Nas últimas semanas, uma das grandes notícias para o GP da Itália era o banimento do “modo festa”, aquele modo extremo de mapeamento dos motores que permitia que os carros usassem toda a potência deles por um curto período nas classificações. Acreditava-se que, com essa medida da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a vantagem da Mercedes em volta lançada diminuiria. Ledo engano: assistimos a mais um show das Panteras Negras neste sábado em Monza. E, para variar, com mais uma pole de Lewis Hamilton, a 94ª da carreira. E com direito à volta mais rápida da história da Fórmula 1, com uma média horária de 264,362 km/h. Desempenho absurdo.
A largada do GP da Itália será às 10h10 (de Brasília) com transmissão da TV Globo e do ge. A narração será de Cleber Machado, com comentários de Luciano Burti e reportagens de Mariana Becker.
A volta de classificação é a condição do automobilismo onde dá para avaliar de forma mais precisa o talento natural de cada piloto. E Hamilton é um especialista: a última tentativa dele na classificação deste sábado em Monza é uma obra de arte: perfeição ao extremo. Ele foi o mais rápido nos dois primeiros setores da volta e só não foi o melhor no último por um detalhe. Resultado: 1m18s887, recorde extraoficial do circuito de Monza, 69 milésimos à frente do companheiro Valtteri Bottas.
Bottas, aliás, é quem mais sofre com essa concorrência desleal dentro da Mercedes. Ele é um piloto muito rápido e demonstrou isso neste fim de semana, sempre andando próximo ou na frente de Hamilton. Mas na hora da decisão, a genialidade do inglês acaba se sobressaindo. Mesmo extraindo tudo do carro, o finlandês acaba sempre atrás do inglês por distâncias ínfimas. É isso que separa um fora de série de um bom piloto: a capacidade de tirar um coelho da cartola sempre que exigido. Hamilton faz isso na maior parte do tempo e com facilidade impressionante.
E para a corrida? Para tentar bater Hamilton, a maior chance de Bottas está na largada. São longos 620 metros entre a pole position e a primeira curva. Com uma boa saída, o finlandês pode tentar pegar o vácuo do inglês e tentar a manobra na freada para a Variante del Rettifilo. Outra chance seria logo depois da Curva Grande, na freada para a Variante della Roggia. Se Bottas não conseguir ameaçar Hamilton, a vitória fica nas mãos do hexacampeão, já que Monza não permite tantas variações táticas como outras pistas. É prova para um pit stop. O finlandês, para se manter vivo na prova e no campeonato, precisa atacar.
Valtteri Bottas conversa com Lewis Hamilton após a classificação do GP da Itália — Foto: Jenifer Lorenzini – Pool/Getty Images
Depois da Mercedes, muito equilíbrio. O terceiro e o décimo no grid ficaram separados por apenas 482 milésimos. Para se ter uma ideia, a vantagem do pole Hamilton para o primeiro carro não-Mercedes ficou em 0s877 – quase o dobro. Quem se deu melhor nessa acirrada briga na classificação foi Carlos Sainz, da McLaren. Sem pegar vácuo, o espanhol cravou uma volta excepcional no Q3 e superou Sergio Pérez, da Racing Point, quarto colocado, por 0s025. Max Verstappen, normalmente atrás apenas da Mercedes, teve de se contentar com a quinta posição, uma à frente do inglês Lando Norris. Daniel Ricciardo (7º), Lance Stroll (8º), Alexander Albon (9º) e Pierre Gasly (10º) fecharam a lista dos dez primeiros colocados no grid. Mesmo eliminados do Q3, Daniil Kvyat (11º) e Esteban Ocon (12º) têm boas chances na corrida, já que vão poder escolher o tipo de pneus para a largada. Da decepção à esperança.
E a Ferrari, hein? Mais uma vez a grande decepção pelo segundo fim de semana. Já expliquei aqui no Voando Baixo o motivo dos problemas dos motores italianos (clique e leia) após a sigilosa investigação da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Fato é que a equipe teve uma queda vertiginosa de desempenho e ficou, pela segundo corrida seguida, fora dos dez primeiros no grid de largada – algo que não acontecia desde os GPs da Austrália e da Malásia de 2005, há mais de 15 anos. Para piorar: a Ferrari ficou fora do top 10 com os dois carros pela primeira vez desde 1984 em Monza. Panorama desolador.
Com isso, Charles Leclerc vai sair apenas na 13ª posição e Sebastian Vettel na 17ª. Para piorar: dos últimos oito carros no grid de largada, seis tinham motores Ferrari, mostrando a deficiência de potência deles. Ferrari, Alfa Romeo e Haas só conseguiram se classificar à frente da dupla da Williams, que terá George Russell em 19º e Nicholas Latifi em 20º. Muito pouco. Apesar disso, Louis Camilleri, CEO da fábrica italiana, disse que não pensa em demitir Mattia Binotto, chefe da equipe. Parece aquela clássica entrevista de presidente de clube de futebol que deixa o técnico “prestigiado”, mas tudo muda no primeiro resultado negativo. A conferir. Fato é que o 2020 da Ferrari até agora é patético. (ge)