Fundado em fevereiro de 2019, o Organismo de Controle Social (OCS) São Francisco, vem se destacando na comercialização de produtos orgânicos e agroecológicos no município, mas está em busca de crescimento e pretende instalar em breve, um mercado, no prédio da antiga Cibrazem, na Vila Landinha, onde as pessoas possam encontrar e comprar os seus produtos diariamente.
(Veja fotos dos produtos no final da matéria)
“Atualmente, nós trabalhamos somente com o delivery (entrega domiciliar) porque o espaço onde funciona a distribuição ainda não está adequado para venda direta, mas vamos buscar o apoio do prefeito Enivaldo dos Anjos para que esse sonho se concretize”, informa o ex-vereador e agricultor familiar de Vargem Grande, José Valdeci de Souza.
No mix de produtos do OCS São Francisco, pode ser encontrada uma vasta gama de legumes e verduras in natura, semiprocessados – picados e embalados – prontos para consumo direto ou preparo na cozinha, como feijão e arroz colonial, além de frutas diversas e água de coco pronta para consumo.
Também pode ser encomendado no OCS, produtos beneficiados como iogurte, queijo, broas, brote, biscoitos, e até cachaça.
A jovem Amanda, é uma das clientes habituais da OCS e, hoje, 27, que é dia das entregas, ela foi pessoalmente buscar a sua cesta de produtos orgânicos. “Eu compro com frequência, não é toda semana, mas sempre compro os produtos da OCS, são muito bons”, elogia.
A agricultora familiar Heikiana Carla Calais Marim, que cuida da administração dos recursos e recepção dos pedidos além de ajudar na preparação das cestas, informa que a OCS tem em torno de 200 clientes cadastrados e vende em torno de 70 a 90 cestas semanalmente.
As encomendas podem ser feitas pelo telefone (27) 98112-2712, inclusive via whatsapp.
“Os pedidos são feitos pelo meu celular, depois passo para uma planilha e os próprios produtores se reúnem, toda quinta-feira à tarde, embalam as cestas e fazem a entrega, tudo de forma solidária”, explica.
No local, agricultores familiares como o feirante João Hermes, do córrego Fervedouro e Sérgio Marim, do córrego Santa Angélica, se juntam aos colegas e preparam as cestas para distribuição.
João Hermes é um dos pioneiros da agricultura orgânica no município e produz legumes e verduras sem agrotóxicos. Sérgio Marim, por sua vez, produz iogurte e queijo diariamente, tudo de forma orgânica e vende todos os dias, mas também faz entregas através da OCS São Francisco.
Certificados pelo Mapa
Atualmente, dez famílias de agricultores do município estão comercializando seus produtos através da OCS. “São todos certificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)”, informa José Vadeci.
O OCS São Francisco é o primeiro, dentro do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a receber a certificação participativa pelas mãos do Mapa. Foram 12 famílias certificadas em 2017.
Uma das mais importantes organizações a fortalecer uma agricultura sustentável no país, ligada à internacional Via Campesina, o MPA tem hoje, nas OCS, mais uma aliada nessa missão. “A gente vê como uma alternativa viável tanto no aspecto econômico quanto político”, observa Dorizete Cosme, da coordenação estadual do MPA.
A certificação participativa por meio das OCSs fazem parte do Programa Bem Viver, do MPA, que possibilita uma aceleração da produção agroecológica das famílias para atender às necessidades prioritárias dos camponeses, que são a produção de alimentos saudáveis, a melhoria da qualidade de vida e a construção de uma aliança camponesa e operária.
“A certificação é uma consequência desse trabalho. É uma maneira da gente garantir para os consumidores, de forma oficial, que eles estão consumindo alimentos limpos, saudáveis”, conta o líder camponês.
Até a chegada das OCSs no MPA, o movimento não optava pela certificação orgânica feita por empresas ou instituições privadas e auditorias individualizadas, por ser um processo excessivamente caro – cerca de R$ 2 mil por ano – e que não promove a participação coletiva dos produtores no processo. “A OCS então possibilita as duas coisas: uma maior participação dos produtores, das famílias camponesas, e com um custo bem menor”, explica.
O processo
A mobilização dos camponeses que compõem a OCS São Francisco teve início em 2014, com um grupo que já praticava a agroecologia há bastante tempo e se conhecia, portanto, que construíram uma relação de mútua confiança e colaboração.
No município, predomina a pecuária leiteira, mas, devido à seca, muitos têm migrado para o gado de corte. A camponesa e Heikiana Carla de OIiveira Calaes Marim, uma das camponesas certificadas pela OCS São Francisco, informa que existem cerca de 3.100 propriedades de agricultura familiar no município. Muitos produzindo café e, desde 2014, também ampliando os cultivos de pimenta-do-reino. Ligados ao MPA, são cerca de 100 famílias.
Carla relata o processo de certificação da sua OCS, que é semelhante ao que acontece com os demais grupos. Depois de comunicar ao Mapa seu interesse em receber a certificação, o grupo recebeu vários cursos gratuitos do Ministério. Após aproximadamente um ano de treinamentos, conseguiu a declaração para fazer sua inscrição e, em seguida, as famílias foram recebendo suas declarações para se filiarem ao grupo.
O pré-requisito mais importante para a declaração é ter elaborado o Plano de Manejo da Propriedade, documento em que o produtor declara qual a estimativa de produção para aquele ano – quais culturas irá produzir e em que quantidade –, quais intervenções terá que fazer para garantir a total adequação ambiental – como recuperação/conservação de Áreas de Proteção Permanente (APP), Reserva Legal (RL) – além de, obviamente, as garantias de proteção da lavoura orgânica contra possível contaminação com agrotóxicos vindos de propriedades vizinhas. “Todo ano o Plano de Manejo é atualizado”, informa Carla.
A auditoria derradeira, prévia à entrega dos certificados, é feita pelo Ministério por meio de sorteio. Ninguém sabe qual produtor será vistoriado, por isso todos precisam estar em dia com as exigências, após um período de intensas trocas de experiências dentro do grupo, visitas, mutirões. “São os próprios produtores que se fiscalizam”, conta.
Aceleração agroecológica
De posse do certificado da OCS, os agricultores podem realizar venda direta ao consumidor em feiras livres e entregas domiciliares. Só não podem vender para mercados e outros pontos intermediários. Os agricultores ligados à São Francisco já têm uma clientela especial na feira livre municipal. “O pessoal já compra com a gente sabendo que é uma produção agroecológica, diferenciada”, conta a Carla. (Weber Andrade)