O fechamento parcial do monge da barragem no rio Itaúnas iniciada na última terça-feira, 17, pela empreiteira Monte Azul Ltda, aliado à irrigação de lavouras perenes e sazonais abaixo da mesma está matando praticamente todos os peixes abaixo da represa da Cesan. A situação foi denunciada hoje pela manhã por funcionários da Cesan, à Defesa Civil de Barra de São Francisco, uma vez que desde ontem não tem chegado água até a represa da companhia, que é responsável pelo abastecimento de toda a cidade.
De acordo com funcionários da Cesan, a represa baixou mais de 30 centímetros desde ontem, impossibilitando a vazão do rio, que tinha pouca água. Diante da situação o secretário municipal de Defesa Social, Renato Pinto Rosa e o coordenador da Defesa Civil, Arimatéia Oliveira, o Albuino, estiveram na barragem por volta de 14h de hoje, acompanhados dos funcionários João Pires e Diogo, da Cesan, para verificar a vazão do rio.
Ficou constatado que a passagem de água na barragem ficou represada por mais de oito horas hoje, passando apenas um cano de três polegadas de água pelo rio, água que logo era consumida pelas irrigações abaixo da barragem. “Não está chegando água desde anteontem na Cesan. Ainda não há risco de desabastecimento, mas se o represamento continuar lá na barragem da fazenda Bianquini, a situação ficará caótica”, comentou o engenheiro Diogo, da Cesan.
Depois de conversar com o encarregado da Monte Azul, Devair e com funcionário da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), Arnaud, ficou acertado que a empreiteira não vai continuar provocando a redução da passagem do rio até que ocorram as chuvas. “Nós estávamos colocando uma tábua de cerca de 20 centímetros por dia no monge, para provocar o enchimento da barragem”, informou o funcionário da Monte Azul.
A situação ficou tão caótica que, por volta das 15h30 de hoje, na ponte da Vila Landinha, dezenas de pessoas paravam para ver a imensa quantidade de tilápias buscando oxigênio desesperadamente nas pequenas poças negras que ainda restavam no local, formadas mais por esgoto do que por água. Alguns moradores das proximidades chegaram, inclusive, a entrar no rio na tentativa de pegar alguns peixes para consumo.
De acordo com o funcionário da Monte Azul, a ordem para iniciar o processo de retenção da água foi emitida pela própria Seag, o que levou o secretário Renato Pinto Rosa a tentar contato com o responsável pela obra na Seag, o subsecretário Rodrigo Vaccari, que esteve visitando o local na semana passada, para solicitar que a retenção da água seja interrompida. A decisão foi respaldada pela Cesan, que admitiu que, se o processo continuar poderá faltar água para abastecimento humano dentro de dois dias, já que os projetos de irrigação impedem que a pouca água que estava passando pela barragem chegue até a companhia.
Segundo a Cesan, o consumo diário de água em Barra de São Francisco gira em torno de seis milhões de litros por dia e a barragem dela perdeu boa parte dessa água, o que vai levar dias para recuperar e liberar água para o rio Itaúna após a barragem da empresa na Vila Landinha.
Obra pronta – Hoje, quando a nossa reportagem chegou à barragem, ficou constatado que a Monte Azul já está desmontando o acampamento no local. Segundo o encarregado, Devair, a obra deverá ser entregue à Prefeitura já na próxima semana, mas será inaugurada apenas quando estiver totalmente cheia.
A obra teve investimentos de mais de R$ 1,360 milhão e vai provocar a inundação de cinco hectares de área (o correspondente a cinco campos de futebol), permitindo o acúmulo de 100 milhões de litros de água como reserva estratégica para a segurança hídrica.
Ainda de acordo com o encarregado, com apenas um dia de chuva forte, a barragem poderá ficar totalmente cheia. (Weber Andrade)
