Um grupo com dezenas de pessoas se reuniu e protestou na noite desta quarta-feira (8), nas ruas de Ecoporanga, no Norte do Espírito Santo, pedindo justiça pela morte de Gessik Dettemann Bello, de 32 anos, ocorrida na terça-feira (7), após a mulher aguardar por atendimento médico na Fundação Médico Assistencial do Trabalhador Rural de Ecoporanga (Fumatre), o hospital da cidade. A família acusa o hospital de negligência. Após o fato, o médico João Roberto Dal Col foi afastado do hospital. Um vídeo ao qual a reportagem teve acesso, mostra o desespero da irmã de Gessik para que a equipe de plantão atendesse a vítima, ante a uma aparente passividade dos técnicos, enfermeiros e do médico plantonista. Dois meninos ficaram órfãos da mãe.
Ponto a ponto: o fato relatado
- Segundo a irmã de Gessik, Wanessa Dettmann, a vítima começou a passar mal no dia 1º de maio. No dia seguinte ela melhorou. No dia 3, Gessik reclamou de dores no corpo, e no dia 4 de maio, ela teria começado a sentir febre. No dia 5 de maio, a mulher começou a sentir além de febre, fraqueza no corpo.
- De acordo com a irmã, a vítima procurou ajuda em um ponto de atendimento no bairro Benedito Monteiro, em Ecoporanga, para averiguar o possível diagnóstico de dengue. Lá, a equipe teria orientado que Gessik procurasse a Unidade Básica de Saúde a fim de realizar o teste de dengue. Ao chegar na UBS, Gessik teria sido informada que não havia teste de dengue disponível, e ainda teriam a orientado a realizar o exame na via particular, uma vez que nem no Hospital Fumatre estaria sendo feito o teste.
- Segundo a irmã de Gessik, diante da negativa do Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade em fazer o teste de dengue, foi agendado um exame particular para terça-feira (7). No mesmo dia, a vítima pegou o resultado do exame e foi ao Hospital Fumatre para o dianóstico médico.
- De acordo com o relato de Wanessa Dettmann, após a cena do vídeo que se espalhou nas redes sociais, no qual a irmã de Gessik clama por atendimento, que só foi feito após a vítima cair desacordada na parte externa do hospital, a Gessik foi levada para dentro do hospital, onde o quadro de saúde se agravou.
- “Ela começou a tomar soro, e a pressão dela foi só abaixando, a saturação também. Ela não estava consguindo urinar, e estava inchada de tanto soro. Eles (a equipe médica) não estava nem aí. Ela reclamava de dor no peito, muita falta de ar, e eles falando que era normal porque ela estava desidratada e foi quando ela deu três piques de desmaio, e eles viram que ela estava piorando, e transferiram ela para o Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho, em Barra de São Francisco. Lá, os médicos não conseguiram vaga para ela na UTI, e quando foram intubar ela para aguardar a UTI, ela começou a dar parada cardíaca, que se repetiu três vezes seguidas. Eles tentaram reanimar ela, mas ela veio a óbito (na terça-feira)”, lamenta Wanessa Dettmann, irmã de Gessik Dettemann Bello.
Versão da Polícia Militar
A Polícia Militar confirmou que foi acionada na manhã de terça-feira (7), para verificar o que chamou de “possível desentendimento entre um médico e uma paciente em um hospital, no bairro Nossa Senhora Aparecida, em Ecoporanga”. Segundo a versão da PM, no local, a mulher relatou que chegou à unidade acompanhando sua irmã e, por causa da demora no atendimento, foi até a sala da administração. Ela disse que, nesse momento, o médico chegou bastante exaltado e começaram a discutir. “Em conversa com o profissional, ele disse que, como de praxe ao iniciar um plantão, foi realizado o atendimento dos pacientes e, posteriormente, foi atendido o Pronto Socorro e isso gerou uma demora. O médico disse que houve uma discussão, mas que logo se acalmaram”, informou a Polícia Militar.
Secretaria de Saúde pediu explicações ao hospital
A reportagem teve acesso a um documento assinado nesta quarta-feira (8) pelo secretário de Saúde de Ecoporanga, Fernando Alves Peres, em que ele solicita que a Fumatre (o hospital da cidade) se explique sobre a morte de Géssika Dettmann Bello.