“Meu filho e minha nora estão lá a um ano e meio e já juntaram um milhão de reais”. “Em Vila Verde, mais de cem pessoas viajaram para o México recentemente, para tentar entrar nos EUA, eu também estou pensando em tentar a sorte de novo”. As frases acima, ouvidas na fila da Caixa em Barra de São Francisco, mostram que a migração para os Estados Unidos está mais em moda do que nunca, no noroeste do Espírito Santo, mas a situação também se estende por todo o leste mineiro, duas regiões que têm liderado as detenções na fronteira do México com os EUA.
Entre os meses de janeiro a abril deste ano, o México mandou de volta 1.846 viajantes brasileiros que tentavam entrar em seu território. O número é quatro vezes maior que o mesmo período dos dois últimos anos, segundo um levantamento feito pelo jornal Folha de São Paulo.
“Eu já estou com a viagem quase paga, são R$ 30 mil para o cara me colocar lá dentro, mas, com o dólar a mais de US$ 5, eu posso trabalhar 10 horas por dia, menos do que aqui, que pago essa dívida rapidinho”, avalia J.M.C, 45 anos, que pretende ir sozinho e depois “dar um jeito” de levar a família.
Em um único dia, 8 de abril, 78 brasileiros foram barrados no aeroporto mexicano; quantidade maior do que todo o mês de março de 2020. As rejeições, de acordo com a FSP, teriam como objetivo conter a entrada de pessoas que buscam atravessar a fronteira terrestre e entrar nos EUA de forma irregular.
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O Ministério das Relações Exteriores (MRE) disse que percebeu a tendência e emitiu nota, alertando que “apesar de o México dispensar o visto prévio para cidadãos brasileiros, o ingresso no país não é automático”.
“Há muitos casos de viajantes brasileiros que são inadmitidos”, diz o MRE.
Enquanto aguardam a repatriação no aeroporto, os viajantes relatam maus-tratos, condições precárias de alojamento e dificuldade de se comunicar com familiares.
O jornal espanhol El País teve acesso a um vídeo feito por um imigrante no ambiente chamado de “quartinho”, para onde os viajantes rejeitados são levados.
O local conta com camas beliches muito próximas umas das outras e nenhuma medida de restrição à covid-19. ”Tinha umas 60 pessoas lá dentro, umas 40 eram brasileiras. Tiraram nossos relógios, celulares, malas, foi constrangedor”, falou ao El País o mineiro Matheus Barboza, que passou 24 horas detido.
Para evitar esse tipo de situação, o MRE orientou os brasileiros a portarem passagens de ida e volta, provas de aluguel de carro e reserva de hotel, além de comprovar renda como dinheiro ou cartão internacional.
“O ingresso informal em território dos EUA, a partir do México, é uma prática delituosa nos dois países e extremamente perigosa. A travessia representa sério risco de vida para os envolvidos ”, destaca o órgão.
O Brasil é o terceiro país com o maior número de barrados no aeroporto do México; atrás do Equador e Colômbia. (Da Redação com acheiusa.com)