A Polícia Civil investiga denúncia de agressão verbal, machismo e homofobia registrada por um time de futebol feminino de Barra de São Francisco, no Noroeste do Espírito Santo. O caso aconteceu no Estádio Municipal Joaquim Alves de Souza na última quarta-feira (13), quando, segundo as jogadoras, a equipe master de futebol masculino adentrou ao campo proferindo intimidações contra elas.
Consta no boletim de ocorrência registrado na 14ª Delegacia Regional de Barra de São Francisco, assinado por cinco jogadoras, que o time de futebol feminino realizava um treino no estádio municipal, com autorização de uso até as 20h30, da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer.
No entanto, por voltas de 19h30, a equipe master de futebol masculino entrou no campo antes do horário estabelecido com objetivo de, segundo relato das meninas no boletim de ocorrência, intimidar as jogadoras a saírem do local. “As mulheres, com educação, pediram para que esperassem e dessem licença”, consta no documento.
Neste momento, os jogadores do time masculino passaram a insultar a equipe feminina com palavras ofensivas e preconceituosas, segundo as jogadoras. De acordo com o boletim de ocorrência, foram proferidas frases como: “O que essas mulheres estão fazendo aqui? Deveriam estar em casa lavando vasilhas”, “Campo de futebol não é lugar de mulher”, “Não vai conseguir fazer a gente engolir esse futebol feminino”, “Bando de sapatão, não vai conseguir fazer a gente engolir esse futebol feminino”, entre outras.
Após o episódio, as jogadoras enviaram um ofício ao prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos, solicitando providências em relação ao ocorrido. No documento, consta que o incidente foi contido pelo subsecretário da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, Marcelo Gregório Alves, que estava auxiliando no treino do time feminino.
“Ao ouvir algumas das falas, pediu que a equipe master de futebol masculino se retirasse de dentro de campo, exigindo-se dos mesmos que respeitassem o horário e as atletas”, salientou o ofício.
Procurada pela reportagem da TV Gazeta Noroeste, a Prefeitura de Barra de São Francisco informou que o prefeito Enivaldo dos Anjos recebeu a denúncia no último final de semana e que determinou à Secretaria Municipal de Esportes e Lazer que dê todo o apoio às jogadoras.
A Polícia Civil informou que o fato será apurado pela Delegacia de Barra de São Francisco e não há mais detalhes que possam ser divulgados, no momento.
AGazetaNoroeste
A situação ficou tão insustentável, chegando ao ponto da Vereadora Israelle Candido se pronunciar na tribuna da Casa e classificar como homofóbicos os ataques sofridos pelas meninas do futebol feminino
O caso é tão grave e ocorreu dentro do Estádio Municipal Joaquim Alves de Souza, no último dia 13, quando atletas praticantes do futebol feminino, estiveram na praça esportiva para treinamentos. O fato foi abordado na tribuna da sessão legislativa desta segunda feira dia 18, quando a vereadora Israelle Cândido denunciou também o episódio, qualificando o de lamentável.
As meninas estavam ocupando o gramado quando a equipe máster masculino, adentrou ao campo antes do seu horário estabelecido, criando constrangimento nas atletas, para que as mesmas deixassem o local. Como não houve sucesso na tentativa os rapazes iniciaram uma série de insultos indagando o que elas estariam fazendo ali e que “deveriam estar em casa lavando vasilhas”.
Para a vereadora Israelle, são fatos como este que incitam a violência contra a mulher e qualificou como inadmissível e criminoso o ocorrido. Segundo sua leitura do oficio encaminhado ao prefeito Enivaldo dos Anjos, outras frases lamentáveis teriam sido dirigidas para as atletas como: “essas meninas não sabem nada de futebol – bando de “sapatão” – quer fazer a gente engolir esse futebol feminino de qualquer jeito – uns jogos ruins – inventaram até de colocar mulher para narrar jogos e que lugar de mulher não era em campo.
As atletas estão em preparativos para defenderem as cores do município na Copa Estadual de Futebol Feminino e por este motivo a vereadora Israelle fez também a denúncia na tribuna durante o encontro semanal dos vereadores. Ela que dirigiu ofício ao prefeito Enivaldo dos Anjos, solicitando providencias afirmando que espera que não volte a ocorrer os fatos lamentáveis recentemente presenciados por atletas e torcedores.
Uma prática que precisa ser combatida
Em texto já publicado na mídia, anos de proibição da prática do futebol feminino por mulheres e o machismo estrutural de que é formada a sociedade brasileira, podem ser alguns dos fatores que ainda contribuem para homofobia velada que existe no futebol feminino.
Um assunto que em 2020, já deveria ser mais que estabelecido, ainda é tabu no meio e está diretamente associado ao preconceito e a julgamentos de muitos para a prática do esporte.
Opção sexual não deveria ser colocada à mesa ou no gramado, mas infelizmente ainda é. No último ano, o Brasil foi o 6º país que mais pagou multa à FIFA por homofobia no futebol feminino.
Somente nos últimos quatro anos, as entidades que regem o futebol mundial começaram a punir atos homofóbicos nos estádios e foi somente a partir de 2019 que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passou a ser considerada crime, mas enquanto isso, ainda há muito o que reparar.
A homofobia surge em campo a partir da não aceitação e da intolerância em relação à diversidade, tão importante para constituirmos a sociedade plural e o futebol rico que temos hoje. Não é natural que jogadoras sejam julgadas pelo biotipo que têm, pelo estilo de roupa que vestem, pelo esporte que praticam ou pela opção sexual que definem.
Relativizar a homofobia em campo e fora dele é compactuar com o desprezo, com o ódio e com a violência às pessoas singulares em sua essência. E quando falamos em homofobia, não devemos considerar somente agressões físicas, mas também as verbais.
Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal de Vereadores