(UOL/FOLHAPRESS) – O tratamento de queimaduras no Brasil será ampliado com um novo transplante, de membrana amniótica. Trata-se de uma camada da placenta que apresentou evidências científicas para acelerar cicatrizações. Os critérios para as doadoras deverão ser divulgados neste mês.
O transplante será disponibilizado em breve. Patrícia Freire, coordenadora-geral do SNT (Sistema Nacional de Transplantes), informou que a medida é para atender à demanda de pessoas queimadas no país. “Já temos o transplante de pele e, agora, estaremos disponibilizando o de membrana amniótica.”
É a primeira vez que a membrana amniótica está no Regulamento Técnico do SNT. O procedimento foi aprovado em maio e publicado no Diário Oficial pelo Ministério da Saúde no dia 23 de junho. Desde então, corre o prazo de 180 dias para a oferta ser efetivada no SUS.
A membrana amniótica é coletada no parto, após o consentimento das doadoras. Ela acelera cicatrização e reduz infecções e dores de pessoas que sofreram queimaduras ao criar uma barreira protetora contra bactérias e outros agentes infecciosos.
A membrana amniótica é especialmente interessante para queimaduras de segundo grau. Ela estimula a cicatrização da ferida e que as próprias células do indivíduo se multipliquem, se reproduzam e ocorra a formação de uma nova pele. Ela também pode ser utilizada em pacientes com feridas crônicas, como as provocadas por diabetes e por úlceras venosas, segundo reportagem do Jornal da USP de 2022.
‘LISTA ZERO’ PARA CÓRNEA
O sistema de transplantes brasileiros enfrenta gargalos em relação a outro tipo, o de córnea. Segundo um levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o tempo de espera por cirurgia de transplante de córnea no Brasil dobrou em dez anos. Para Freire, o trabalho é para atingir a “lista zero”.
“A lista zero é praticamente impossível de acontecer, porque todo dia entra paciente na lista, mas o que estamos entendendo como lista zero é quando uma pessoa não leva mais do que 60 dias para entrar na lista [de transplante] e conseguir transplantar. Estamos trabalhando profundamente em medidas para atingir isso [em relação ao transplante de córnea]”, disse Patrícia Freire, coordenadora-geral do SNT (Sistema Nacional de Transplantes).
Demora para transplante pode ser multifatorial. Segundo o CBO, nesta segunda-feira (22), um paciente leva em média 374 dias para a cirurgia. Há dez anos, o tempo de espera era de 174 dias. Entre os motivos mencionados estavam a falta de reajustes de valores pagos pelos procedimentos e o impacto da pandemia da covid-19, que represou pacientes especialmente entre os anos de 2020 e 2023.
Pelas medidas sanitárias, as cirurgias eletivas foram suspensas, o que incluiu os transplantes de córnea. Freire, no entanto, afirma que os valores já foram reajustados e a fila está andando.
“De fato teve uma demanda reprimida pela covid, mas a partir de 2023 já começamos a apresentar um aumento [de cirurgias]. Então, esse aumento tem sido gradual e o que esperamos é atingir um crescimento de pelo menos 20% no número de transplantes de córnea realizados”, disse Patrícia Freire, coordenadora-geral do SNT (Sistema Nacional de Transplantes).
Sistema de transplante é referência mundial. Freire ressalta que o sistema nacional de transplantes continua sendo referência no mundo, especialmente pelo fato de operar em um país com grandes proporções territoriais. “O transplante é um procedimento extremamente complexo e muito caro, que não se resume só à cirurgia, mas a todo o processo pré-transplante e pós-transplante”, explica.
“Depois do transplante, tem a entrega do medicamento imunossupressor que é necessário para o resto da vida e isso também é fornecido 100% pelo SUS. É um diferencial que muitos países não têm. No Brasil, o SUS financia o procedimento de transplantes do começo ao fim”, disse Patrícia Freire, coordenadora-geral do SNT (Sistema Nacional de Transplantes).