
Michaella teve múltiplas fraturas no crânio, passou por múltiplas cirurgias e teve que reconstruir o rosto com placas de titânio.
Michaella mora em Guarapari. Já em casa, após a alta médica, depois de uma cirurgia de reconstrução do rosto que durou 8 horas, a advogada abriu as portas de sua residência para a jornalista Rafaela Marquezini, apresentadora do telejornal ES1, da TV Gazeta.
Ainda em recuperação, ela relembrou a dificuldade para ser atendida horas depois do acidente, mesmo em meio uma situação de emergência, falou de sequelas e seus planos para o futuro.
“Eu tô bem. Todas as vezes que me perguntaram eu falei que estava bem, independentemente da situação. Eu tô grata porque eu tô viva. O doutor falou :’vai com calma, descansa bastante, que você tem que se recuperar'”, disse a advogada.
No dia do acidente, por volta de 5h, Michaella estava no carro com o pai e o irmão, e os três seguiam em direção ao Aeroporto de Vitória, onde embarcariam para Minas Gerais, onde acontecia o velório do avô, quando foram surpreendidos pelo ataque ao carro.
“Lembro que eu estava mexendo no meu celular, meu pai estava dirigindo, e nisso ouvi um estrondo muito forte e meu corpo foi pra trás. A minha visão ficou preta e eu não consegui respirar. Dentro de mim, foi uma vozinha: ‘se acalma, aconteceu um acidente’. Falei: ‘pai, o que aconteceu?’. Ele falou: ‘jogaram uma pedra’. Eu falei: ‘tá bom pai, calma, vai pro hospital’, lembrou a advogada.
Sem saber a gravidade do ferimento, ela lembrou que teve dificuldade para abrir o olho esquerdo e teve medo de ficar cega.
“Tinha noção que foi na testa e no olho. Eu lembro que não tinha conseguido abrir meu olho esquerdo. A minha maior preocupação, na verdade, era de eu ter ficado cega porque eu não sabia o que tinha acontecido”, disse Michaella.
Com fratura exposta e afundamento de crânio, advogada teve dificuldade para ser atendida
Ao todo, foram três hospitais até a internação. No primeiro hospital particular, o plano da advogada não era aceito, mas a médica plantonista fez os primeiros socorros por se tratar de uma emergência.
“A gente passou primeiro no Santa Mônica e eu lembro que quando a gente mostrou minha carteirinha da Unimed, eles falaram que não atendia meu plano, mas a médica falou que tinha que me atender por ser uma emergência. Ela limpou primeiro e fez um primeiro curativo e me colocou em um remédio pra dor. Um enfermeiro foi comigo até o nosso carro porque ia dar plantão no hospital Praia da Costa também, e aí começou a nossa saga. Colocaram remédio pra dor, fizeram a tomografia e parou por aí. Eu estava com fratura exposta, eu precisava ir pro centro cirúrgico urgente. Eles tentavam, tentavam, tentavam e a administração da Unimed negava”, disse Michaella.
A médica só foi internada após uma liminar concedida pela Justiça.
“Quando foi por volta de 15h, eu tenho um tio que é médico. Ele entrou em contato com os médicos do Cias e eles pediram pra eu ir pra lá porque eles iam me atender. Eu lembro que a gente pediu ambulância no Praia da Costa e a Unimed negava”, disse Michaella.
Sem ambulância, a advogada foi levada no carro apedrejado para o hospital particular de Vitória.
A primeira cirurgia, para fechar o ferimento, aconteceu somente às 23h. A advogada lembrou que o procedimento foi bastante complicado devido à gravidade do ferimento.
“Quando ele fez a primeira cirurgia, eu perdi muitos ossos da testa, ele só suturou. Foi muito complicado até a sutura porque eu não tinha pele na testa”, contou.
Reconstrução do rosto e sequelas
O rosto de Michaella foi reconstruído em uma segunda cirurgia.
“Eu tenho uma cicatriz de orelha a orelha. Ele tirou o meu rosto até metade, mais ou menos, pra fazer toda a reconstrução com placas de titânio, tipo parafusinhos. Tive que reconstruir todo o meu nariz. Meu nariz é todo de titânio e minha testa e minha órbita ocular também. Eu perdi a órbita”, disse Michaella.
Sobre o ferimento no olho, ela disse que apesar da perda da órbita ocular, está conseguindo enxergar.
“A minha visão está indo bem. Eu enxergo bem. Ainda enxergo um pouco embaçado, mas é por conta do inchaço. Mas, a princípio, não tive nada na visão, não afetou a visão.
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Michaella Zukowski Reis, advogada de 25 anos, atingida por paralelepípedo em rodovia do ES, após cirurgia de reconstrução do rosto. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Já o olfato, paladar e a sensibilidade, principalmente do lado esquerdo, da advogada contou que ainda não voltaram.
“A sensação é como se estivesse tudo anestesiado e muito inchaço”, disse Michaella.
Por causa da cicatriz da cirurgia na testa, Michaella deve passar por uma cirurgia plástica futuramente.
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dvogada Michaella Zukowski Reis, de 25 anos, permanece internada sem previsão de alta desde o último sábado (8) e deve passar por uma nova cirurgia em breve. — Foto: Arquivo pessoal
“É difícil, mas eu estou confiante. Eu acho que nunca vou ser a Michaella que eu era antes. Sim, vai ter algumas diferenças, mas vou correr atrás de tentar fazer o máximo que eu puder pra parecer um pouquinho do que eu era”, disse.
Perguntada se é possível tirar algum aprendizado de tudo que aconteceu, ela disse que acredita que tudo que aconteceu teve algum propósito.
“Eu creio que sim, porque eu acho que Deus permitir as coisas na nossa vida, tudo tem um propósito. Então, eu acho que sim, ele deixou isso acontecer por algum motivo. Eu fiquei tão feliz com tanta mensagem que eu recebi, de tanta gente, de todo o Brasil, de gente de fora. Falaram: ‘cara, você é uma pessoa iluminada, você é uma menina iluminada, você tá com o sorriso no rosto, alegre’. Em todo o momento eu estive assim, eu não fiquei com raiva, eu não fiquei com ódio, eu tava em paz. É incrível”, disse Michaella.
O que diz a Unimed Vitória
A Unimed Vitória informou que os contratos com a rede hospitalar prestadora estabelecem condições que atendam prontamente aos clientes em casos de urgência e emergência e confirmou que a primeira unidade para a qual a paciente se dirigiu não realiza atendimentos para o plano de saúde contratado por ela, mas fez o primeiro curativo.
Já na segunda unidade, de acordo com a Unimed, deveria ter sido informado que a internação clínica era decorrente de um acidente pessoal, condição que garante que o período de carência seja desconsiderado.
Apesar da Michaella ter dito que só conseguiu fazer a primeira cirurgia às 23h e sob força de uma decisão da Justiça, a Unimed Vitória disse que, no Hospital Unimed, a paciente foi prontamente atendida e realizou todos os procedimentos necessários.
“A Unimed Vitória lamenta o ocorrido e afirma que, embora já mantenha uma ampla comunicação, vai intensificar o processo de adequação dos procedimentos estabelecidos contratualmente com a sua rede prestadora, a fim de garantir o melhor atendimento a seus beneficiários”, diz trecho da nota.
Por fim, a cooperativa destacou que preza por garantir sempre o melhor cuidado e atenção a todos.
“Só quero que fique preso”, diz advogada sobre suspeito que atacou carro da família
Sobre a prisão de Gelson Aparecido dos Santos, de 40 anos, que atacou o carro da família e a feriu de maneira tão grave, ela diz que só espera que ele fique preso.
“Não sinto nada por ele. Só quero que ele continue preso. Não sinto raiva, não sinto ódio. Só quero que ele não faça isso com mais ninguém”, disse Michaella.
Gelson Aparecido confessou o crime e disse à polícia que andava em zigue-zague pela pista quando o pai de Michaella buzinou. Foi nesse momento que decidiu jogar a pedra e alegou que estava sob efeito de álcool e drogas.
O delegado Guilherme Eugênio Rodrigues disse que o suspeito é dependente químico, morador em situação de rua e reconhecido por circular a região do crime. Após ser detido, o homem teve a prisão preventiva decretada pela Segunda Vara Criminal de Vila Velha, por destruir a tornozeleira eletrônica que usava.
O homem usava o equipamento a mando da Justiça em consequência de ações penais que ele responde por crimes como de trânsito, estupro, desacato, roubo e porte ilegal de arma de fogo.
Fonte: G1/ES