O cientista chinês He Jiankui, professor associado da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul de Shenzhen, disse nesta quarta-feira, 28, que uma voluntária em suas pesquisas de edição genética de bebês está grávida, de acordo com a agência de notícias Reuters.
Antes desse anúncio, o trabalho de He Jiankui já estava no centro de um escândalo ético porque ele afirma ter sido responsável pelos primeiros bebês editados geneticamente do mundo. Elas seriam gêmeas que nasceram na China neste mês.
Nesta quarta, 27, He Jiankui discursou em um auditório lotado por cerca de 700 pessoas que participavam da Cúpula de Edição do Genoma Humano na Universidade de Hong Kong. O moderador da conferência, Robin Lovell-Badge, disse que os organizadores da cúpula não estavam cientes do assunto até ele vir à tona nesta semana.
Apesar das críticas da comunidade acadêmica internacional, o pesquisador não mostrou constrangimentos com a repercussão do trabalho. “Sinto-me orgulhoso deste caso. Muito orgulhoso”, disse He Jiankui ao ser questionado por vários colegas na conferência.
“Este estudo foi submetido a um periódico científico para análise”, disse, sem identificar a publicação, e acrescentou que sua universidade não estava ciente de seu estudo.
He Jiankui, que disse ter financiado o próprio trabalho, minimizou as preocupações de que sua pesquisa tenha sido realizada em segredo, explicando que procurou a comunidade científica ao longo dos últimos três anos.
Técnica CRISPR – Em vídeos publicados na internet nesta semana, He Jiankui disse ter usado uma tecnologia de edição genética conhecida como CRISPR-Cas9 para alterar os genes embrionários de duas gêmeas nascidas neste mês.
A CRISPR-Cas9 é uma tecnologia que permite aos cientistas copiar e colar o DNA, o que desperta a esperança de curas genéticas de doenças — mas também causa preocupações em relação à segurança e ética.
Segundo o pesquisador, a edição genética ajudará a protegê-las de uma infecção de HIV, o vírus que causa Aids. He Jiankui disse que, inicialmente, oito casais se inscreveram para seu estudo e que um desistiu. Os critérios exigiam que o pai fosse HIV positivo e a mãe fosse HIV negativo.
Cientistas e o governo chinês reprovaram o trabalho que He Jiankui disse ter realizado, e um hospital ligado à sua pesquisa insinuou que sua aprovação ética foi falsificada.
Na terça-feira, 26, a Sociedade Chinesa de Biologia Celular emitiu um comunicado no qual repudiou fortemente qualquer aplicação de edição genética em embriões humanos para fins reprodutivos e disse que ela é contrária à lei e à ética médica na China.
Também na terça-feira, mais de 100 cientistas, a maioria chineses, disseram em uma carta aberta que o uso da tecnologia CRISPR-Cas9 para editar genes de bebês humanos é perigosa e injustificada. “A caixa de Pandora foi aberta”, alertaram. (Fonte: Agência Reuters e G1)