O trem de passageiros não está circulando no Espírito Santo nesta terça-feira, 15, segundo a Vale, por causa do protesto de pescadores que bloqueia a estrada de ferro Vitória a Minas em Baixo Guandu. O veículo circulará apenas nos dois sentidos entre Belo Horizonte e Governador Valadares, em Minas Gerais.
Na estação Pedro Nolasco, em Cariacica, ponto de partida do trem no Espírito Santo, que fica na região metropolitana de Vitória, os passageiros foram pegos de surpresa.
Depois de férias no estado, os mineiros não conseguem voltar para casa. Foi o caso da Letícia. Ela mora em Nova Lima, em Minas Gerais, e foi informada quando chegou na estação que não teria trem. Com compromisso marcado, ela acha que a empresa faltou com respeito.
“Eu vim com um amigo e nós programamos a viagem, tudo direitinho. Já tinha comprado a passagem e disseram que iam ressarcir o dinheiro, mas como foi comprada no cartão de crédito, eles não vão ressarcir. Eu vou ligar para a minha família em Nova Lima, Minas Gerais, para ver se eles depositam. Mas os ônibus para lá estão lotados e meu amigo que está na fila disse que só tem vaga para remarcar a passagem para daqui a duas semanas”, declara Letícia.
Vale – Ontem, 14, quando o protesto começou, a Vale fez o baldeio dos passageiros que seguiam para o Espírito Santo por ônibus alugados pela empresa.
A Vale informou que os passageiros com viagens marcadas para esta terça-feira para locais que não serão atendidos podem reagendar o bilhete ou pedir o reembolso da passagem. Para isso, devem se dirigir, no prazo de até 30 dias, a qualquer uma das estações localizadas ao longo da Estrada de Ferro Vitória a Minas. A empresa não informou se a circulação voltará ao normal nesta quarta-feira, 16.
Protesto – Pescadores fecham a ferrovia Vitória-Minas no trecho de Baixo Guandu, no Noroeste do Espírito Santo, desde a manhã de segunda-feira, 14, em protesto contra a forma como estão sendo indenizados após o desastre ambiental do Rio Doce, causado pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana, em Minas Gerais, que levou uma enxurrada de rejeito de minério para o Rio Doce.
Segundo os pescadores, um dos benefícios foi cortado. Eles pedem para conversar com um representante da mineradora Samarco.
“Tem muitas pessoas que não receberam ainda. Algumas pessoas receberam e outras não. Os nossos projetos não saem do papel e estamos reivindicando por todas as comunidades, de São Mateus à Minas. Nós queremos uma posição da Samarco e as comunidades vão ficar aqui o tempo que for preciso para ter essa resposta”, diz o pescador Jossenilson, da localidade de Povoação, em Linhares.
A categoria disse que uma decisão do juiz Mário de Paula Franco Júnior, da 12ª Vara Federal de Belo Horizonte, altera o atual modelo de pagamento de indenização firmado entre os pescadores e a Fundação Renova.
Os pescadores disseram que o lucro cessante, que seria pago no final do ano passado por reparação da perda do ano todo pelo fim da pesca, foi suspenso por uma liminar na Justiça de Minas Gerais. No entendimento do juiz do caso, o auxílio emergencial recebido pela categoria compensaria esse valor.
Os pescadores acreditam que o auxílio que recebem todo mês vai ser descontado da indenização que ainda vão receber. A Renova, fundação criada para gerir as indenizações do desastre, garante que esse valor não vai ser descontado. Atualmente, mais de 1,5 mil pescadores que esperam essa indenização recebem o auxílio mensal emergencial.
Desastre – No dia 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, uma barragem da Samarco, cujos donos são a Vale e a BHP Billiton, se rompeu. Uma lama de rejeitos de minério vazou, arrasou vilas, matou pessoas e chegou até o Rio Doce, que percorre cidades mineiras e também capixabas.
No Espírito Santo, as cidades afetadas foram Baixo Guandu, Colatina e Linhares, onde fica a foz do rio. (Weber Andrade com G1 Espírito Santo)