Por Weber Andrade
Em 1973, com 11 anos de idade e recém chegado a Barra de São Francisco, numa bela manhã de domingo estava a passear pelo centro da cidade, mais precisamente na praça Senador Atílio Vivácqua, quando bateu uma dor de barriga daquelas. Olhei desesperado para todos os lados e o único sítio protegido dos olhares curiosos que encontrei foi uma sala de aula do antigo grupo escolar Governador Lindenberg, cuja janela de madeira pintada de amarelo claro estava com parte quebrada. Não tive dúvidas, adentrei o local pulando a janela e, atrás de uma “carteira” fiz minhas necessidades.
Estava já aliviado e preparando para sair quando ouvi a voz de um taxista, cujo nome não lembro mais, sei que era bem gordo e fazia ponto ali em frente. Vinha acompanhado de um soldado cujo nome também me escapa e ouvi bem quando disse que tinha visto um menino invadindo a sala de aula minutos antes, provavelmente para roubar.
Bateu o desespero e me deitei debaixo das carteiras, imóvel e tremendo de medo. Naquela época a gente tinha muito medo de polícia e eu, que vinha lá das bandas de São Manoel do Mutum, tinha mais medo ainda porque tinha visto meu pai ser preso no ano anterior, por causa do assassinato do prefeito da cidade, amigo dele. Meu pai estava ao lado do prefeito e atirou contra o pistoleiro. Fiquei traumatizado ao vê-lo atrás das grades e essa prisão foi o que motivou a nossa mudança para o “norte”, para Barra de São Francisco, em 1972.
Depois de alguns minutos escondido e receoso de atender ao chamado do policial lá fora da sala de aula, ouvi que ele ia abrir totalmente a janela e entraria para me pegar, diante da garantia do taxista de que havia alguem lá dentro. Entreguei-me à força policial aos prantos e, enquanto era conduzido para o Cadeião – na época eu morava bem ao lado, ali no alto do morro, na rua que hoje leva o nome do senhor Astrogildo Romão dos Anjos, pai do deputado estadual Enivaldo dos Anjos – avistei o advogado João Pascoalino Gomes Filho passando pela avenida Jones dos Santos Neves.
Preocupado, ele logo interpelou o policial e perguntou o que estava acontecendo. Eu mesmo respondi:
– Seu Pascoalino, avisa meu pai que estou indo preso, estava cagando no grupo.
Quando cheguei ao Cadeião fui levado lá para o fundo, onde ficavam as celas e tive que enfrentar a rudeza do sargento Eutíquio, que ameaçava raspar minha cabeça e meter-me numa cela como castigo pela invasão do grupo.
Meu pai, Zé Leite, ourives e relojoeiro, era amigo do advogado João Pascoalino e os dois não tardaram a aparecer na cadeia e livrar-me das garras dos policiais, após ouvir algumas reprimendas.
Foi a primeira vez que fui “preso” – confesso que outras duas prisões vieram mais tarde sempre por rebeldia ou leve transgressão à lei mas nunca cheguei a ficar preso e ser processado, graças a Deus.
E foi também a primeira vez que precisei dos serviços de um advogado, no caso o ainda jovem advogado João Pascoalino Gomes Filho.
Decidi narrar essa história pouco honrosa, mas engraçada da minha vida, como forma de homenagear o advogado Pascoalino, que esta semana também foi homenageado com muita justiça, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e pela 5a Subseção da Ordem.
Transcrevo abaixo o agradecimento de uma das filhas do Pascoalino , a Dalmácia, de quem sou amigo de longa data, pela homenagem ao pai:
“Queremos como família, agradecer à OAB @oabespiritosanto, especialmente, ao presidente estadual @josecarlos.rizkfilho e ao presidente da subseção de Barra de São Francisco @raony_scheffer , ao @thiagobitts e a todos os advogados presentes pela linda homenagem feita ao meu pai João Pascoalino Gomes Filho. Meu pai está com 94 anos de idade, dos quais, 50 anos foram dedicados com muito zelo ao exercício do direito e da justiça. Muito obrigada! Meu pai se sentiu honrado e extremamente feliz.”