Considerada uma das 3 mulheres mais idosas do Brasil e, provavelmente, a mais idosa do Espírito Santo, dona Maria Rita Pereira, que mora há mais de 90 anos em Barra de São Francisco completou 114 anos na sexta-feira, 15. Em agosto do ano passado, graças a uma reportagem do site ocontestado.com e do jornalista José Caldas da Costa, ela foi destaque na coluna do jornalista Leonel Ximenes, em A Gazeta.
Ontem, 16, a secretária municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Israelle Cândido fez uma visita surpresa à anciã, em nome da secretaria e do prefeito Enivaldo dos Anjos (PSD), e levou uma bela cesta com frutas, flores e alimentos saudáveis.
“Dona Rita, parabéns, e eu já quero saber: qual o segredo para viver 114 anos?”
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Ela foi “descoberta” pelo prefeito Alencar Marim, em meados de julho de 2019, quando ele entregava o título de posse de um terreno a uma família do bairro Nova Barra. Depois disso, nossa reportagem mostrou a história dela para todo o Brasil e muitos parentes que não a conheciam, apareceram.
Na sexta-feira, dia do seu aniversário, a filha dela, Zenilda Rita de Jesus, 71 anos, a dona Santa, única que restou da prole de cinco filhos com Raimundo José Pereira, já falecido, convidou um pastor para celebrar um culto pela passagem do 114º aniversário da mãe.
“Ela não anda muito bem de saúde, a visão está muito prejudicada e quase não escuta, mas continua lúcida e alegre como sempre. A família queria até fazer uma festa, mas, por causa da Covid-19, acabamos desistindo. Vamos ter apenas um culto hoje à noite aqui em casa”, informou.
Dona Santa também disse ter ficado emocionada com a homenagem da Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, em nome do prefeito Enivaldo dos Anjos.
“Ela sempre fica muito feliz quando recebe visitas e essa homenagem deixou ela mais alegre. Espero que no ano que vem a gente possa comemorar os 115 anos dela, sem essa doença para atrapalhar”, desejou.

“Eu quero viver mais uns 50, não sei se vai dar, mas quero”, disse ela a Alencar Marim, durante a visita à casa em 2019. De acordo com a filha, a mãe tem mais “saúde” do que ela para se alimentar e não consegue ficar parada. “Mal acorda, fica rodando aí pelo quintal, senta para tomar um sol, mas quer trabalhar, como a gente. Se vê um tanque com vasilhas sujas, encosta e quer lavar”, relata.

Ainda segundo dona Santa, a mãe é muito lúcida e se lembra até do nome dos avós e bisavós. Gosta de sentar com o bisneto, Anderson e ficar contando causos de quando era nova, de quando gostava de ir aos forrós. “Até hoje ela gosta de dançar”, revela dona Santa e exibe o vídeo gravado no celular para comprovar a saúde física da mãe.
Dona Maria Rita já conta mais de 100 descendentes, em cinco gerações. Mineira de Mutum (MG), ela venceu um câncer de mama aos 103 anos, quando extraiu um dos seios, ainda ajuda na cozinha, escuta e enxerga mal, mas se desloca sozinha pela casa e no quintal. Surpreende pela memória e pela disposição não só de viver, mas de viver com alegria.
Canta inúmeras modinhas aprendidas nas lavouras de café de sua terra, gosta de dançar um forró e, segundo a família, se deixar, ainda arranja namorado. Ela teve três maridos, mas filhos, cinco, somente com o primeiro. O último marido, Raimundo José Pereira, que, coincidentemente, tinha o mesmo nome do primeiro, morreu aos 70 anos, quando dona Rita já tinha 98.
“Se a gente deixasse, ela teria arrumado outro”, conta a neta Rosineia, 48 anos, filha de dona Santa ao jornalista José Caldas da Costa, que esteve na casa dela em agosto do ano passado. “Se levar no forró, ela ainda dança”, completa dona Santa. O pai de Santa, o primeiro Raimundo José, morreu com 45 anos e o segundo marido, Albertino, morreu com 76.
Quando o repórter senta ao seu lado para conversar, dona Rita saca a primeira cantiga das lavouras de café: “Seu pai não quer/que eu sento perto docê/fura o zóio dele/que gente cega não vê”. E acompanha uma gostosa gargalhada. Aliás, gargalhar é uma das marcas de dona Rita, que tem.
Desde os 10 anos de idade adquiriu o hábito de fumar cachimbo. Aprendeu com a própria mãe. “Ela gritava lá do meio mato e eu tinha que acender o cachimbo pra ela. Foi assim que aprendi”, conta. Outro fator que contribuiu para isso é que o pai dela era “fumeiro: plantava, curtia e vendia fumo de rolo.
Outro hábito, bem próprio de mineiro, ela também adquiriu com a mãe. “Ela bebia cachaça e falava que eu tinha que beber. Então, eu bebia”, gargalha de novo. Perguntada sobre sua alimentação, dona Rita é direta: “Eu gosto é de carne, muita carne de porco e de galinha, junto com abóbora madura, batata e inhame chinês”.
Porém, com a saúde debilitada, dona Maria Rita tem se alimentado mais de líquidos e vitaminas. Por isso, o jornalista José Caldas, que é representante da Herbalife, empresa mundial de nutrição e controle de peso, enviou alguns produtos da marca gratuitamente para ela. “A vitamina fez muito bem pra ela, agradeço de coração ao jornalista, porque a gente tem uma situação financeira fraca”, agradece.
Caldas, que não poderá estar presente hoje na celebração, prometeu à nossa reportagem enviar mais uma remessa de produtos Herbalife para ajudar na alimentação da centenária.
Dona Santa conta que a mãe dorme cedo e acorda tarde. Entre sete e oito horas da noite, já está deitada. Não sem antes rezar de mãos postas, o que faz também todos os dias quando levanta, lá pelas nove horas da manhã. Se deixar, segundo a filha, ela dorme o dia inteiro, mas, depois que levanta, ninguém mais segura.
Antes da Herbalife, sua primeira refeição era uma caneca de leite queimado acompanhado de biscoitos. Ao meio dia, almoça e come bem. Repete a mesma refeição às cinco da tarde e, antes de dormir, toma uma caneca de leite quente. Agora ela mudou um pouco esses hábitos.

Remédio, ela só toma um: um comprimido de 25 mg para controle de pressão, tomado apenas uma vez por semana. Casou-se, pelos cálculos da família, com 25 anos, baseados na idade da filha mais velha, Maria Pereira da Silva, que, se viva fosse, estaria com 86 anos. Depois dessa, vieram Ozias, que morreu aos 7 anos de idade, segundo a família,“envenenado com mistura de comidas”, José Raimundo, que teria 84 anos, Zenilda, viva, com 71 anos, e Zenildo, que teria 69 anos. Este, ficou 30 anos sumido para Rondônia, até o reencontro pouco antes de morrer. (Weber Andrade com José Caldas da Costa)