Dia desses pensava na frase “o brasileiro é um feriado”, tão repetida por aqui. “Quem trabalha é o 1º Mundo”, sentencia-se. Fomos convencidos disso. Esta é uma verdade aceita. Quem a contesta é imediatamente olhado com desdém.
Podem me olhar assim, pois eu contesto esta “verdade”. Aos números: um recente estudo apurou que na Holanda trabalha-se, em média, 1.200 horas por ano. Na Noruega, 1.300. Na França, 1.500. Nos Estados Unidos, 1.800. E aí aparece o Brasil, com 1.900 horas. Não somos líderes – na Coréia do Sul, por exemplo, chegou-se a 2.400 horas de trabalho por ano – mas estamos longe do rótulo de “preguiçosos”.
Se trabalhamos tanto, e em um Brasil tão rico, qual a razão desta pobreza que nos humilha? Comecemos pela produtividade: segundo a OIT, em 2001 cada brasileiro empregado produziu, em média, apenas US$ 14.297, contra US$ 59.081 dos norte-americanos e US$ 41.420 dos japoneses. Aqui mesmo, na América Latina, o trabalhador do Chile rende duas vezes mais: US$ 28.406.
Resumindo: o brasileiro trabalha muito mas rende pouco. Por que? Arrisco uma resposta: temos problemas sérios de saúde e de mentalidade.
Sobre a saúde, em função da baixa mineralização do solo tropical um brasileiro médio não supre sequer 1/3 das necessidades diárias de vitaminas e sais minerais estabelecidas pela OMS. Esta grave deficiência alimentar nos traz doenças, aposentadorias precoces e evidentemente perda de eficiência.
Sobre a mentalidade, merece destaque nossa repulsa à tecnologia. Por exemplo: um estudo feito pela Universidade de São Paulo constatou que nossa construção civil desperdiça 56% do cimento que consome! Um outro estudo, da Universidade de Pernambuco, chegou a um desperdício de 9% de aço, 16% de tijolos e blocos e 20% de nosso bem mais precioso: o tempo.
Este quadro é nacional: nossa agricultura é pouco mecanizada, 70% do que produzimos é transportado de caminhão (ainda resistimos aos trens e navios), e é assim que chegamos ao desperdício de incríveis 40% do PIB.
Assim, a culpa pela pobreza do Brasil não é dos mais humildes. Estes têm feito a sua parte nas fábricas, no campo e no comércio – se mais não têm produzido é porque não recebem meios de sustento e de produção adequados. Ao trabalhador brasileiro, pois, fica a nossa homenagem: ele é um lutador!
Pedro Valls Feu Rosa