“Como muitos já sabem eu não fico muito aqui em Barra de São Francisco, então fica difícil estar à frente de tudo morando fora. A cidade precisava desse primeiro passo para mudar a situação desses animais e eu dei esse passo, foi bem difícil organizar tudo sozinha e fazer com que tudo ficasse transparente para vocês, confesso que o trabalho é imenso, é cansativo, é estressante, mas também é muito gratificante, pois eu fiz com amor a esses inocentes.” Assim a bacharel em Direito Laércia Alves definiu o trabalho que resultou na criação da Organização Não Governamental (Ong), Proteção aos Animais de Rua (PAR).

No ano passado, o site ocontestado.com publicou matéria onde mostrava que algumas pessoas dedicadas à proteção dos animais, como o músico Jorge Kabana, do Campo Novo e o comerciante Tunico Relojoeiro, estudavam criar uma associação para esse fim. Tunico chegou a ser intimado pela Justiça, após denúncia contra ele, por parte de um empresário incomodado com os cães que viviam nas imediações da sua relojoaria. Mas a ideia da associação não foi à frente.
Veja matéria
Denunciado por seu cuidado com cães rua, relojoeiro que fundar associação
Agora, Laércia, com a parceria entre as amigas, Ivoneti Godoy Faroni e a conselheira tutelar Janete Fernandes, a Janete Bolos, os animais ganharam um novo alento na cidade.
“Sou grata a cada um de vocês que acreditou no meu sonho e depositou confiança nas minhas ideias. Tenho certeza que as meninas – Ivoneti e Janete – seguirão lutando com toda honestidade e garra para que esse projeto nunca deixe de existir, pelo contrário, cresça e consiga alcançar todos os objetivos”, disse Láercia, que vive viajando entre Barra de São Francisco e os Estados Unidos, onde está parte da família.
“Quero deixar claro que assim como eu, elas não aceitarão ao lado pessoas oportunistas que querem aparecer através do projeto para levar vantagem. Queremos pessoas que realmente sempre tiveram olhos voltados para a causa animal, antes mesmo desse projeto existir”, explica Laércia em sua página no Facebook.
“É com o coração apertado que deixo o projeto, mas com um alívio grande de saber que tudo que estava ao meu alcance eu fiz, graças à confiança que vocês depositaram, e também porque está em excelentes mãos”, disse a jovem.

Projeto sem viés político
De acordo com Ivoneti Godoy Faroni, a princípio elas encontraram muita dificuldade para tocar o projeto. “Ficamos receosas, uma vez que os custos para manter a Ong são grandes, mas a Laércia deu uma ideia muito boa, a de pedir contribuições mínimas, de até R$ 1. Mesmo uma criança que gosta de animais terá dinheiro para dar a sua ajuda”, informa ela.
Ivoneti salienta ainda que a Ong, apesar de ainda não registrada, já está atuando em toda a cidade com distribuição de ração em pontos estratégicos dos bairros e do centro. “Temos que agradecer a contribuição das pessoas, inclusive empresários, que estão acreditando em nós. Mas o projeto não é só para alimentar os animais de rua. Na verdade, eles têm muitas necessidades e nossa ideia e protege-los ao máximo”, disse.
Ivoneti disse que, assim como Láercia e Janete, pensa que o projeto não deve ter viés político, por isso, vão esperar passar as eleições para, então, pedir ajuda aos vereadores da cidade. “Também queremos contar com o apoio da administração. A Prefeitura tem um veterinário e pode nos ajudar com as consultas, entre outras coisas.”
A ideia da Ong é criar também um abrigo para esses animais de rua, de modo que eles possam ser removidos sem sofrerem maus tratos e também incentivar a castração, não só dos animais de rua, mas daqueles que têm donos. “Os animais de ruas, geralmente, são aqueles que foram abandonados pelos donos, por isso, nossa intenção é incentivar e ajudar, com apoio do Poder Público e cidadãos, a promover a castração”, relata Ivoneti.
Laércia salientou que a criação da entidade, o seu desenvolvimento e sua manutenção, têm contado com o apoio de muitas de pessoas da sociedade francisquense. “Não quero citar nomes, porque teria que listar todos, para não cometer injustiça, mas tivemos ajuda de muita gente, na criação do nome, desenvolvimento da logomarca e, depois, na aquisição de alimentos e outros. Quero agradecer a todos e pedir que continuem apoiando a Janete e a Ivoneti, que ficaram à frente do projeto.”

“Já havia pedido inúmeras vezes para colocarem bebedouros e comedouros na cidade e nunca fui ouvida. Quando tive a ideia, sozinha, do projeto e ele tomou maior proporção, apareceram os oportunistas, doidos para que todos pensassem que a ideia foi deles e, com isso, levar vantagem, só que nunca, jamais, vamos deixar por perto pessoas que não amem e não se importem de verdade com a vida triste que esses animais de rua têm. A causa é nobre e ao lado teremos apenas pessoas com sensibilidade, capazes de amar até o animal invisível para muitos nas ruas. O trabalho vai continuar, afinal, lidar com dinheiro de mais de 100 pessoas, exige bastante atenção e tempo”, finalizou Láercia. (Weber Andrade)
