Apesar de os números da Covid-19 começarem a indicar uma tendência de estabilização em algumas cidades, pesquisadores alertam para o avanço da doença no interior do Espírito Santo e os desdobramentos necessários na área da saúde. Para especialistas, embora esse seja um comportamento natural e esperado da doença, a nova fase exige a manutenção dos cuidados de prevenção e ampliação da testagem.
Em junho, municípios que, até o mês passado tinham pouquíssimos números de casos confirmados, observaram uma explosão nas contaminações. Casos como os de São Gabriel da Palha e Nova Venécia, que em pouco dias alcançaram a marca de 300 casos da doença, são exemplos na região norte. São Gabriel fechou o sábado com 349 casos confirmados e felizmente, apenas uma pessoas falaceu por causa da doença.
Nova Venécia alcançou ontem, 27, a marca dos 300 casos e, com 130 pessoas curadas, o município amarga a perda de 10 vidas desde o início da pandemia.
Os cálculos e projeções dos matemáticos do Núcleo de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) são feitos com base nos números extraídos do inquérito sorológico feito pelo Governo do Estado, que testa a população.
Na mais recente previsão, a pesquisa aponta que no dia 8 de julho o Espírito Santo pode chegar a mais de 2,6 mil mortes. Até esta sexta-feira (26), foram registrados 1.507 óbitos.
“A cada etapa do inquérito, a gente faz uma nova estimativa e observa, pelos óbitos, como está caminhando a curva de contágio”, explicou o professor Etereldes Gonçalves Júnior.
Para ele, os números sugerem que a Grande Vitória já viveu o pico de curvas de casos ativos de coronavírus, mas os municípios do interior estão em “atraso” na evolução da doença, e ainda em crescimento.
“No Espírito Santo, a gente tem uma população mais homogênea na Grande Vitória. Então, já deve ter passado esse pico da curva de casos ativos, pelo que a gente tem observado. No interior, isso deve ocorrer em outro momento. Por motivos naturais da doença. Ela sai da capital e vai para o interior. Lá, ela chega mais tarde”, justificou.
De acordo com a epidemiologista Ethel Maciel, a finalização da quarta fase do inquérito sorológico indica que o interior está com taxa de contaminação de 1,7, aproximadamente. Isso significa que 10 pessoas infectadas contaminam 17, que contaminam outras 29.
Esse índice, conforme ela explica, está maior que a do Espírito Santo, que é de 1,3, e na Grande Vitória, com 1,2.
Por isso, Ethel acredita que o interior deve receber um reforço nas estratégias de saúde adotadas no enfrentamento à pandemia. Uma grande preocupação é a falta de hospitais nesses municípios.
“Como os casos de Covid-19 evoluem muito rápido, a preocupação é que as pessoas possam morrer antes de chegar a um hospital. O que a gente precisaria fazer para evitar isso? Um fortalecimento da atenção primária. É importante nesse momento que a gente tenha uma ampliação de testes no interior para entender melhor como está acontecendo a transmissão”, disse.
Ethel ainda explica que o momento ainda não é seguro para a flexibilização dos cuidados em todas as regiões do estado.
“A gente está estabilizando alto. Toda taxa de contaminação acima de 1 é preocupante. Nós estamos caminhando para uma desaceleração, mas ainda com o número de mortes muito alto. Ainda preocupa, nós precisamos manter todas as medidas de prevenção nesse momento que ainda não tem uma vacina”, finalizou.
Números – O Espírito Santo registrou, até este sábado, 27, 1.542 mortes por Covid-19. O número de casos confirmados chegou a 43.099. Os dados foram divulgados na plataforma Painel Covid-19, do Governo do Estado.
Na comparação com os números divulgados nesta sexta-feira, 26, o aumento é de 35 mortes e 1.447 novos casos da doença. Até o momento, 25.418 pessoas estão curadas e 100.915 testes foram feitos. (Weber Andrade com Secom/ES)