A dona de casa M. F. S., 25 anos, moradora do bairro Colina, conta que teve sua primeira menstruação aos 8 anos de idade e, aos 9, engravidou pela primeira vez do seu companheiro, T. S. A., hoje com 33 anos.
Atualmente eles já contabilizam seis filhos, o mais velho com 14 anos e, “apesar das brigas” nunca se separaram. Embora vivam uma vida humilde, ela afirma que os filhos – quatro meninas e dois meninos – têm “o suficiente” para viver e que o marido sempre trabalhou e deu conta de alimentar a todos, embora ela de vez em quando também faça alguma faxina para ajustar no sustento da casa.
M., mal conseguiu aprender a ler e escrever, mas se acha uma “mulher de sorte por ter um companheiro que a ama e respeita.”
A história de M., faz parte do relatório produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que revelou que 26% das adolescentes brasileiras se casaram ou foram morar com seus parceiros antes de completar 18 anos de idade. O número é próximo da média na América Latina, de 25% de casamentos infantis e uniões precoces. O relatório Perfil do Casamento Infantil e Uniões Precoces foi publicado nesta semana.
A média da região é a mesma nos últimos 25 anos. E caso ela se mantenha, a América Latina terá, em 2030, a segunda maior taxa de casamentos infantis do mundo, atrás apenas da África Subsaariana, região composta por países como Ruanda, Burundi, República Centro-Africana e República Democrática do Congo.
O relatório alerta que a prática compromete o desenvolvimento dessas jovens nos anos seguintes. “As uniões precoces ou o casamento infantil tornam mais difícil para as meninas terem um projeto de vida”, disse o diretor regional do Unicef para a América Latina e o Caribe, Bernt Aasen. Segundo o estudo, essas jovens têm maior probabilidade de viver em áreas pobres, rurais e com menos acesso à educação.
O documento mostra a relação entre a união precoce e a gravidez na adolescência. Mais de 80% delas deram à luz antes do aniversário de 20 anos. Para Shelly Abdool, assessora regional de gênero do escritório do Unicef para América Latina e Caribe, o futuro dessas meninas é colocado em risco, alavancado pelo “forte impacto sobre a maternidade precoce, os altos riscos de violência por parte dos parceiros e as consequências de abandonar a escola”.
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), é necessária criação de programas para apoiar a autonomia dessas adolescentes, além da formulação de políticas que impeçam o casamento infantil e as uniões precoces. (Weber Andrade com Agência Brasil)