Por Weber Andrade*
Vinte anos atrás, Barra de São Francisco já sofria com enchentes, mas elas eram mais brandas e mais esporádicas, principalmente na região do bairro Bambé e Campo Novo. No Bambé, desde a área onde está hoje a Unidade Básica de Saúde (UBS) até as proximidades da ponte que liga o bairro ao Campo Novo, havia uma imensa várzea com plantação de arroz e poucas casas.
Mas o local começou a ser aterrado para sediar a sede do INSS, que também chegou a abrigar a Prefeitura Municipal e, logo depois, com o “boom” do granito, a construção civil na cidade explodiu o local deu legar ao Loteamento Quiquito. Hoje, até o prefeito Alencar Marim reside na área.
Por trás do Estádio Municipal Joaquim Alves de Souza havia uma chácara e, do outro lado, era a fazenda da família Fernandes. Tudo ali foi tomado por imóveis e, tanto o córrego Bambezinho quanto o rio São Francisco ficaram restritos aos seus leitos normais, sem área de vazão.
“Tomaram o espaço de vazão do rio e, quando ele precisa, pede de volta”, disse uma vez à nossa reportagem, o secretário municipal de Gabinete e Comunicação, Hélio Rodrigo Chequetto.
Mais recentemente, um cidadão que vive nos Estados Unidos pagou para construir uma casa praticamente dentro do córrego Miracema, na altura da ponte que divide o bairro Nova Barra Vaquejada, com o beneplácito da fiscalização municipal. Apesar das denúncias feito pelo nosso site, a obra chegou a ser embargada, mas, pouco depois, foi concluída sem que a fiscalização emitisse sequer uma multa.
Ontem, 28, o site G1 Espírito Santo e a TV Gazeta abordaram o assunto mostrando que a cena não é “privilégio” de Barra de São Francisco. Todas as cidades castigadas pelas chuvas no Espírito Santo têm em comum o fato de abrigarem casas construídas às margens dos rios.
“Partindo dessa contatação, para um especialista na área, é necessário um plano que una a conscientização da população e a ação dos órgãos públicos responsáveis para evitar novas enchentes”, diz a reportagem do G1.
Desde que as chuvas começaram, em 17 de janeiro, nove pessoas morreram, incluindo duas crianças, e uma pessoa ainda está desaparecida. Quatro cidades já tiveram o decreto de estado de calamidade pública reconhecida pelo Governo Federal e mais de 13 mil pessoas estão fora de casa.
Alguns municípios não suportaram a quantidade de água vinda do céu, mas outros foram prejudicados, principalmente, pelas cheias dos rios, como Iconha, Alfredo Chaves e Cachoeiro de Itapemirim.
Segundo o especialista Elio de Castro, do Fórum Capixaba de Comitês de Bacias Hidrográficas, o problema pode estar na gestão das bacias. Isso significa que há rios sendo ocupados do jeito errado.
“As chuvas, elas têm um ciclo. Hora o rio está cheio, hora está vazio. Ela tem um espaço para a água movimentar. E esse espaço, evidentemente, não deveria ser ocupado. Nós montamos cidades, construímos áreas urbanas”, disse.
As construções que avançam na beira dos rios ajudam a estreitar o curso dele. Fora que, pra construir, é preciso desmatar. A chamada mata ciliar, que é retirada quando são feitas as construções, também é importante para manter o ciclo da água.
“Nós temos um espaço justamente pra isso. Permite que a água suba sem causar dano e que também desça sem causar dano. O ideal é que essas intervenções não estivessem aí”, disse Elio.
Segundo dados do Estudo Geológico do Brasil, mais de 320 mil capixabas moram em áreas de risco de desastres naturais. São mais de 68 mil casas que correm risco a cada cheia de rio no Estado.
Para o especialista, é preciso ter consciência das pessoas para que não construam nessas áreas, mas também que o poder público fiscalize e encontre soluções.
“Nós precisamos de um plano para tratar dessas questões. E eles não são só consequência do excesso de chuva que está caindo naquele exato momento. É consequência também da falta de ação da gestão. Há uma grande dose de omissão. Omissão do Estado, de quem ocupa essa área, do Ministério Público”, concluiu.
Segundo o levantamento do Ministério de Minas e Energia, o tipo de desastre que mais ameaça as cidades capixabas é o deslizamento de terra, e em seguida as enchentes.
*Com site G1 Espírito Santo e TV Gazeta