O bom momento vivido por Portugal e a crise econômica que se arrasta no Brasil fizeram da terra de Fernando Pessoa uma espécie de Eldorado no imaginário dos brasileiros. Hoje existem mais de 40 mil pedidos de cidadania portuguesa pendentes e o número de migrantes tem crescido em uma proporção nunca vista.
Decepcionado com as condições econômicas e políticas do país, o professor aposentado Mario Agapito de Paula, 73 anos e a esposa Siléa, servidora municipal, por exemplo, decidiram que é hora de conhecer a terra dos patrícios, onde têm uma filha. Siléa vinha conversando com a filha há tempos e agora, junto com o marido, decidiram conhecer Portugal e analisar a possibilidade de se mudarem para lá definitivamente.
Servidor estadual aposentado, Dower Gomes Farias, veio para Barra de São Francisco no final da década de 70 para jogar futebol e acabou entrando no serviço público estadual, onde se aposentou.
Disposto a mudar de cidade mais uma vez – ele veio do Rio de Janeiro – Dower já decidiu ir com a família para Portugal onde pretende também “sondar” as condições de vida naquele país. A facilidade com o idioma é um dos fatores apontados por ele como determinante para sua opção.
Na agência de viagens Visa Express, a funcionária Simone informa que nos últimos meses tem havido enorme procura por passagens para Portugal. “Tem muita gente da região, de Barra de São Francisco, Mantenópolis e várias outras cidades, todas interessadas em ir viver naquele país”, conta ela.
Para o português Pedro Alegria, que veio de Portugal há três anos, a onda de emigração para o seu país não incomoda. “Eu estou bem aqui e não penso em voltar. A gente deve viver onde se sente bem”, afirma ele, que é casado com uma francisquense, a qual conheceu em Portugal. “Talvez um dia eu volte”, diz ele, que veio para trabalhar como pedreiro, mas, devido a problemas de saúde, acabou se tornando vendedor de sorvetes e picolés na rodoviária.
Portugal precisa receber 75 mil
imigrantes por ano, diz estudo
O estudo Migrações e Sustentabilidade Demográfica, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, de Lisboa, concluiu que Portugal precisará receber 75 mil imigrantes ao ano para manter uma população acima de 10 milhões de habitantes em meados do século. Hoje o país tem cerca de 11,6 milhões de habitantes, dos quais pelo menos 30% são idosos com mais de 65 anos.
Essas estatísticas indicam que haverá perda de 40% da população ativa do país em 2.060 devido, sobretudo, à baixa taxa de natalidade e ao envelhecimento acelerado. Por tal razão, o governo anunciou sua intenção de regularizar cerca de 30 mil imigrantes ilegais que estejam no país há pelo menos um ano. Os brasileiros nessa situação podem se beneficiar.
Brasileiros – De 2016 para 2017, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), concedeu mais de quatro mil novas autorizações de residência para brasileiros, que já somam mais de 85 mil no país – a maior comunidade estrangeira. O número ainda é menor do que o registrado em 2014, quando a comunidade brasileira passava de 87 mil pessoas, mas chama a atenção pela tendência de crescimento, após anos de retração. Além disso, estima-se que a população brasileira em Portugal seja ainda maior: há ao menos dois mil no país com passaporte italiano, contingentes não contabilizados de brasileiros com outros passaportes europeus e ainda os imigrantes ilegais. São pessoas que entraram com visto de turista, válido por 90 dias, e não foram embora.
Para um país que se diz aberto à imigração, Portugal tem uma estatística pouco favorável quando se trata de brasileiros. O Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo 2017, elaborado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), aponta o recorde de 1.336 brasileiros impedidos de ingressar no país naquele ano – 62,3% do universo de estrangeiros barrados. Em 2016, foram devolvidos 968 brasileiros.
Ainda assim, o governo português insiste na necessidade inconteste de aumento da população do país por meio da imigração. (Weber Andrade com sites UOL e SEF)
Desemprego baixo e crescimento
econômico atraem os brasileiros
Com uma taxa de desemprego baixa e o retorno do crescimento, a recuperação econômica fez com que Portugal se tornasse mais uma vez um país atraente para a mão de obra estrangeira, após experimentar uma emigração significativa durante a crise financeira de 2011.
Muitos brasileiros estão indo embora de olho nas novas oportunidades oferecidas pela economia portuguesa, que saiu da crise em 2014, três anos depois de um plano de ajuda europeu de 78 bilhões de euros em empréstimos.
Tradicionalmente país de emigração, Portugal recebeu no ano passado cerca de 30 mil estrangeiros, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (Ine). Cerca de 400 mil estrangeiros residiam no país já em 2016, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF),
Em 2016 ocorreu a mudança, segundo dados do SEF. O país deixou para trás a crise que levou muitos portugueses a emigrarem e imigrantes instalados em Portugal a irem para outros países.
“Assistimos hoje a uma diversificação dos perfis, com uma migração mais qualificada que a que havia antes da crise”, explica Jorge Malheiros, pesquisador no Instituto de Geografia e Organização Territorial.
Além de europeus, atraídos principalmente por vantagens fiscais, “o país fez com que voltassem portugueses que foram embora durante a crise. Fora da União Europeia, os migrantes vêm de países africanos de língua portuguesa, da Ásia, e sobretudo do Brasil”, acrescentou.
Em Portugal, a recuperação econômica causou escassez de mão de obra nos setores do turismo, hotelaria e construção. Entre 2009 e 2015 a construção perdeu 260 mil trabalhadores, “agora há 170 mil postos disponíveis”, afirma Rui Campos, presidente da principal associação portuguesa de industriais da construção.
O país ibérico, que conseguiu se recuperar depois da crise da dívida em 2011, registrou em 2017 um crescimento de 2,7%, o mais forte desde 2000, e uma taxa de desemprego de 7,6% em fevereiro, o nível mais baixo em 14 anos. Para 2018, o governo apostou em um crescimento de 2,3% e uma taxa de desemprego também de 7,6%. (Weber Andrade com Agência France Presse)