A camponesa Luz Divina, 53 anos, passava hoje pela esquina da avenida Jones dos Santos Neves com a rua Gumercindo Farias, quando foi abordada pela reportagem de O Contestado. Franzina, pouco mais de metro e meio de altura, atravessou a rua e quando acenamos, veio sorrindo, certamente pensando em vender um pedaço de bolo, um salgado, um suco. As duas mãos sempre ocupadas, uma carregando o carrinho e na outra a redoma com as fatias de bolo. “Quer um pedaço?”, indaga.
Tive vontade de comprar só para incentivá-la, mas não tinha dinheiro. Quis saber se ela vendia comida nas ruas há muito tempo. Luz contou que começou a trabalhar com a venda de salgados e bolos recentemente pela necessidade de sobrevivência, de si e da família. Pergunto se ela sabe que hoje, 8 de março é o Dia Internacional da Mulher e o que ela acha que falta para as mulheres viverem melhor.
“Falta quase tudo. Eu moro na roça, sou lá do Brejão, mas lá não está dando para sobreviver, por isso venho para a cidade, vendo salgados, sucos e bolo. A situação já não estava boa e, agora, vem o presidente e quer obrigar a gente aposentar com 62 anos. Eu estou com 53 e não aguento mais puxar enxada”, lamenta.
Quando nós pedimos para fazer uma foto ela se esquiva. “Não, foto não. Estou muito feia, acabada”, lamenta, e segue o caminho em busca de clientes.
Espírito Santo – Assim como Luz, milhares de mulheres capixabas têm muito pouco o que comemorar neste dia 8 de março. O Espírito Santo ficou em quinto lugar n ranking de feminicídios em 2018, com 33 mulheres assassinadas, sem contar que, neste carnaval foram registradas mais de 150 ocorrências de violência contra a mulher, no estado.
País – Houve um aumento no número de registros de feminicídio, ou seja, de casos em que mulheres foram mortas em crimes de ódio motivados pela condição de gênero. Foram 1.173 no ano passado, ante 1.047 em 2017.
O levantamento, publicado nesta sexta, 8, Dia Internacional da Mulher, faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do site G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Opiniões – A secretária municipal de Educação, Delma Ker, se manifestou ontem no final da tarde nas redes sociais pela passagem do Dia Internacional da Mulher. “Amanhã (hoje) é o Dia Internacional da Mulher. Mas, sinceramente não sei se temos o que comemorar, se as estatísticas apontam que a cada 7 segundos uma mulher é agredida ou morta… Se temos que ficar em alerta o tempo todo, por nós, nossas filhas, irmãs, mães, sobrinhas e amigas. Se precisamos ter cautela com a roupa, com a maquiagem, com o olhar, com altura da risada, porque algum ” homem” pode interpretar errado e entornar o caldo quente sobre nós. Vi pasmada, em estado de choque, uma reportagem que registra um encontro de homens agressores anônimos para falarem de suas ‘doenças’ por nos agredirem pelo simples fato de termos nascido mulheres! Então vamos comemorar exatamente o quê? Podermos estudar, trabalhar, votar??? Sinceramente. A cada reportagem me dói a alma… E me coloco no lugar daquela mãe, mulher, filha… Alguém precisa parar esta ‘naturalidade’ cruel de violar o nosso universo e depois sofrer de uma súbita amnésia!”
A pedagoga Taiane Negrine, leitora fiel do site O Contestado usou um post para expressar sua posição: “Nem bela. Nem recatada. Nem do lar. Bonita mesmo é qualquer mulher que se levanta e luta.” (Weber Andrade com site G1)
Podia ter falado da ação registrada na foto…rsrs
Foi malz, amigo. Na verdade, a ação desta foto (das PMs) está descrita em outra matéria, que publiquei no mesmo dia. Você está correto, deveria ter citado no texto.