O que une bancário, vereador, secretário municipal, açougueiros, engenheiros, jornalista e pequenos proprietários rurais de Barra de São Francisco? A resposta poderia ser simplesmente “voluntariado”. Mas não é só isso. O bancário do Sicoob, Arlindo Júnior, desde que foi pela primeira vez ajudar no projeto de recuperação e preservação das nascentes do rio Itaúnas, não parou mais. Para ele, a ação é uma maneira de ajudar a garantir que exista água para si e para as próximas gerações. “É muito gratificante”, comenta.
O projeto, que já está 40 nascentes cercadas, através de uma ação comunitária encabeçada pelas pastorais da Igreja Católica, em parceria com o Comitê de Defesa da Bacia do Rio Itaúnas, foi iniciado em março do ano passado e conta com o apoio essencial da Thor Granitos, que tem cedido o material para as cercas, além de algum apoio logístico aos voluntários.
“Se as pessoas soubessem o quanto é bom e gratificante esse trabalho voluntário, teríamos muito mais gente aqui”, comenta o engenheiro de Minas da Thor, o gaúcho Everton Girelli, que neste domingo esteve visitando nascentes já cercadas e também o trabalho que estava sendo realizado na propriedade do casal Gilmar Xavier e dona Creuza, no córrego da Peteca.
Girelli, que estava acompanhado da engenheira ambiental e civil, Vanessa Sena, disse que a Thor iniciou o projeto de cercamento de nascentes ainda em 2015, com apoio da Policia Militar e Secretaria Municipal do Meio Ambiente. “No entanto, foi na atual administração que o projeto ganhou força, com a entrada do Comitê de Defesa da Bacia do Itaúnas, Igreja Católica e prefeitura. “Nós reunimos com o prefeito, o secretário de Meio Ambiente, que também representa a Ong Sentinela Francisquense, e decidimos apoiar o trabalho voluntário, até porque a Thor não possui mão de obra para fazer o serviço”, descreve.
O engenheiro conta ainda que a empresa já investiu cerca de R$ 50 mil apenas em materiais como arame, estacas e grampos, sem contar o transporte dos materiais e outros gastos que não envolvem diretamente dinheiro. Ele salienta que o projeto tem avançado de forma muito satisfatória e garante que estará junto com os voluntários nas próximas ações. “Já temos mais de 40 hectares de nascentes cercadas, isto é muito bom e creio que vamos avançar muito mais, pois os voluntários estão motivados. Para a Thor, seria mais cômodo comprar uma fazenda de 40, 50 hectares, fechar e deixar a natureza recuperar, mas a empresa entende e gosta de sua responsabilidade social e ambiental, por isso decidimos pelo colaboração com os voluntários”.
A ação está sendo tocada por voluntários da região de Cachoeirinha, com apoio de várias entidades, como a Ong Sentinela Francisquense; A Secretaria Municipal do Meio Ambiente; Igreja Católica, através de suas comunidades na região margeada pelo rio e seus afluentes; E a empresa Thor Granitos, que está doando todo o material necessário para as cercas.
“Temos que agradecer, principalmente, aos proprietários das terras que liberaram para cercar as nascentes e têm ajudado, inclusive no trabalho”, salienta o líder do Comitê de Defesa da Bacia do Rio Itaúnas, Carlinhos Alvarenga.
O projeto previa inicialmente o cercamento de 89 nascentes, todas já georeferenciadas e com o cercamento autorizado pelos proprietários rurais, mas o sucesso do empreendimento vem atraindo mais proprietários rurais que terem preservar suas nascentes. (Weber Andrade)

Proprietário quer cercar todas
as nascentes e fazer barragem
O proprietário rural Gilmar Xavier da Silva e sua esposa Creuza são daqueles roçalianos autênticos, embora ela já não use tanto o fogão de lenha para fazer suas quintandas e comidas. Ele conta que vive no campo desde criança, mas teve uma altura da vida em que precisou morar na cidade, para estudar os filhos. “Depois, meu sogro morreu e nós decidimos voltar para a roça”, conta ele.
Gilmar acorda sempre muito cedo e vai tirar o leite das suas vacas, que ele conhece pelo meno nome e que parecem ter hora marcada no curral. De vez em quando uma delas cruza o terreiro em direção ao curral, chamando pelo bezerro e é recebida pelo proprietário, que trata de colocá-la para dentro. Em média ele tira 90 litros de leite por dia. No entanto, a principal fonte de renda da propriedade, o gado, tem sofrido com a escassez de pasto.
“Há muito anos eu gostava de prender canarinho, tinha muitos e de alto valor, mas depois percebi que eles estavam sumindo da natureza e resolvi abrir as portas das gaiolas. Continuei tratando deles e, hoje, tem canário espalhado por todo o lado”, revela.
A consciência de que era preciso mudar o jeito de lidar com o meio ambiente levou Gilmar e o filho Adair a aceitarem o cercamento de suas nascentes – são mais de uma dezena de olhos d’água – e hoje, ele quer mais, tem projeto até para fazer uma barragem próxima da sua casa. “Quem sabe, com apoio de vocês eu não consigo fazer uma barragem aqui, ficaria muito bonito e, no futuro dava pra fazer até um pesque pague”, sonha ele enquanto mostra o local ao engenheiro Everton Girellli. (Weber Andrade)