O imenso prédio permanece até hoje na esquina da avenida Jones dos Santos Neves com a travessa Cecília Agostinho. As máquinas de exibição dos filmes também continuam no local, encobertas por panos, mas bem empoeiradas. Até o escritório do antigo Cine Atlas continua intacto e guarda fotos do patriarca da família Dematté, o empresário João Dematté, que comprou o imóvel do empresário Ranulfo Ximenes e, depois, importou um cinema completo de um empresário de Muqui, no sul do estado.
Hoje, o acervo é mantido por um dos herdeiros, Edésio Dematté, que aluga o imenso salão onde funcionava o cinema para depósito dos materiais dos vendedores ambulantes que ocupam a travessa Cecília Agostinho durante o dia. “As máquinas estão em perfeito estado e tenho até alguns filmes aqui, mas não há como voltar a exibir os filmes neste local”, conta Edésio, salientando que hoje nem existem mais ou custam muito caro as lanternas de arco voltaico (carvão), que eram utilizadas para as projeções.

As máquinas de carvão foram desativadas ainda na década de 80, quando outro filho do senhor João Dematté, Vital Geraldo Dematté, que ficou conhecido como o Neném do Cinema, reduziu o tamanho do salão e passou a fazer exibições com projetores digitais.
Neném, no entanto, era mais famoso pelo Bar Terezense, tradição da família. Até os anos 2000, O bar do cinema, como era conhecido, tinha frequentadores cativos, como o servidor do Legislativo Municipal, Elcimar Alves de Souza e o bancário aposentado José Tauffner. “Enquanto o Neném esteve com o bar aberto, nós íamos lá quase todos os dias. Às vezes o José Tauffner, que chegou a ser eleito o homem mais feio da cidade, sentava de frente para a rua e colocava o pé na porta para não deixar o Neném fechar o estabelecimento”, conta Elcimar.
Neném do Cinema ficou famoso não só pela exibição de filmes, mas também pelos tira gostos do Bar Terezense onde os amantes de uma boa aguardente e cerveja gelada se fartavam com os petiscos. Hoje, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ele vive em casa e ainda tem dificuldades de locomoção e de fala, mas os olhos brilham e o sorriso aparece quando conversamos com sobre os tempos do bar e do cinema. Ele não consegue contar, mas percebe-se pelo olhar e pelos gestos que sua emoção ao falar do local é muito grande. (W.A.)

Guda Euclides Fernandes guarda
fotos dos bons tempos do cinema
O oficial de Justiça Guda Euclides Fernandes guarda consigo um enorme acervo fotográfico de Barra de São Francisco. Filho do primeiro farmacêutico da cidade, o senhor Euclydes Fernandes de Jesus, Guda conta que conheceu o cine Atlas desde criança e viveu ali muitas alegrias. Hoje ele tem algumas fotos da fachada do prédio. “Do interior eu não tenho porque naquela época também não se faziam fotos dentro do cinema, mas me lembro bem dos desfiles, do bar da família e das sessões, que eram muito disputadas”, conta.
O pai de Guda veio de Colatina em 1941 e montou aqui a primeira farmácia da cidade. No livro “O passado e o presente de Barra de São Francisco”, as educadoras Marlídia Alves da Silva e Penha Gomes Lopes (in memorian) contam a história do pioneiro. “Aqui chegando, constatou o clima de insalubridade em que viviam os moradores e a necessidade urgente de instalar uma farmácia que viesse a atender os casos mais frequentes de enfermidades da região”, descrevem as autoras. (W.A.)

Cinema traz boas lembranças
para quem tem mais de 50 anos
O aposentado Cícero Heitor Pereira conta que era o “terror” dos cinemas, ainda antes da família Dematté. “Quando eu vim do Rio de Janeiro, no início da década de 50, já era considerado um anarquista pelos donos do cinema da cidade onde morava. Eu liderava um grupo de estudantes e, quando o cinema começava a dar problemas, ou as cadeiras não estavam em boas condições, nós acabávamos de bagunçar tudo. Teve uma época que fui chamado pelo dono dos cinemas para conversar e fizemos várias exigências que foram atendidas de imediato”, recorda.
Em Barra de São Francisco não foi diferente. Cícero conta que ia ao cinema todo fim de semana e fazia parte da turma que não aceitava “cortes” nos filmes. “Na época o senhor Astrogildo (Astrogildo Romão dos Anjos, pai do deputado estadual Enivaldo dos Anjos) gostava de tomar umas e outras e cantar. Então, tinha sábado que eu estava no cinema e, daí a pouco, o lanterninha aparecia me procurando. Dizia que o Astrogildo estava me chamando. Aí eu ia lá para o Clube das Perobas e ficávamos cantando e tomando cachaça”, relembra.
O empresário Paulinho da Ótica também lembra com alegria dos tempos do cine Atlas e destaca o “Canal 100”, como uma das principais atrações. “Era um noticiário de esportes, que era exibido antes do filme, com lances dos jogos dos times do Rio, geralmente com semanas de atraso, mas era muito bom de se ver”, comenta. (W.A.)

Primeiro cinema da cidade tinha
projeções na rua como agora
Quem assiste aos filmes que estão sendo exibidos na praça Senador Atílio Vivácqua, dentro da programação do Natal de Luz e Paz, não sabe que a arte cinematográfica já foi uma das principais atrações da cidade. Foi por volta de 1948 que a população do recém emancipado município de Barra de São Francisco tomou contato com o cinema. O fato é narrado pelo teólogo, jornalista, radialista e historiador Jader Alves Pereira, nascido em Barra de São Francisco, mas hoje radicado em Teixeira de Freitas, na Bahia, em seu livro São Chico e sua história em cordel: “Até em 48/Só tinha forró pro afoito/Sertanejo, roda e fado/Chegou o Edmundo Melo/ Trouxe o circo e filme em tela/Sua presença revela/ Motor, luz, som e alegria/O gozo é inconteste/Com os filmes de faroeste/Que ele nas noites exibia.”
Mas foi em 1950 que o cinema “de verdade” chegou à cidade com o empresário Ranulfo Ximenes, que montou um cinema “fechado” – o do Eduardo Melo era na rua – no prédio da esquina da avenida Jones dos Santos com a travessa Cecília Agostinho. O local era ponto de encontro da sociedade e assim se manteve até o final da década de 70.
“Dois anos depois em 50/É bom ligar as sirenes/Chega Ranulfo Ximenes/E monta cinema fechado/Edmundo ainda atua/Mas cinema assim na rua?/Fica logo descartado./E por falar em cinema/O histórico não é findo/Ainda tem o Gumercindo/Que entra nessa disputa/Ele que é mestre e operoso/ Mantém um espaço gostoso/O seu Ita Cine Uta”, conta o escritor de cordel.
Em 1960 chegava a Barra de São Francisco a família Dematté, proveniente do município de Santa Teresa. O patriarca João Dematté, inicialmente montou um bar, no quarteirão entre a travessa Cecília Agostinho e a rua da Rodoviária (hoje rua Alceu Antônio Melgaço). Cinco anos depois ele comprava o cinema do empresário Ranulfo Ximenes que se mudaria para Montanha.
A narrativa de Jardel Pereira continua: “Em 65 Ximenes/se muda mais para o norte/O seu cinema que é forte/E é o rei da matinê/Agora é da italianada/Pois a casa foi comprada/Pelo clã dos Dematté.” (Weber Andrade)

Projetores do cine Atlas foram dos
primeiros fabricados pela Triumpho
Os dois projetores existentes hoje no prédio do antigo Cine Atlas foram dos primeiros fabricados pela Empreza Cinematográfica Triumpho. O número de um dos projetores atesta isso. É o projetor número 15, da série 2. A história da Triumpho está ligada diretamente ao desenvolvimento da indústria cinematográfica nacional.
Foi por volta dos anos 30, que o jovem Rocco Canteruccio, contratado pela Byngton (empresa que na época produzia produtos elétricos e também projetores para cinema), foi contratado como motorista da família dos proprietários. Como nesta atividade, Rocco dispunha de muitas horas de folga, ele passava as mesmas, fazendo diversos serviços na fábrica, e o que com mais ele se identificava era com o departamento de cinema. Foi aí que começou a sua paixão pela cinematografia, ajudando nas suas horas vagas no departamento de cinema onde era fabricado os projetores Byngton. Depois foi trabalhar em outra empresa cinematográfica, a Pathé.
Em 1938 Rocco demitiu-se da Pathé e, em sociedade com os dois amigos, fundou a Empresa R. Canteruccio & Cia Ltda., com sede à rua do Triumpho, (que durante muitos anos foi o centro da cinematografia em São Paulo). Em 1939 Jair retirou-se da Empresa, que passou e ter a denominação, Canteruccio & Lamanna, com nome fantasia Empreza Cinematográfica Triumpho. Então, com ajuda de um grande amigo, Antônio Pratici, exibidor na época na cidade de Guarulhos, eles compraram alguns equipamentos e começaram a fabricar os projetores Triumpho.
A pequena indústria prosperou na Rua do Triumpho, até que em 1951, compraram em Santana (SP), de uma indústria de ampolas para produtos farmacêuticos, um imóvel com mais de 1,5 mil m², onde montaram um novo local para fabricação dos seus equipamentos, ficando na Rua do Triumpho, sua loja, escritórios e o departamento elétrico onde se fabricava o som e, por algum tempo, também, uma oficina de tapeçaria.
Durante essa sociedade, foram fabricados mais de 300 conjuntos de projetores e em 1955 passou, também, a fabricar os projetores para a RCA, que equipava vários cinemas na época. Foram fabricados, neste período, pela Triumpho alguns conjuntos de projetores 35/70mm. A Triumpho chegou a exportar alguns equipamentos para a Bolívia e Paraguai.
Rocco permaneceu na sociedade até meados de 1975, quando se retirou, deixando em seu lugar o seu filho Hugo Canteruccio, em companhia do sócio Lamanna. Ao assumir o comando técnico da empresa, Hugo constatou que as lanternas de arco voltaico (carvão) já estavam entrando em desuso, por seu alto custo de fabricação e manutenção e, com o advento da lâmpada Xenon, processo muito mais rentável e prático para o sistema em geral, decidiu, após alguns estudos, aderir ao novo processo. (Weber Andrade com site feldservice.com.br)
ESTÁ HISTÓRIA ESTÁ MAU CONTADA, OS HISTORIADORES, EDESIO E NANEM, NA ÉPOCA ELES TINHAM DE 8 A 9 ANOS, NUNCA EXIBIRAM UM FILME, E TAMBÉM, HOJE O SENHOR EDESIO DEMATTÉ NÃO E ÚNICO PROPRIETÁRIO.
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