O governador Renato Casagrande publicou hoje, 26, no Diário Oficial do Estado (DIO) a lei nº 11.205/20, de autoria do deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD), que denomina o trecho da ES-341, que liga a ES-080, na localidade de Ângelo Frechiani, à ES-164, no município de Pancas.
A homenagem a Edson Machado, de acordo com o deputado Enivaldo dos Anjos, fez justiça a um dos políticos mais importantes da história daquele município e do Espírito Santo. Edson Machado foi deputado estadual por vários mandatos e chegou à presidência da Assembleia Legislativa (Ales) em 1979, quando convidou Enivaldo para ser seu chefe de Gabinete.
Segundo informações obtidas pela nossa reportagem, Edson Machado teria sido o principal responsável pelo início da carreira política do francisquense Enivaldo dos Anjos, depois de ter recebido uma votação expressiva em Barra de São Francisco, no final da década de 70, apoiado pelo francisquense.
A amizade dos dois teve início nesta época e, depois Enivaldo elegeu-se deputado estadual pela primeira vez, já nos anos 80, com apoio do colega. Para Enivaldo, a sanção e publicação da lei faz jus à história “desta importante personalidade pública do Estado do Espírito Santo, responsável pela implantação do município de Pancas.”
De acordo com jornalista Maria Nilce, em artigo publicado no jornal/site morrodomoreno.com, em 2013, o município de Pancas “foi – praticamente – uma conquista pessoal dele, pela qual lutou com corajosa obstinação e de onde nunca mais se afastou.”
“Embora eleito deputado estadual, desfrutando a condição de presidente do Legislativo do Estado, ele continua residindo em Pancas, para onde se desloca todos os fins de semana, ansioso de rever sua esposa Eleonor e seus três filhos: Ana Carla, Júlio e Nara. E um reencontro sempre festivo considerando-se que Edson Machado tem o privilégio de ser casado com a única mulher que amou, que viu nascer e desabrochar como uma flor, marcando o amor de ambos com profundas e indestrutíveis raízes”, descreve a matéria.
Edson Machado, segundo a historiadora, nasceu em Caratinga, (MG), no dia 13 de janeiro de 1929, tendo cursado as primeiras letras lá mesmo, após o que enfrentou os bancos do colégio Americano, em Vitória, onde completou seu curso secundário, formando-se em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Quando fala de seu passado, costuma dizer que tendo deixado Caratinga, sua cidade natal com 10 anos de idade, somente depois dos 17 anos as coisas começaram realmente a acontecer em sua vida.
O velho Anastácio, seu pai, mudou-se com a família em 1939 para Pancas, trazendo com ele seus filhos: Eva e Edson, nascendo em Pancas os demais: Edna, Eder, Sebastião Carlos e Heloísa.
“O ano de 1946 foi decisivo para a vida da família de Edson Machado. O caminhão surgiu para competir com as tropas de burros obrigando Anastácio Machado a penetrar pelo interior de Pancas indo parar no distrito de Alto Rio Novo. Pancas não tinha Ginásio e Edson Machado viu-se, durante sete prolongados anos forçado a abandonar os estudos. Todavia, seu destino estava ligado a Pancas e, a convite do Sr. José Nunes Miranda, ele ingressou na vida profissional como boy no início de 1946. Foi um começo bastante humilde e modesto, mas assegurou o que mais desejava na vida: permanecer em Pancas.”
A lei de Organização Municipal em 1948, estabelecia que os municípios só poderiam ser criados nos anos de milésimo 3 e 8. Edson Machado sentiu crepitar a sua vocação para a liderança política. Sentia que o destino arrastava-o para a luta pela criação do município de Pancas.
Embora ainda menor de idade, não sendo eleitor, a candidatura de Carlos Fernando Monteiro Lindemberg ao Governo, surgia como uma oportunidade para a concreta tentativa. Ele e seus amigos partiram para a atividade paralela à política oficial, pregando e defendendo a criação de Pancas, transformando o que se julgava um sonho, numa bandeira desfraldada aos ventos do idealismo obstinado.
Para garantir os votos de Pancas, Carlos Lindemberg prometeu ao tabelião e vereador José Nunes de Miranda, chefe político local, num telegrama de compromisso que criaria o Município de Pancas. A palavra do Governador não foi, todavia, cumprida. Alegou Carlos Lindemberg que o então deputado por Colatina, Moacyr Brottas havia impedido a Assembléia Estadual de votar a Lei, descumprindo assim sua palavra. Irritados, Edson Machado, e todo o seu grupo deixou o PSD e ingressaram na oposição.
Em 1950 o responsável pela não criação de Pancas o já citado Moacyr Brottas candidatou-se a Prefeito de Colatina. Edson Machado teve, então sua oportunidade de revanche. Veio para as ruas comandar a luta contra a candidatura de Brottas e, de tal sorte sensibilizou a opinião pública, que Justiniano de Mello e Silva Netto, opositor de Moacyr derrotou-o com a ajuda da quase totalidade de votos de Pancas.
A conspiração contra a criação de Pancas continuava. Justiniano que assumira o compromisso de trabalhar pela criação do município, em 1953 licenciou-se da Prefeitura para que assumisse o presidente da Câmara Municipal, o então vereador Raul Giuberti, que não tinha nenhum compromisso com os defensores da criação de Pancas. Raul Giuberti sentiu-se à vontade para frustrar mais esta tentativa de criar o município de Pancas, porque a Lei 65 estabelecia que a criação de qualquer Município dependia da aprovação da Câmara Municipal onde ele tinha maioria.
A roda política continuava movendo-se. O ano de 1954 começou a agitar a estrutura eleitoral do Espírito Santo. Travava-se naquele momento histórico uma luta de vida ou morte entre os partidos de oposição e a ainda não vencida oligarquia pessedista.
Moacyr Brottas ressurge em Pancas e em plena rua, num comício, faz juramento de que haveria de fazer daquele distrito um Município. Ele enfrentaria nas urnas naquele ano, o mesmo Raul Giuberti que igualmente tinha negado a Pancas a sua emancipação, ambos disputavam a Prefeitura de Colatina.
O juramento de Moacyr foi inútil. O resultado foi adverso não somente para ele, mas também para todo o PSD, elegendo-se Raul Giuberti prefeito de Colatina e o Francisco Lacerda de Aguiar, governador.
Já oficialmente político, Edson Machado, o batalhador incansável pela criação de Pancas, retorna ao PSD e se candidata a vereador no pleito em que Moacyr Brottas em 1958 insiste com sua candidatura contra o mesmo Justiniano de Mello e Silva Netto que em 1950 o tinha fragorosamente derrotado. Pancas não perdoa a traição de Justiniano e vota em Moacyr. Edson Machado elege-se primeiro suplente de vereador. Começa então a sua agitada vida política partidária.
Convidado por Moacyr Brottas para ser diretor da Fazenda em Colatina, ele aceitava visando defender a emancipação de Pancas. Havia o compromisso oficial do prefeito em atender a antiga reivindicação dos moradores do referido distrito e, na Câmara, quatro vereadores eleitos por São Gabriel da Palha pretendiam o mesmo. Moacyr Brottas sugere ao Legislativo Municipal a emancipação de ambos os distritos. Edson Machado sentiu pela primeira vez o sabor da vitória alcançada com tanto sacrifício.
De Colatina, ele viria para o cenário político do Estado, em Vitória, eleito deputado estadual em 1962, quando já advogava em Colatina onde possuía uma das maiores atuantes bancas de advocacia.
Não tendo conseguido eleger-se novamente deputado em 1970, Edson Machado, acusado de defender o Esquadrão da Morte, retornou ao Ministério Público, em cujos quadros havia ingressado, em 1964 por concurso público. Foi exercer a função de Promotor Público em Barra de São Francisco, onde permaneceu de 1970 a 1974.
Tendo deixado a vida de solteiro em 1969, casando-se no dia 19 de julho com Eleonor Borgo Cypriano filha de tradicional família de Pancas, realizou-se plenamente na sua vida familiar, ganhando novas forças para em 1974 voltar como deputado estadual ao palco da Assembleia Legislativa.
Para Edson Machado, tudo que se relaciona a sua vida está intimamente ligado a Pancas. Tanto que não esconde que em 1970 no Governo Christiano Dias Lopes Filho, com a ajuda do seu colega Moacyr Dallas, então deputado estadual, insistiu na instalação das Comarcas de Pancas e São Gabriel da Palha, cuja providência dependia da boa vontade do Desembargador Vicente Vasconcellos, presidente do Tribunal de Justiça do Estado. Para o Tribunal com base em parecer do Corregedor Desembargador Christiano de Abreu Castro, que alegava existir nas duas Comarcas ainda não instaladas apenas vinte e cinco processos ao todo, o que não justificava os gastos, não deveria ser considerado.
Inconformado, Edson Machado, numa manhã do mês de outubro de 1970, dirigiu-se ao 38° BI e fez uma exposição de motivos ao então comandante Vinícius Cunha. O militar ciente da questão e pronto a atender aos anseios do povo de Pancas e São Gabriel da Palha telefonou ao desembargador Vicente Vasconcellos, tendo falado com o juiz João Batista Celestino por não se achar no momento o referido Presidente do Tribunal de Justiça.
O diálogo posterior entre o coronel Vinícius e o desembargador Vasconcellos foi decisivo para a criação das duas Comarcas. O comandante do 38° BI afirmou ao presidente do Tribunal de Justiça que visitando o interior do Estado, verificou que as populações de Pancas e São Gabriel da Palha estavam necessitadas da presença mais próxima da Justiça, através de queixas e solicitações do povo feitas ao Comandante Militar por ele representado, carentes de maior apoio da justiça e regiões tão distantes.
Edson Machado acabava de ganhar mais uma batalha em favor de Pancas e beneficiando também São Gabriel da Palha, pois saiu do 38° BI com a definição do problema. As Comarcas dos dois municípios foram – afinal – instaladas, tendo sido primeiro juiz de Pancas, o Dr. Paulo Copolilo. Além da criação destas duas Comarcas, Edson Machado conseguiu a instalação da Comarca de Montanha.
Tendo sido líder do Governo até 1978, foi eleito Presidente da Assembleia Legislativa Estadual em 1979. Nesta condição, seu faro de administrador nato a realizador, levou-o à convicção do precário estado de funcionamento do Legislativo, nas dependências do atual Palácio Domingos Martins. Edson Machado partiu para um projeto arrojado. Convidou Oscar Niemeyer, criador do Congresso Nacional, em Brasília, para projetar a sede definitiva da Assembléia, no aterro da Comdusa.
Como pessoa, Edson Machado considera-se realizado, achando ser um dos poucos homens que tiveram o privilégio de construir uma cidade, conviver com seu povo em harmonia e morar nela: Pancas! (Weber Andrade com site/jornal morrodomoreno.com)
Fonte: Personalidades do Espírito Santo, 1980
Autor: Maria Nilce
Compilação: Walter de Aguiar filho, setembro de 2013