O médico Antônio Calvão, seu filho e também médico, Antônio Calvão Neto e a esposa dele, piscóloga Vera Krüeger Calvão e o arquiteto Júnior Borém, do lado de cá da divisa entre o leste de Minas Gerais e o noroeste do Espírito Santo, são apenas alguns dos muitos cruzeirenses radicados em Barra de São Francisco.
Na vizinha Mantena, como é tradicional em Minas Gerais, “todo mundo” é Raposa ou é Galo, Cruzeiro ou Atlético Mineiro, uma rivalidade que remonta a dois de janeiro de 1921, quando era fundado um gigante do futebol brasileiro, o Cruzeiro Esporte Clube.
No dia de sua criação, um grupo de imigrantes italianos se reuniu para criar uma equipe de futebol. Daquele encontro surgia a Societá Sportiva Palestra Italia, que teve como primeiro presidente Aurélio Noce. O time rapidamente foi obtendo êxitos, tendo alcançado o tricampeonato mineiro em 1928, 1929 e 1930.
Somente em 1942 o clube passou a se chamar Cruzeiro Esporte Clube, devido à participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A entrada do país no conflito internacional ao lado dos Aliados ocasionou a proibição de qualquer termo associado à Itália, comandada então pelo ditador fascista, Mussolini.
Após 100 anos de existência, o clube mineiro acumula glórias em campo dignas de um gigante. No Campeonato Mineiro, obteve 38 conquistas ao longo da história. Na Copa do Brasil, com seis títulos, é o maior vencedor da competição. A Raposa também mostrou força no Campeonato Brasileiro ao logo dos anos, com quatro taças obtidas pela equipe celeste no total: 1966 (Taça Brasil), 2003, além do bicampeonato em 2013 e 2014.
A Copa Libertadores da América, atualmente a mais importante competição Sul-Americana, foi comemorada em duas oportunidades pelos cruzeirenses, em 1976 e 1997. No ano seguinte, em 1998, a Recopa também foi parar na sala de troféus do clube mineiro.
Em 2019, o Cruzeiro se deparou com o maior tropeço de sua honrosa história e amargou o primeiro rebaixamento no Campeonato Brasileiro. No ano do seu centenário, o clube tem chance remota de disputar a primeira divisão em 2021. Mas, apesar do momento delicado que vive, tanto nos gramados quanto financeiramente e administrativamente, a trajetória da Raposa é imortal, como diz o hino:
“…Nos gramados de Minas Gerais
Temos páginas heróicas e imortais
Cruzeiro, Cruzeiro querido
Tão combatido, jamais vencido…”
Entre os grandes jogadores que fizeram história no clube, temos: Tostão, Dirceu Lopes, Niginho, Piazza, Natal, Nelinho, Raul Plassmann, Fábio, Sorín, Ricardinho, Alex e Fred. Parabéns, Cruzeiro.

Rivalidade com o Galo
O ano do centenário do Cruzeiro também vai representar o aniversário de 100 anos do principal clássico mineiro: o duelo contra o Atlético-MG. A história dos dois clubes ganhou, logo nas primeiras décadas, grande rivalidade.
No especial de 100 anos do Cruzeiro, relembramos grandes vitórias e conquistas do clube azul e branco em cima do maior rival.
Primeiro Clássico – Foi de vitória do então Palestra Itália. Num amistoso em 17 de abril de 1921, no estádio do Prado Mineiro. Atílio marcou os dois primeiros gols da vitória. Nani – que marcou os dois primeiros gols da história do Cruzeiro na vitória sobre o combinado de Nova Lima – fez o terceiro. A partida também valeu medalha.
Primeiro título com goleada – A primeira conquista sobre o maior rival foi em 1929, na campanha do primeiro tricampeonato mineiro. A goleada por 5 a 2 ocorreu no estádio Barro Preto, e o time foi campeão da Cidade com uma rodada de antecedência. Foram dois gols de Ninão, um de Armandinho, outro de Bengala e um contra de Binga.

A primeira final e quebra de jejum – Foi pelo Campeonato da Cidade de 1940. Com clubes em crise, apenas Atlético e Cruzeiro permaneceram até o fim da competição. Em assembleia, os clubes decidiram por uma melhor de três jogos. Comandado por Niginho, o time conquistou o título.
O Cruzeiro venceu a ida por 3 a 1, no estádio de Lourdes. Marcaram Alcides e Niginho (duas vezes). Na volta, no Barro Preto, havia expectativa do título. Mas o Atlético surpreendeu e venceu por 2 a 1. O terceiro jogo foi no estádio da Alameda (campo do América). Com gols de Alcides e Niginho, o Cruzeiro venceu por 2 a 1 e encerrou o jejum de 10 anos sem título estadual.
Primeiro clássico no Mineiro e reação histórica – O Cruzeiro venceu o primeiro encontro entre os rivais no Mineirão, inaugurado em 1965. A vitória foi por 1 a 0, pelo Campeonato Mineiro, foi com gol de Tostão. Relembre essa história aqui.
Em 1967, o Cruzeiro consegue uma das maiores reações em clássicos. Jogando com um a menos desde o primeiro tempo (Procópio foi expulso) e com Tostão machucado logo no início, a Raposa levou três gols do Atlético. Mas, mesmo em desvantagem numérica, reagiu com dois gols de Natal e um de Piazza, e empatou o jogo por 3 a 3.
A grande reação significou sobrevida ao Cruzeiro no Estadual, impedindo o título antecipado do rival. A decisão foi para uma melhor de três jogos, já em 1968, mas o Cruzeiro levou o título com duas vitórias no Mineirão: 3 a 1 e 3 a 0.

A presença de Revétria – Com um time considerado inferior ao rival, uma semana após a perda do título da Libertadores, o Cruzeiro chegou à final de 1977 do Campeonato Mineiro diante do Atlético-MG. Perdeu o primeiro jogo por 1 a 0. Mas contando com a estrela do uruguaio Revétria, o time virou a decisão.
No segundo jogo, o atacante marcou os três gols da vitória por 3 a 2. Na terceira e derradeira partida, a Raposa empatou por 1 a 1 no tempo normal, com gol de Revétria, mas venceu na prorrogação com gols de Lívio e Joãozinho. Foi o décimo título do Cruzeiro na era Mineirão.
Água no chope – Campeão mineiro antecipado, na campanha do hexacampeonato, o Atlético-MG chegou à última rodada de 1983 para o jogo da festa contra o Cruzeiro. Mas a Raposa estragou a alegria atleticana ao golear por 4 a 1 no clássico. Foi um jogo de cinco expulsos. Para o Cruzeiro, marcaram Carlos Alberto Seixa (dois), Carlinhos Sabiá (um) e Ademar.
No ano seguinte, o Cruzeiro venceu a primeira partida da final por 4 a 0, com gols de Carlinhos Sabiá (duas vezes), Tostão II e Carlos Alberto Seixas. O Cruzeiro garantiu o título, mesmo com a derrota na volta. Mas o Atlético entrou na Justiça, contestando o regulamento – previa o título atleticano com dois resultados iguais. A conquista cruzeirense só foi homologada em 1990.
Vira e desvira, e Foquinha – Num dos grandes clássicos da história, o Cruzeiro vinha em 2007 com um amargo 4 a 0 sofrido no Mineiro. No Brasileiro, mostrou poder de reação. Abriu 2 a 0 com Roni, levou a virada do Atlético-MG. Mas conseguiu reagir com a estrela de Guilherme, que marcou os outros dois. Ainda teve tempo da “Foquinha” de Kerlon, que causou a ira dos jogadores atleticanos.
Em 2007, Cruzeiro bate o Atlético-MG por 4 a 3 – No primeiro turno, antes, outro jogo emocionante no clássico. O Cruzeiro abriu 2 a 0, o Atlético buscou o empate. Teve a chance de virar, mas Gatti defendeu o pênalti de Marcinho. A vitória cruzeirense foi garantida com gols de Guilherme e Ramires.
Veja os gols
Em 2009, no primeiro jogo da final do Mineiro, Cruzeiro goleia por 5 a 0 o Atlético-MG
Duplo 5 a 0 – Comandado por Adilson Batista, o Cruzeiro aplicou em dois anos seguidos goleadas por 5 a 0 na primeira final do Campeonato Mineiro, garantindo praticamente as conquistas estaduais. Em 2008, os gols foram marcados por Marcelo Moreno, Ramires, Wagner, Guilherme e Marcos (contra). No ano seguinte, Kléber, Leonardo Silva (duas vezes) e Jonathan (duas vezes).
6 x 1 histórico – Dois anos depois, o Cruzeiro passaria por uma situação extremamente complicada. Na última rodada, somente com clássicos, o time precisava vencer o rival para escapar do rebaixamento. Na Arena do Jacaré, somente com a torcida cruzeirense, o time goleou por 6 a 1 – a maior efetuada sobre o Atlético-MG.
Roger, Leandro Guerreiro, Anselmo Ramon, Fabrício, Wellington Paulista e Everton marcaram os seis gols da histórica goleada em Sete Lagoas.
Vitória no novo Mineirão e faixa carimbada – Reformado para a Copa do Mundo de 2014, o Mineirão foi remodelado e inaugurado em 2013. O clássico foi antecipado para a estreia das duas equipes. E o Cruzeiro venceu por 2 a 1, com gols de Marcos Rocha (contra) e Dagoberto. Abriria o ano da conquista do tricampeonato brasileiro. (Weber Andrade com ge e Agência Brasil)
Números considerados pelos dois clubes
Atlético
515 jogos
218 vitórias
137 empates
170 derrotas
Cruzeiro
497 jogos
169 vitórias
133 empates
194 derrotas