O surto do 2019-nCoV, um tipo de coronavírus descoberto este ano na China, está causando preocupações globais, e não sem motivo: enquanto os casos confirmados da doença já alcançaram a marca de 2.744, pesquisadores estimam que os números reais sejam muito mais altos e que a epidemia atinja até 190 mil pessoas em fevereiro. No Brasil já existem três casos suspeitos. Exagero? Provavelmente não.
Em outubro do ano passado, uma equipe de especialistas em saúde, autoridades governamentais e empresários se reuniu para um exercício em Nova York, nos EUA, justamente para planejar uma resposta a uma epidemia global de um desconhecido (e completamente ficcional) coronavírus.
O objetivo da simulação, uma colaboração entre o Centro para Segurança da Saúde Johns Hopkins, o Fórum Econômico Mundial e a Fundação Bill e Melinda Gates, era justamente tentar prever (e melhorar) nossa reação a um possível surto de um vírus nunca visto, servindo como uma experiência de aprendizado para detectar nossas falhas a uma resposta pandêmica. E certamente existem problemas.
Apesar de conter especialistas em saúde da Organização das Nações Unidas e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, além de acadêmicos e representantes de empresas privadas – exatamente os mesmos tipos de pessoas que provavelmente planejariam a nossa resposta a uma pandemia de coronavírus real -, quando o grupo de 15 pessoas terminou a simulação de três horas e meia, 65 milhões de pessoas tinham morrido, apesar de seus melhores esforços.
O coronavírus no centro do “Evento 201” se chamava CAPS e começava com porcos no Brasil antes de contaminar agricultores e se espalhar entre pessoas, não muito diferente de como o 2019-nCoV supostamente começou, passando de animais para pessoas em um mercado.
Na simulação, o CAPS infectou pessoas de todo o mundo em apenas seis meses. Depois de 18 meses, já tinha atingido 65 milhões de pessoas e causado uma crise financeira global.

Ações
A semelhança entre este exercício tão recente e a situação atual é assustadora. Apesar disso, o grupo disse que os resultados não devem causar medo, uma vez que foram utilizados para destacar o impacto de uma epidemia e a importância de se preparar para ela.
Ao fim da simulação, os 15 envolvidos criaram uma lista de sete ações que os líderes dos setores privados e governamentais poderiam tomar para se preparar para um cenário como o “Evento 201”.
Estes são:
Governos, organizações internacionais e empresas devem planejar agora como suas capacidades corporativas essenciais serão utilizadas durante uma pandemia de larga escala;
A indústria, os governos nacionais e as organizações internacionais devem trabalhar juntos para aprimorar os estoques internacionais de contramedidas médicas para permitir uma distribuição rápida e equitativa durante uma pandemia severa;
Países, organizações internacionais e empresas de transporte global devem trabalhar juntas para manter viagens e comércio durante pandemias graves. Viagens e comércio são essenciais para a economia global, bem como para as economias nacionais e até locais, e devem ser mantidas mesmo diante de uma pandemia;
Os governos devem fornecer mais recursos e apoio ao desenvolvimento e fabricação rápida de vacinas, terapias e diagnósticos que serão necessários durante uma pandemia grave;
Os negócios globais devem reconhecer o ônus econômico das pandemias e lutar por uma preparação mais forte;
As organizações internacionais devem priorizar a redução dos impactos econômicos de epidemias e pandemias;
Os governos e o setor privado devem atribuir uma prioridade maior ao desenvolvimento de métodos para combater desinformação e má informação antes da próxima resposta à pandemia.
Tendo em vista que as resoluções foram feitas apenas três meses atrás e que o ser humano é uma espécie que demora a tomar ação, no entanto, permanece o receio de que seja tarde demais para prevenir as mortes de milhões de pessoas devido ao 2019-nCoV. (Weber Andrade com informações de ciencinautas.com e hypescience.com)