 de julho).
“Eu fui lá conhecer o assentamento, é um lugar muito bonito, com muitas lagoas e uma produção agrícola totalmente sustentável, fiquei orgulhosa por terem dado o nome do meu pai ao lugar”, conta Renata, lembrando que no início os trabalhadores ainda usavam agrotóxicos nas lavouras e isto acabou causando diversos problemas de saúde na comunidade.
“Uma das mulheres do assentamento me contou que antes de eliminarem os agrotóxicos ela ficou grávida duas vezes e acabou perdendo as crianças. Só depois que pararam de usar agrotóxicos é que ela conseguiu engravidar e ter um filho saudável”. (Weber Andrade)
Sindicalista foi homenageado
com Prêmio Nobel Alternativo

Em dezembro de 1991 a Fundação Direito a Uma Vida Digna, de Estocolmo na Suécia, concedeu ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Right Livelihood Award (RLA) também conhecido como “Prêmio da Sustentabilidade”, ou Prêmio Nobel Alternativo.
O MST replicou o documento e o entregou, no Brasil, a vários membros da organização. Um deles foi o sindicalista francisquense Sezinio Fernandes de Jesus.
O Nobel Alternativo foi criado em 1980 pelo filatelista Jakob von Uexkull, e celebra-se anualmente no Parlamento Sueco, normalmente em 9 de dezembro, para homenagear e apoiar pessoas e entidades que “trabalham na busca e aplicação de soluções para as mudanças mais urgentes e necessárias no mundo atual”.
Um júri internacional decide o prêmio em âmbitos como Proteção Ambiental, Direitos Humanos, Desenvolvimento Sustentável, Saúde, Educação, Paz, etc. O prêmio reparte-se entre os ganhadores, que normalmente são quatro, e o valor chega a mais de meio milhão de reais, dependendo da cotação da moeda sueca.
O “Prêmio Nobel Alternativo”, não tem qualquer ligação oficial com o Prêmio Nobel. O nome serve para sugerir que ele seja um complemento crítico àquele prêmio. O RLA não usa a divisão em categorias que o Nobel usa, pois, as soluções para a maioria dos problemas tendem a ser holísticas e difíceis de categorizar. Os julgadores do RLA também criticam o Nobel por premiar mormente pessoas do hemisfério norte e raramente mulheres. Na sua página web, eles fazem comparações com os Prêmios Nobel, e também mostram diagramas. (Weber Andrade com Wikipédia)

Família vive em uma área de
1,5 alqueires dentro da cidade
Logo após a Escola Estadual Governador Lindenberg, antigo Polivalente, fica a entrada do sítio onde até hoje vive a viúva de Sezinio Fernandes Filho, com as duas filhas, Vera, casada com o servidor municipal Prudente, e Renata.
O local, com um alqueire e meio, tem criação de galinhas, cabras e mais se parece uma estação ecológica plantada em meio à cidade. É praticamente a última área não urbanizada que resta dos 11 alqueires de terra recebidos pelo pioneiro Francisco Fernandes. No local pode-se ouvir o canto de várias espécies de pássaros e os micos pretos são tão mansos que pode-se observa-los nas proximidades da casa principal, em busca de alimentos.
“O resto foi quase tudo loteado, virou cidade depois que a família foi crescendo e se espalhando”, conta dona Maria Anita, que tira seu sustento das criações e de um bar construído logo na entrada do sítio, o Ecolazer, também conhecido como Bambu, por causa de um bambuzal ao lado do mesmo.
“O Sezinio tinha cara de bravo, mas era uma pessoa muito doce, muito amável”, relembra dona Maria Anita, hoje com 76 anos.
“Eu sou muito feliz por ter me casado e constituído família com ele. Hoje tenho dois netos maravilhosos, dois doutores”, conta orgulhosa ao se referir ao médico Raphael, que trabalha em Colatina e o engenheiro de Minas, Philipe, que vive em Cachoeiro do Itapemirim, onde atual no setor de rochas. (W.A.)