O psiquiatra Jacques Bergman, um dos médicos mais conceituados da região em termos de tratamento de distúrbios e doenças mentais, falou hoje ao site Voz da Barra sobre a quase epidemia de suicídios que se abateu sobre o Brasil e, particularmente, sobre Barra de São Francisco e seu entorno, nos últimos anos.
Bergman, que atende toda semana na Clínica Mais Saúde (Rua Astrogildo Romão dos Anjos, em frente ao Derson Lanches), disse que o suicídio está relacionado ao “adoecimento mental’ da sociedade em geral, provocado por um conjunto de fatores que inclui crise econômica, o que gera falta de perspectivas de futuro, falta de fé e de diálogo e apoio familiar. “O ser humano que se suicida, se vê em situação de total desamparo e, geralmente emite sinais do seu desespero, mas as pessoas estão muito ocupadas para perceber e ajudar seus semelhantes nestas horas,” avalia.
O psiquiatra lembra que o suicídio em si é o desfecho de uma doença que já afeta uma enorme parcela da população mundial: A depressão. “Ele (suicídio) raramente acontece por acaso ou por causa de um momento de desespero. O ser humano não é um ser somente biológico. Somos seres psicológicos e sociais e o adoecimento mental, a depressão, geralmente ocorre por falta de fé (freqüentar uma igreja, de qualquer denominação é bom), por falta de diálogo e apoio familiar e de ocupação (atividades laborais e físicas)”.
Mestre em Filosofia, ele afirma que a Humanidade está se tornando cada vez mais doente devido a situações como o avanço da comunicação a uma velocidade que às vezes, as pessoas não conseguem assimilar e acabam se sentindo pressionadas e culpadas.
TRATAMENTO – Bergman também salienta que hoje o tratamento para doenças ligadas à personalidade existem e são muito eficientes. “É preciso buscar ajuda especializada, pois a depressão é uma nuvem negra que fica pairando sobre a cabeça da pessoa e, se não for tratada, facilmente evolui para o suicídio. É uma doença silenciosa e as pessoas que são vítima dela, sofrem muito preconceito ainda, o que só faz agravar e acelerar o problema.”
Ele informa que existem medicamentos capazes de controlar a serotonina (hormônio que atua regulando o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade e funções intelectuais). Quando este hormônio se encontra numa baixa concentração, pode causar mau humor, dificuldade para dormir, ansiedade ou mesmo depressão.
“Se a pessoa ou seus familiares buscarem tratamento, com certeza, ela conseguirá atravessar essa nuvem negra, sair dessa tempestade e voltar a ter uma vida saudável,” finaliza.
Jacques Bergman é psiquiatra com título pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Associação Médica Brasileira (AMB). Atua em Barra de São Francisco, na clínica Mais Saúde (3756-2253) e em Mantena. (Weber Andrade)
Telefone 188 atende pessoas
com problemas de depressão
Desde o dia 1º deste mês, o número 188 está recebendo ligações gratuitas de qualquer ponto do país para atender e conversar com pessoas que estejam pensando em cometer suicídio. Este mês entrou em vigor a campanha Setembro Amarelo, que pretende ajudar a combater esse mal que tem ceifado tantas vidas. De acordo com o cabo BM Ernesto, do 1º Posto Avançado dos Bombeiros em Barra de São Francisco o número de ocorrência atendidas na região em função de tentativas ou suicídios concluídos é muito grande e preocupa a todos.
Tratamento também na rede pública
O site Voz da Barra já chamava a atenção para o assunto em julho deste ano, quando publicamos matéria sobre o assunto com a psicóloga Nelya Lima Fagundes.
“A depressão e o suicídio estão matando mais do que a AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis juntas,” disse Nelya, que trabalha na rede pública municipal de Saúde Mental. De acordo com ela, hoje a média de mortes por suicídio no Brasil é de 32 pessoas por dia. E a maioria delas são pessoas jovens.
Nelya disse que, em Barra de São Francisco, o número de pessoas com depressão e com tendências suicidas é muito grande e isso tem se refletido na perda de vidas de muitos jovens. Ela aponta o enorme volume de informação sem controle vindo da internet e a falta de diálogo dos pais, como os principais fatores que causam a depressão e o suicídio. “As famílias estão se distanciando muito. Os pais, na correria do dia a dia, têm se esquecido de conversar com os filhos, saber o que se passa na vida deles e, por isso, às vezes se surpreendem quando acontece o suicídio. Eles precisam romper essa cadeia. Filhos não precisam de celular caro, de dinheiro, mas sim de atenção. Recebo muita reclamação de adolescentes que dizem que os pais não conversam com eles, não procuram saber dos seus problemas”, constata.
A psicóloga aconselha aos pais a sempre vigiaram o que os filhos “consomem” na internet, que sites visitam, os amigos das redes sociais, pois a rede mundial tem sido um fator de propagação do suicídio. “Às vezes as pessoas colocam na rede informações maldosas ou mesmo coisas absurdas, como o jogo da Baleia, que provocou grande polêmica recentemente”, observa.
Para Nelya, falar sobre o tema é muito importante, porque é mentira que quem diz que quer se suicidar, não está falando sério. “Geralmente, quem fala em suicídio está mesmo pensando em fazê-lo, portanto, temos que ajudar a pessoa. A depressão é uma doença como qualquer outra, afeta nosso cérebro e nosso comportamento e deve ser levada a sério”, analisa.
O tratamento para a doença, de acordo com a psicóloga, demora, mas é quase sempre bem sucedido. “As pessoas não precisam ter medo de procurar tratamento. O atendimento psicológico e psiquiátrico, e o apoio dos familiares, geralmente é suficiente para curar problemas de depressão, que muitas vezes levam à tendência suicida”, ensina. (Weber Andrade)