O cafeicultor francisquense Valmir de Oliveira Silva, mais conhecido como Valmir Cota, poderia ser considerado apenas um dos 1.665 produtores de café conilon de Barra de São Francisco. No entanto, há pouco mais de meia década, ele decidiu fazer a diferença, ao perceber que a profissionalização da produção é fundamental para a geração de renda na cafeicultura atual.
A primeira ação foi buscar uma variedade compatível com o clima e o “terroir” da sua região, o córrego Laranjeiras, no distrito de Vila Poranga, onde possui uma propriedade de 20 hectares. Desde então, Valmir conseguiu, junto ao Incaper, chegar à variedade Incaper 8142, batizada de Vitória (veja mais detalhes abaixo).
Depois disso, Valmir começou a participar dos concursos de qualidade de café, principalmente os da Cooabriel, a maior cooperativa de café conilon do mundo. Como prêmio pela profissionalização, Valmir já conseguiu classificar o seu café por 3 vezes no concurso anual da cooperativa e, este ano, obteve, pela segunda vez, a terceira colocação no certame.
O prefeito Alencar Marim, assim que ficou sabendo do resultado, fez questão de parabenizar o cafeicultor que considera exemplo a ser seguido. “A cafeicultura é o carro chefe da nossa agricultura e, apesar de ser defensor da diversificação, entendo que produtores como o Valmir ajudam muito a melhorar a qualidade do agronegócio no município”, elogia.
“É uma satisfação muito grande ver que estamos evoluindo e conquistando espaço no mercado com o nosso café. O concurso da Coabriel reúne milhares de produtores e, somente o fato de conseguir classificação para a disputa já é uma grande conquista”, comemora Valmir cujo café obteve nota 81,96, apenas um ponto abaixo do segundo colocado, que ficou com 82,96 e menos de dois pontos do primeiro, que teve nota 83,73. “Os primeiros lugares foram decididos nos detalhes”, observa.
Os bons resultados levaram Valmir a começar a pensar na próxima fase da profissionalização da sua cafeicultura, que é produzir um café de marca própria e introduzi-lo no mercado. “Hoje, nosso objetivo é quebrar o paradigma de que o café conilon só serve para mistura. Temos vários produtores da nossa região que já conseguiram produzir um café conilon tipo bebida de alta qualidade, com sabor inigualável”, relata.
“Nós entregamos nosso café todo para a Cooabriel, que coloca o nosso produto no mercado e, inclusive, já produz uma marca própria de puro conilon. Mas sentimos que o nosso café tem excelentes condições para se tornar uma marca de referência e vamos nos preparar para isso nos próximos anos”, comenta Valmir, que estará levando seu café para disputar mais um concurso em breve, na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Valmir aconselha os cafeicultores francisquenses e de toda a região a investirem mais na profissionalização e melhoria da qualidade do café produzido. “Só assim se consegue ter retorno financeiro no atual mercado do café. A profissionalização da produção é essencial”, aconselha ele, que produz em média 1,5 mil sacas de café por ano, em apenas 35 hectares, sendo 15 deles na Bahia e 20 em Barra de São Francisco. (Weber Andrade)
Variedade Vitória produz até 83
sacas beneficiadas por hectare
A variedade de café clonal ‘Incaper 8142’ (Conilon Vitória) foi desenvolvida a partir da seleção, avaliação e caracterização de clones ao longo de 18 anos de pesquisas área de melhoramento genético, com foco para o Estado do Espírito Santo. Todos os clones utilizados como componentes foram selecionados nas lavouras comerciais em locais mais representativos para o cultivo de café no Estado.
Nesta nova variedade estão reunidos 13 clones superiores, levando-se em consideração a produção, adaptação aos diferentes ambientes, estabilidade de produção ao longo dos anos, longevidade, resistência a pragas e doenças, uniformidade de maturação dos frutos, rendimento de beneficiamento, tamanho de grãos, índice de grãos do tipo “moca”, vigor vegetativo, entre outros.
Os clones mais produtivos alcançam em media 83 sacas benefeficiadas por hectare. Os resultados obtidos sugerem para o plantio de 2.222 a 3.000 plantas por hectare e condução da lavoura com cerca de 10.000 hastes produtivas/há, podendo em solos mais férteis optar por espaçamentos mais abertos, ou pela realização de podas drásticas mais freqüentes. Os grãos incluídos nos clones são de tamanho grande ou muito grande,com boa uniformidade de maturação. O ganho ao rendimento pós-colheita não foi significativo ficando próximos as demais variedades já melhoradas pelo Incaper.
É muito importante que todos os clones desta ou de qualquer outra variedade clonal de café conilon, sejam utilizados em quantidades proporcionais, já que cada um tem suas características próprias proporcionando maior estabilidade às lavouras e segurança aos cafeicultores. O plantio em linha e fator determinante para um bom desempenho da variedade. Os clones devem ser plantados intercalando-se uma linha de cada clone, sem que a seqüência seja repetida na mesma ordem adotada nas linhas iniciais, proporcionando uma condição favorável e adequada polinização entre diferentes clones que formam a variedade. Até o momento recomenda-se o plantio de apenas uma linha de cada um dos clones e que todos eles sejam cultivados na mesma proporção, de forma equilibrada, sem a exclusão de nenhum deles.
Com esta variedade espera-se que, como já vem acontecendo nos últimos dez anos, a renovação da lavora de conilon do Estado continue em ascensão, já que estima-se que neste período cerca de 91 mil hectares da lavoura tenha sido beneficiados com os variedades já desenvolvidas pelo Incaper, com um incremento de 150% na produtividade média, que passou de 8,99 para 22,50 Sc benef./há.
O produtor rural conta com mais uma ferramenta para aumentar sua produtividade podendo assim continuar a participar deste mercado tão competitivo.