O presídio da Glória, em Vila Velha, na região metropolitana de Vitória, será reativado no segundo semestre de 2019. O local está sendo reformado para receber detentos do regime semiaberto de outros presídios e diminuir a superlotação. Moradores fazem abaixo-assinado contra a decisão.
O Instituto de Reabilitação Social (IRS) da Glória, quando aberto, terá capacidade para receber 500 detentos do regime semi-aberto. O objetivo é reduzir a superlotação dos presídios, que têm quase 9 mil detentos além da capacidade.
No entanto, a reativação está sendo contestada por comerciantes e moradores. Eles temem que a criminalidade da região aumente. Eles relembram a época que o local era palco de rebeliões.
O presidente da Associação dos Amigos do Parque da Manteigueira e morador da Glória, José Braz Galina, afirma que a comunidade é contrária a reativação. Segundo ele, desde o início do ano, está sendo feito um abaixo-assinado e manifestações no bairro por conta da decisão. “O bairro cresceu. E se houver uma nova rebelião?”, questiona.
“Nós somos contra pela situação que se encontra o sistema carcerário brasileiro. Se tiver rebelião, nós moradores ficaremos à revelia. Nessas rebeliões, já aconteceu de mulheres serem estupradas por fugitivos, fugitivos sendo assassinados dentro de escola, viaturas passando a mil em ruas do bairro. O presídio sempre foi transtorno para a gente”, reclama Galina.
A comunidade declara não ser contra a ressocialização dos detentos, mas cobram contrapartidas pela reativação do presídio e pedem que o governo instale uma delegacia e aumente a abrangência do sistema de videomonitoramento.
“Nós queremos que o governo venha conversar com a gente e falar sobre o projeto que está na Secretaria de Desenvolvimento que é de um restaurante panorâmico. É isso que precisamos, turismo e cultura”.
A Associação de Empresários de Vila Velha (Asevila) informou que também é contra a reativação do presídio. Em uma nota, com apoio de associações e entidades empresariais, a Asevila disse que é favorável à iniciativa de tornar o local em um ponto turístico.
“Em 2010 foi realizado um acordo entre a prefeitura e o Governo do Estado, autorizando o complexo do Xuri, em contrapartida, o presídio seria destinado para a geração de renda e emprego por meio da Cultura e do Turismo, o que não aconteceu”, diz trecho da nota.
Para a associação, o cumprimento do acordo é importante porque o município possui apenas 11,1% dos empregos formais, com 80% dos jovens desocupados, apesar de Vila Velha ter a segunda maior população do estado.
Sejus – Atualmente, o sistema carcerário capixaba comporta 13.800 detentos e abriga mais de 22 mil pessoas nas unidades prisionais. Segundo o secretário de Estado de Justiça Luiz Carlos Cruz, a reabertura é apenas uma das formas encontradas pela secretaria para combater a superlotação.
“Estamos com quase nove mil detentos em excesso. Então, toda a vaga criada está ajudando nessa diferença. Estamos buscando alternativas como trabalhar com o monitoramento eletrônico, audiências de custódia e agilizar a computação do regime de cumprimento de pena. Tem preso que não faz progressão porque não tem advogado”, conta o secretário.
Sobre a preocupação da comunidade com a rebelião, o secretário afirma que o perfil do preso que será colocado no presídio é diferente.
“Essas pessoas que virão para cá é o que a gente chama de preso albergado. Eles saem para trabalhar e retornam no final do dia para dormir. O trabalho da Sejus é o cuidado interno do presídio. Esses presos estão cumprindo o fim da pena e vão voltar para casa em breve”, enfatiza Cruz.
Sobre a transformação do presídio em uma área turística, Cruz informa que foi a medida mais barata para o governo e que já foram gastos R$ 1,2 milhão para recuperar a instalação.
Desativação – O IRS foi desativado em 2011 e o presídio já foi palco de muitas rebeliões. Na época, 329 detentos que ocupavam o local foram transferidos para o complexo prisional do Xuri, inaugurado no mesmo ano. O presídio já foi palco de diversas rebeliões.
As obras para a reativação já estão em andamento e a primeira etapa do serviço deve ser concluída até junho e nesse momento, o local já terá capacidade de receber detentos. As outras etapas que incluem a implantação de projetos laborais, escola e cursos ainda não tem data prevista para a conclusão. (G1 e Secom/ES)