RIO — Foram necessários poucos dias para a vida da família Oliveira virar de cabeça para baixo em dezembro de 2020. Em um curto período o pequeno Matheus, com 8 anos na época, passou de uma leve coceira na garganta para 70% do pulmão comprometido pela Covid-19. Matheus só foi salvo após uma grande operação que comoveu todo o país: de helicóptero ele foi levado até a capital do Rio para ser internado em um hospital pediátrico da rede municipal de Saúde. Hoje Matheus está recuperado, ainda trata algumas sequelas da doença e a família vive a expectativa de enfim poder vacina-lo contra o coronavírus.
A família de Matheus é de São José de Ubá, uma pequena cidade de sete mil habitantes e que fica a 290 km da cidade do Rio. A operação para levar o menino a capital envolveu diversos órgãos. Organizada pela secretaria estadual de Saúde, parte do transporte foi feito pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e a aeronave utilizada foi da Marinha — que voou embaixo de chuva para levar o garoto ao Rio.
A prefeitura de São José de Ubá ainda não possui uma calendário para imunização das crianças, mas Delmar Oliveira, pai de Matheus, garante que assim que for possível levará o garoto para se vacinar contra a Covid-19.
— Só quem passa na pela para saber o que é. O certo é vacinar todo mundo. Graças a Deus começará agora para as crianças e no primeiro dia que tiver disponível vamos lá certamente. A vacina será muito importante. O pai e a mãe não quer que o filho pegue, mas estando vacinados você tem uma proteção e o risco é menor que não ter se vacinado. Tenho pessoas na família e conhecidos que são contrários a vacina. Se tem uma forma de proteção, por quê você não tomar? — diz Delmar Oliveira, pai de Matheus.
Não sairá da memória de seu Delmar os 87 dias de angústia em que o filho passou na UTI do Hospital Municipal Jesus, referencia para pediatria em todo o estado do Rio. Em quase três meses na ala de cuidados intensivos, Matheus foi intubado quatro vezes, além de realizar uma traqueostomia — procedimento considerado invasivo e só feito em casos de extrema necessidade. Ao todo, o menino ficou quatro meses internado e teve alta em abril de 2021.
— Ele ficou 37 dias totalmente isolado por causa da Covid. Foram quatro vezes que ele saiu da intubação e voltou de novo. O máximo que ele ficou nesse tempo sem precisar do respirador foram só quatro dias. Restava ter fé e o pensamento positivo. Só quem passa sabe. A gente chega no hospital, vê pai e mãe desesperados por perder o filho e eu com o meu internado lá. Imagina o que passa pela cabeça da gente — relembra Delmar, que só conseguiu ter um pouco de alívio quando Matheus saiu da UTI.
Tratamento de sequelas
Já em casa, Matheus continua com o acompanhamento médico com pneumologista e já realizou diversos exames de acompanhamento da sua saúde após a alta médica: ressonância magnética, tomografias e também realiza um trabalho de fisioterapia. Segundo o pai, o menino não recorda de todos os momentos do tratamento no hospital, mas Delmar conta que Matheus sempre se emociona ao lembrar, principalmente, dos dias que ficou acordado consciente na UTI.
— Fica uma sequela pulmonar. Imagina a gravidade porque ele chegou a 90% do pulmão tomado. Ele tem uma sequela de Covid e teve que fazer a traqueostomia que os médicos não gostam de fazer em crianças, mas nele foi necessário e ajudou muito. A fisioterapia também o ajuda muito na recuperação e hoje faz tudo normalmente — diz.
OGlobo