Torcedor fanático do Cruzeiro, o arquiteto Júnior Borém, comemorou, assim como a maioria dos torcedores da Raposa, a compra do futebol do clube pelo ex-jogador Ronaldo Nazário, o Ronaldo Fenômeno.
“Ronaldo fenômeno comprou 90% das ações do Cruzeiro…. agora vai.”
E emendou, respondendo a um amigo que disse que Ronaldo ‘afundou’ o time que comrpou na Espanha: “Aguarde e verás a influência do Fenômeno e a volta do Cruzeiro à elite do futebol brasileiro.”
Ronaldo Fenômeno e a equipe que trabalha com o ex-jogador já têm a ideia de iniciar os trabalhos na próxima segunda-feira. A ideia é traçar as primeiras estratégias e passos da nova era do Cruzeiro.
Mas, como é que isso aconteceu assim tão de repente, muitos se perguntam. E a resposta está aí:
“Tem como fazer isso?” Essa foi a pergunta feita por Ronaldo Fenômeno ao receber a ligação em que foi proposta a compra do futebol do Cruzeiro. Ocorreu há cerca de três meses, quando o ex-jogador estava em Madri e nem esperava que, a partir dali a história com o clube que o revelou para o futebol profissional (com o primeiro capítulo escrito há 17 anos), seria recomeçada.
Nesse sábado, 18, o Fenômeno foi anunciado como acionista majoritário do Cruzeiro SAF, que irá cuidar do futebol do clube, tomado por uma dívida na casa de R$ 1 bilhão. Em 2022, o time centenário vai disputar a Série B do Campeonato Brasileiro pelo terceiro ano seguido. Ronaldo irá investir R$ 400 milhões na Raposa, além de cuidar da dívida global.
O ge apurou detalhes da negociação entre quem capitaneou a busca do investidor no Cruzeiro, a XP Investimentos, e o ex-atacante. Ninguém da diretoria cruzeirense sabia, há pouco mais de uma semana, que quem iria aportar cifras milionárias na Toca da Raposa seria um ex-jogador do clube.
O presidente da Raposa, Sérgio Santos Rodrigues, foi informado da negociação há poucos dias do acordo ser concretizado. Ronaldo havia decidido investir no Cruzeiro, mas precisava conhecer a pessoa com quem iria lidar daqui para frente. O sigilo era extremo para que o negócio não vazasse e pudesse ser atrapalhado.
Ronaldo ainda precisa acertar detalhes importantes com o Cruzeiro, como, por exemplo, a forma de lidar com a dívida total da instituição, na casa de R$ 1 bilhão. O ex-jogador passa a ser solidário do montante devido com a assinatura de contrato. Ele também precisa superar os trâmites burocráticos para efetivamente assumir o controle do clube.
A proposta do ex-jogador era uma das três na mesa de Pedro Mesquita, diretor da XP Investimentos. Mas foi considerada, de longe, a melhor para o Cruzeiro, por diversos aspectos. Além da parte financeira, também pesou a história e identificação de Ronaldo com o clube e o projeto a longo prazo.
Ronaldo quer mudar a cara do Cruzeiro e, com esse exemplo, também influenciar a mudança do futebol brasileiro. Ele pretende implementar uma gestão profissional ao clube mineiro, que passou por graves problemas administrativos, financeiros e políticos nos últimos três anos.
A ideia do ex-jogador é trazer pessoas que confia e que possam ajudar na melhoria do clube mineiro. O projeto, claro, é conseguir o acesso à Série A do Brasileiro em 2022 e voltar a disputar a Primeira Divisão no ano seguinte. Além disso, é necessário mudar a forma de administrar e lidar com o futebol dentro do Cruzeiro.
Na Toca da Raposa, Ronaldo quer buscar uma equipe mais jovem, investindo em atletas de grande potencial de mercado. O objetivo é proporcionar ganhos futuros para ele e para a instituição. As categorias de base serão observadas de forma especial.
Experiência no Valladolid
Novo acionista majoritário do Cruzeiro, Ronaldo Fenômeno tem como mais recente experiência administrativa à frente de um clube de futebol o projeto de reestruturação do Real Valladolid, da Espanha. Embora tenha bons resultados fora de campo, o time do astro brasileiro ainda não conseguiu o salto esperado nas quatro linhas.
Ainda que o Valladolid tenha experimentado uma sequência de três temporadas na primeira divisão espanhola, o que não acontecia desde o triênio 2007-2010, o rebaixamento voltou a assombrar o modesto time do Noroeste do país. Penúltimo colocado do Espanhol na temporada passada, o time está de volta à segunda divisão.
Em setembro de 2018, Ronaldo surpreendeu o mundo ao se tornar o acionista majoritário do Valladolid, que tinha acabado de voltar à primeira divisão após quatro anos. Inicialmente com 51% das ações – adquiridos por cerca de 30 milhões de euros -, o ex-atacante brasileiro passou em seguida a 71%, e depois aumentou o controle acionário para 82%.
Na época da aquisição do Valladolid, Ronaldo disse em entrevista à LaLiga que não podia misturar a emoção do torcedor com a visão empresarial necessária para reorganizar as finanças.
“Uma coisa em que estamos trabalhando é na análise dos mercados. Não soa muito animador mas não tem outro jeito. Temos que adquirir o gerenciamento do clube e não a sua emoção, porque isso pertence ao torcedor. Queremos crescer nos dois lados.”
Se no Cruzeiro o objetivo de Ronaldo é reorganizar o clube financeiramente para fazer o time reviver os dias de glória, a experiência no Valladolid pode dar esperança à torcida, pelo menos na parte administrativa.
Quando assumiu o comando acionário, o Valladolid tinha acabado de pedir recuperação judicial de uma dívida que, em 2013, era de 63 milhões de euros, contra um faturamento de apenas 18 milhões.
Aos poucos, o Valladolid vem se recuperando, e em 2020 a relação dívida x faturamento já havia se transformado: ainda que o clube devesse nada modestos 45 milhões de euros, boa parte parcelada a longo prazo, a entrada de capital já estava em 54 milhões.
Já o primeiro trabalho de Ronaldo como dirigente foi não teve o mesmo êxito. Em 2014, ele se tornou um dos sócios do Fort Lauderdale Strikers, clube que disputava a North American Soccer League (NASL), um campeonato alternativo à MLS, com status de segunda divisão, embora nos Estados Unidos não haja essa relação entre ligas. A empreitada durou três anos, quase sempre com dificuldades financeiras, até o time encerrar as atividades, em 2016.
No Cruzeiro, Ronaldo promete investir R$ 400 milhões, um valor ainda modesto diante de uma dúvida estimada em R$ 1 bilhão, mas que supera de longe situações mais imediatas, como a dívida salarial com jogadores e funcionários, que em outubro era de cerca de R$ 9,1 milhões, além dos R$ 14 milhões devidos à Fifa como punição por inadimplência em contratações. (Da Redação com ge)