Pelo menos duas vezes por semana, dezenas de pessoas, em sua maioria idosas, saem de suas casas em Barra de São Francisco, ainda de madrugada, e pegam um ônibus da Secretaria Municipal de Saúde (Semas) para se dirigirem a um Centro de Hemodiálise em Colatina ou São Mateus. Além deles, pessoas como o advogado Evaldo Oliveira também que se deslocar do município durante a semana para fazer a limpeza renal através de máquinas.
Segundo dados da SBN, há 850 milhões de pessoas no mundo com algum tipo de doença renal. No Espírito Santo, em levantamento realizado em 2018 pela Sesa, contabilizou-se que 2,3 mil capixabas fazem diálise devido à Doença Renal Crônica (DRC), uma das formas de doenças renais mais comuns entre os brasileiros e que causa a insuficiência dos rins. Só na região noroeste capixaba são cerca de 150 doentes renais crônicos.
Nesta quinta-feira, 14 foi comemorado o Dia Mundial do Rim, mas em Barra de São Francisco, os deficientes renais crônicos têm pouco a comemorar. Apesar da assistência pontual da Semas, eles anseiam por uma central de hemodiálise na cidade.
O projeto de implantação do centro teve até divulgação na mídia, há cerca de um ano, quando o deputado estadual Enivaldo dos Anjos, esteve visitando o prédio abandonado do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), no bairro Nova Barra (Vaquejada). O local está abandonado desde a gestão anterior, que recebeu a obra federal mas não cuidou para que a mesma começasse a funcionar, deixando o imóvel ser destruído pelo vandalismo.
“É muito sofrimento para essas pessoas que se deslocam desta região para fazer hemodiálise tão longe, tendo, inclusive que viajar cerca de 140 a 250 quilômetros de carro ou de ônibus”, disse Enivaldo dos Anjos.
“Estamos lutando com todas as nossas forças junto ao Governo do Estado, no sentido de implantar esta Clínica de Hemodiálise em Barra de São Francisco, para dar dignidade e respeito a essas pessoas”, pontuou.
Hoje, tentamos contato com o deputado estadual para ver como está o andamento da demanda, mas ele estava em reunião. Sua assessoria, no entanto, disse que o deputado vem se esforçando para conseguir trazer o centro de hemodiálise para a região.
Dia Mundial do Rim – A data é celebrada sempre na segunda quinta-feira do mês de março e, em 2019, a campanha coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) teve a temática “Saúde dos Rins para todos”, cujo objetivo é ampliar o debate da saúde em relação às doenças renais.
“A doença renal não é muito debatida e se faz importante esse processo de conscientização. Muitos a estereotipam, achando que só acomete pessoas mais velhas, mas pode atingir quaisquer faixas etárias. Além disso, é uma doença que muitas vezes somente se manifesta clinicamente em estágios mais avançados”, alerta o médico referência técnica em nefrologia da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Rodrigo Klein.
A SBN aponta também para a crescente taxa de mortalidade recorrente à Doença Renal Crônica, que contabiliza aproximadamente 2,4 milhões de óbitos por ano no mundo. O Brasil também apresenta dados preocupantes. “Em um estudo recente, o número estimado de óbito de pacientes em diálise no ano de 2016 foi de 22.337, correspondendo a uma taxa de mortalidade bruta de 18,2% durante o ano. No Espírito Santo, estima-se que podem vir a falecer pouco mais de 400 capixabas por DRC em um ano” aponta o especialista.
Fatores de riscos e sinais da doença
O estilo de vida moderno e acelerado tem ligação direta com os fatores de riscos que podem desenvolver a Doença Renal Crônica (DRC). A obesidade, a hipertensão, o tabagismo, o diabetes e o uso contínuo de medicamentos nefrotóxicos são alguns desses.
“Por ser uma doença que não tem cura, deve-se focar em controlar os fatores de risco modificáveis e os fatores de progressão da DRC. Ficar atento, por exemplo, ao uso contínuo de remédios que possam causar efeito colateral nos rins, como os anti-inflamatórios”, alerta Rodrigo.
O médico atenta também aos sinais e sintomas que o paciente com DRC pode apresentar, como pressão alta, perda de peso, coloração mais pálida na pele devido à anemia, indisposição e diminuição na quantidade da urina, por exemplo.
“Nos estágios iniciais da DRC, o paciente geralmente tem poucos sintomas e só é possível detectar através do exame de sangue e de urina. Por se tratar de uma doença que se manifesta tardiamente, já nos estágios 4 e 5, é importante fazer exames periódicos, principalmente se o paciente estiver no grupo de risco, isto é, se tem pressão alta, diabetes, idade avançada ou é fumante, por exemplo”, explica.
Tratamentos e medicamentos na Rede Estadual
No Espírito Santo são ofertados 18 serviços de Terapia Renal Substitutiva para o tratamento daqueles que sofrem de Doença Renal Crônica (DRC). Os serviços, segundo Rodrigo Klein, são privados, filantrópicos e possuem contratos com a Secretária de Estado da Saúde.
“Dos 2,3 mil capixabas em diálise, 83% são reembolsados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para os pacientes com estágios pré-dialíticos de DRC, o SUS oferece tratamento clínico conservador com remédios, modificações na dieta e estilo de vida. Aos pacientes com Doença Renal em Fase Terminal (DRFT), o último estágio de evolução da DRC, quando geralmente é necessário algum tipo de terapia renal substitutiva, são ofertados a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal”, informa.
Nas Farmácias Cidadãs de todo o Estado são disponibilizados 17 medicamentos, todos de alto custo e boa parte indisponível em farmácias comuns, para o controle das complicações relacionadas à DRC, como anemia, ferropenia e doença óssea, por exemplo. Em 2018, foram registrados 622 pacientes ativos com doenças renais no cadastro nas 10 unidades de Farmácias Cidadãs.
Segundo Gabrieli Freitas, gerente de Assistência Farmacêutica da Sesa, o tratamento para o paciente renal crônico é complexo e requer acompanhamento contínuo, rigoroso e com equipe multidisciplinar: “Através das Farmácias Cidadãs Estaduais, os pacientes com esta patologia não só conseguem acesso a medicações de alto custo, mas também são acompanhados pelos farmacêuticos. Desta forma, é possível orientar e tirar as dúvidas frequentes dos pacientes, melhorando a eficiência do tratamento e estimulando-os a praticarem o autocuidado”, orienta. (Weber Andrade com Secom/ES)