A história de hoje é dois venecianos devotos de São Cristóvão e, teve início lá atrás, na década de 1970. Aqui não impera machismo e muito menos, que mulher é ruim de direção. “Meus amigos falavam que minha mulher dirigia melhor que eles, a chamavam de pé quente, ela e meu irmão (Agostinho Menegussi), são as únicas pessoas que eu confio para levar um caminhão carregado e eu no carona”. A afirmação é do seu João Batista Menegussi, 74 anos, esposo da dona Deuzenira Pereira Menegussi, 63. O casal criou os quatro filhos, a Elaine, o Fábio, o Joenes e a Érica, com o que a lida dos fretes de caminhão proporcionava. Ela, com Carteira Nacional de Habilitação, categoria C em mãos desde 1987, já dirigia o caminhão bem antes disso e, a estrada foi o lar dos dois, por muitas vezes. “Antes de aprender a dirigir eu já ia com ele. Nossos dois filhos mais velhos já foram em muitas viagens com a gente, era fralda, mamadeira e a rede na boleia. Para o almoço, nós parávamos por pouco mais de uma hora, ela fazia a comida, lavava tudo, e levávamos a janta. O banho nas crianças era dado com a água do carote do carro, e nós, no posto”, conta Menegussi.
Com pé no acelerador e mão no volante, o patriarca da família conta que já conheceu cerca de 16 estados do País, e, em se tratando da dona Deuzenira: “Muitos lugares já fui dirigindo, já fui sozinha, mas em um geral, íamos juntos. Ele dirigia e quando cansava, eu assumia o volante. São Paulo, Pará e tantos outros lugares. Lembro eu grávida, com a barriga na boca, faltando um mês para ganhar neném, e estávamos em Santos, fazendo frete”, narra.
Com toda bagagem e à frente da sua época, Deuzenira afirma que para ela, ninguém chegou para dizer estas piadinhas de mau gosto de que, mulher é ruim de volante. “Já ouvi estas coisas de gente que não me conhece, quando passava em algum lugar com o caminhão, de vez em quando, ouvia alguém lá de fora falar algo. Nunca me abalou. Eu já rodei muito, puxei muito frete. Sempre gostei da minha profissão, de ser caminhoneira, tenho orgulho do meu trabalho”, fala.
Já seu Menegussi, lembra de um fato sobre a mulher no caminhão. “Um dia ela foi fazer um frete para a Bahia Sul e, chegando lá na porteira, não deixaram ela entrar, porque era mulher. O Hervécio Secchim estava carregando lá também e, explicou a eles que, podia deixar ela passar, e aí deixaram. Minha mulher dirige muito melhor que muito amigo meu”, fala aos risos, e todo orgulhoso, seu Menegussi.
Estando os dois já aposentados e com um caminhão modelo 2023, seu Menegussi ainda continua na ativa e, relata que está aguardando um frete para pegar a estrada. Já a esposa, parou tem uns oito anos e agora, prefere estar nos fazeres de casa, e cuidar dos pais que já são idosos, além, de paparicar os netos, o André, o Henrique, o Francisco e a Lívia.
O início da vida na estrada
Filho do seu Pedro Menegussi Sobrinho e da dona Aurora Passini Menegussi, de acordo com seu Menegussi, tudo começou em 1971, quando a família morava no interior de Nova Venécia, no Córrego das Flores e o pai comprou o primeiro caminhão, um LP 321, com ano de fabricação de 1963. Ele, aos 21 anos, assumiu o volante e lá foi o rapaz transportar madeira. O irmão, José Moacir, era quem serrava e cortava as árvores, o outro irmão, o Antônio Acássio, dava uma ajuda no volante e carregava o caminhão, e o outro irmão, o Luiz Roberto, era o carreiro, que era quem ficava na responsabilidade com os bois, que fazia o transporte da madeira entre a mata, ate o caminhão. Um dos lugares que eles entregavam a madeira era para seu Caetano Masarin (In Memória).
Já entre os anos de 1976 e 1979, o pai parou com a carga de madeira e começou no leite, com frete para Vila Pavão, Todos os Santos, Córrego Grande e outras localidades, para trazer leite para a Veneza, e era o João Menegussi quem ficava no volante. “Em 1971 meu pai parou de mexer com caminhão e eu, iniciei meu trabalho de empregado para o seu Alvino e Jeremias Klipel. Voltei a transportar madeira para esse mundão afora. Mas, em 1984, meu pai comprou de novo um caminhão e voltei a trabalhar para ele, carregava frete em geral, leite, farinha, café Tinha a extinta Spam na época, fiz muito frete para eles, depois em 1987, foi a vez de transportar madeira de novo, e foi quando comprei o primeiro caminhão meu e da minha esposa, era o modelo 13 13”, fala.
E era a época em que o casal viajava junto, na estrada, passavam oito dias ou mais. “Eu lavava as fraldas das crianças, tenho o varal até hoje, eles tomavam mamadeira, com um ano de idade já iam com a gente. Tinha uma rede onde um dormia dentro do caminhão e o outro, perto do sofá. Já fiz frete sozinha também, para Bahia, Vitória”, narra.
Ele, com 53 anos de caminhão e ela com mais tempo de volante do que de carteira, os dois somam juntos uma vida na estrada e narram com orgulho, nunca terem sofrido um acidente fazendo frete. “Eu nunca tive uma multa dirigindo, tenho prudência, e gosto da minha profissão”, fala Deuzenira. E seu Menegussi: O caminhão é minha vida. Sempre dormi dentro dele na estrada, nenhum hotel mais chique do mundo me faz dormir lá, eu gosto é do caminhão”, conta.
Hoje, o casal tem um caminhão na garagem, que está pronto para frete, assim que seu Menegussi for requisitado. “Rondônia, Pará, Foz do Iguaçu, Recife, Goiânia, Bahia são lugares que estivemos, tem outros mais. E as crianças adoravam ir para estrada com a gente. Um dos meus incentivadores também, além da minha família e Deus, foi o Henrique Seibel. Ele me deu muitos conselhos de como administrar o caminhão, de como dirigir, de não ultrapassar de forma indevida, não correr, de andar correto”, explica seu Menegussi.
Com uma história de desafios e crescimento, a Rede Notícia aproveita a história deste casal de veneciano para parabenizar todos os motoristas, afinal, não são todos os dias que temos para contar a história de homem, que orgulha-se de, ter feito a esposa quebrar barreiras e torna-se caminhoneira igual a ele.