Por Weber Andrade*
“Ai que vontade de gritar, (uuuh), teu nome bem alto no infinito, dizer que meu amor é grande, bem maior do que meu próprio grito. Mas só falo bem baixinho, e não conto pra ninguém, pra ninguém saber seu nome, eu digo só, meu bem.” O verso final da canção Meu Grito, composição de Roberto Carlos, eternizada na voz do mineiro de Caratinga, no Vale do Rio Doce, Agnaldo Timóteo, está na minha memória desde a mais tenra idade.
Massó tive oportunidade de vê-lo cantar diante de mim, uma vez, já aos 33 anos, em Governador Valadares (MG) em 1995. Levou-me às lágrimas, na despedida do patrão e amigo Pedro Iwandir de Tassis, no Cemitério Santo Antônio, no centro da cidade.
Amigo de Pedro Tassis, que era empresário e político na Princesa do Vale, Agnaldo Timóteo cantou outra canção de Roberto Carlos, muito apreciada pelo amigo que morrera vítima da leucemia: Nossa Senhora. E levou uma multidão às lágrimas.
Na noite deste sábado, 3, Agnaldo Timóteo, 84 anos, finalmente desencarnou, vítima da Covid-19, e foi ao encontro de Nossa Senhora. Ele estava hospitalizado desde o dia 17 de março, no Rio de Janeiro. A notícia foi confirmada em nota publicada pela família do artista.
Nossa Senhora
“É com imenso pesar que comunicamos o falecimento do nosso querido e amado Agnaldo Timóteo. Agnaldo Timóteo não resistiu às complicações decorrentes da covid-19 e faleceu hoje às 10h45. Temos a convicção que de Timóteo deu o seu melhor para vencer essa batalha e a venceu. Agnaldo Timóteo viverá eternamente em nossos corações”, disse a família.
O corpo do cantor será sepultado na tarde deste domingo, 4, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio. Devido às restrições impostas pela pandemia de coronavírus, não haverá velório nem sepultamento aberto aos fãs, com apenas poucos parentes participando da despedida ao artista.
Mineiro de Caratinga, ele foi ainda jovem para o Rio em busca de oportunidades, onde foi ajudado pela cantora Angela Maria, tendo gravado o seu primeiro disco em 1961, aos 25 anos de idade.
Dono de uma voz potente, sua carreira foi se fortalecendo, até estourar nas paradas em 1967, com o disco Obrigado Querida, com a canção Meu Grito, de Roberto Carlos, ficando em primeiro lugar nas principais rádios do país. O disco veio ainda com dois grandes sucessos da sua carreira: Mamãe Estou Tão Feliz” (Mamma) e Os Verdes Campos da Minha Terra. Segundo o próprio Agnaldo, Meu Grito consolidou a sua carreira.
Sua popularidade era baseada em um repertório romântico e na potência vocal. Tinha público cativo em todo o país, fazendo shows que lotavam os auditórios com seus fãs.
Gravou 64 discos em sua carreira. Em janeiro deste ano, comandou uma apresentação beneficente pela internet aos pés do Cristo Redentor, uma de suas últimas aparições públicas. Era torcedor fanático do Botafogo, clube que divulgou nota lamentando sua morte.
Política
O cantor também trilhou o caminho político. Em 1982, foi eleito deputado federal pelo PDT no Rio de Janeiro, com mais de 500 mil votos. Depois, ingressou no extinto PDS, cumprindo o restante de seu mandato. Ele se candidatou ao governo do Rio, em 1990, sendo derrotado. Em 1993 transferiu-se para o extinto PPR. Voltou à Câmara Federal em 1995. Em 1997, concorreu a uma cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pelo extinto PPB, alcançando a maior votação do partido.
Tentou a reeleição no pleito municipal de 2000, mas não obteve êxito. Transferiu-se para São Paulo e retomou a carreira política ao candidatar-se a vereador em 2004, pelo PP. Foi reeleito em 2008 para novo mandato como vereador paulistano, cargo do qual licenciou-se em 2010 para concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados. Porém, obteve apenas uma suplência. Foi candidato à reeleição em 2012, mas não obteve votação suficiente. Deixou a atividade política para voltar a se dedicar à música.
*Com Agência Brasil