“O sangue não é fabricado, não é vendido, não é comprado”. Assim a diretora-geral do Hemocentro de Vitória, Marcela Murad, busca conscientizar os capixabas para que se tornem voluntários. A frase ganha mais peso no cenário de pandemia, cujos impactos acentuaram a baixa nos estoques e hoje são responsáveis por uma queda na doação que varia entre 40% e 50% no Hemoes, localizado em Maruípe.
Se o número de doadores ideal gira em torno de 100 a 120 por dia, atualmente passam pela unidade uma média 60 a 70, explica a diretora. “Tivemos desde o início da pandemia uma queda considerável nas doações de sangue. Vivenciamos diariamente os reflexos causados pela queda nas doações. As pessoas ainda encontram certo tipo de receio de comparecer nos hemocentros devido à pandemia”.
No entanto, segundo ela, não há o que se preocupar. “O hemocentro é um lugar seguro”, garante. “Intensificamos todas as nossas ações de higienização, adotamos todos os protocolos do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde. Nossos servidores estão devidamente treinados, capacitados, fazem o uso de todos os EPIs (equipamentos de proteção individual)”, frisa.
Na sala de doação, as cadeiras são usadas de maneira intercalada e limpas com álcool. O risco de contaminação por Covid-19 durante todo o processo de doação é o mínimo possível porque as pessoas que comparecem ao local não podem apresentar nenhum sintoma gripal e devem estar bem de saúde. “Se tiver tido suspeita de Covid tem que ficar um período de até 30 dias para comparecer”, pontua Murad.
Conscientização
Como se já não bastasse a Covid-19, Marcela lembra que junho é considerado o mês de maior escassez nos estoques no Brasil. Isso se deve ao início das férias escolares, em que muitas pessoas viajam, e ao começo do inverno (dia 21), quando há maior incidência de doenças respiratórias. Daí um dos motivos do Junho Vermelho para conscientizar os cidadãos. “Não existe na indústria farmacêutica nada que substitua o sangue”, reforça ela.
O Dia Mundial do Doador de Sangue é comemorado anualmente em 14 de junho. O objetivo é homenagear a todos os doadores de sangue e conscientizar os não-doadores sobre a importância deste ato, que é responsável pela salvação de milhares de vida.
A data foi criada por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, e o dia escolhido é uma homenagem ao nascimento de Karl Landsteiner (14 de junho de 1868 – 26 de junho de 1943), um imunologista austríaco que descobriu o fator Rh e várias diferenças entre os diversos tipos sanguíneos.
Processo
Marcela alerta que cada doação pode salvar até quatro vidas, pois todas as bolsas de sangue passam pelo processo de fracionamento, por meio do qual os hemocomponentes são “separados” em quatro: plaquetas, plasma, hemácias e crioprecipitado. “Um paciente pode necessitar de apenas um hemocomponente como pode necessitar dos quatro”, explica. A decisão é do médico.
Assim que a doação é feita, as amostras coletadas são enviadas para a sorologia, etapa na qual é feita análise laboratorial para identificar eventuais doenças. “Se tiver algum problema essa bolsa é descartada”, observa a diretora. Caso contrário, é liberada para os hospitais. Esse processo leva dois dias, portanto, o sangue doado na segunda, por exemplo, só poderá ser usado na quarta-feira.
Embora não haja preferência por determinado tipo sanguíneo, Marcela reconhece a importância do sangue O- no estoque e explica o motivo: “Ele é utilizado em todas as urgências e emergências. Então teve um acidente de trânsito, a primeira demanda que a gente utiliza nos hospitais, sem fazer exame no paciente, é o O-”, ressalta.
O Hospital Estadual de Urgência e Emergência e o Hospital Infantil, além da Santa Casa de Misericórdia, todos em Vitória, são exemplos de unidades abastecidas com o sangue coletado. Além de acidentes e cirurgias de urgência, o estoque é usado para tratar pacientes com doenças crônicas que demandam o atendimento diariamente.
Ação externa
Para reverter o quadro de baixa nas doações, que não é exclusividade da Região Metropolitana, a equipe do Hemocentro de Vitória trabalha diariamente em busca de doadores. Essa captação ativa é feita por meio de contato telefônico ou envio de mensagem por aplicativo de quem está cadastrado no sistema da unidade.
“Essa equipe faz uma busca constante dos doadores, até para lembrar a pessoa de retornar para fazer doação voluntária”, conta a diretora-geral. Segundo os protocolos médicos, homens podem doar a cada intervalo de 60 dias (não excedendo 4 doações a cada 12 meses) e mulheres a cada 90 dias (não mais do que 3 vezes a cada período de um ano).
Houve intensificação das ações externas com a criação da coleta itinerante e adoção de equipamentos portáteis. “Antes da pandemia realizávamos ações somente com o ônibus do Hemoes, só que esse ônibus requer uma estrutura física muito ampla. Com a pandemia, nós nos reinventamos e criamos uma nova modalidade de coleta itinerante”, salienta Marcela.
Nesse caso, a ação é feita em locais menores, que demandem infraestrutura mais enxuta, e com menor número de doadores (50 a 70 por dia). O horário é agendado para evitar aglomeração. Entre os aparelhos levados estão os que coletam o sangue, cadeiras do papai e maleta de urgência e emergência. Isso não quer dizer que o ônibus esteja estacionado. Ele continua com as ações, mas com atendimento reduzido de 70 a 100 voluntários por dia devido aos protocolos sanitários.
Além disso, o horário de funcionamento dos hemocentros do interior foi estendido. Em Linhares, Colatina e São Mateus a coleta está sendo feita das 7h até as 15h20 de segunda a sexta-feira (anteriormente era até as 12 horas). Na Grande Vitória o atendimento se dá em regime de plantão, das 7h às 18h20 todos os dias, sábados, domingos, feriados e pontos facultativos.
Doação
Para ser doador, basta que o interessado vá ao hemocentro com documento oficial com foto. Lá ele passará por um cadastro e responderá a um questionário. Depois, será feita uma triagem para aferir a pressão e peso e verificar a hemoglobina. Em seguida, é submetido a uma triagem clínica, fase na qual são feitas perguntas com base na legislação e é essa avaliação que vai dizer se o voluntário está apto ou não para doar.
Além de seguro, o procedimento de doação é o mais rápido de todo o processo, dura de 5 a 15 minutos. O volume de sangue coletado varia de 350ml a 470ml dependendo do peso do doador. Após o procedimento a pessoa recebe um lanche e fica em observação por 15 minutos.
Como ser doador
Apresentar documento de identidade oficial com foto;
Estar se sentindo bem;
Ter entre 16 e 69 anos de idade. Quem tem 16 e 17 anos precisa de autorização do responsável – acesse o termo aqui. Os mais velhos podem doar desde que a primeira doação tenha sido feita até os 60 anos;
Pesar acima de 50 kg;
Ter dormido bem, pelo menos 6 horas, na noite anterior à doação;
Não estar em jejum;
Não ingerir bebida alcoólica nas 12 horas antes da doação;
Evitar fumar, pelo menos 2 horas antes e depois da doação;
Evitar ingerir alimentos gordurosos;
Caso tenha almoçado, a doação deve ser feita 3 horas depois.
Outros impedimentos temporários
Gravidez;
Pós-gravidez: aguardar 90 dias após parto normal e 180 depois de cesariana;
Quem está amamentando (se o parto foi feito dentro de 12 meses);
Quem recebeu a vacina contra gripe e tétano deve esperar 48 horas;
Quem recebeu vacina antirrábica ou tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) deve aguardar 30 dias;
Quem passou por endoscopia e colonoscopia deve esperar 6 meses;
Quem fez tatuagem, micropigmentação e colocou piercing deve esperar 12 meses;
Situações nas quais há maior risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis (aguardar 12 meses).
Impedimentos definitivos
Ter contraído hepatite após os 11 anos de idade;
Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças sexualmente transmissíveis pelo sangue: hepatite B e C, Aids (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas;
Uso de drogas injetáveis ilícitas;
Ter contraído malária;
Outros impedimentos poderão ser identificados durante a entrevista de triagem, no dia da doação.
Onde doar
Hemocentro de Vitória
Av. Marechal Campos, 1.468 – Maruípe, Vitória (ao lado do Hospital das Clínicas)|27 3636-7920Unidade de Coleta de Sangue da Serra
Av. Eudes Scherrer de Souza, s/nº, Laranjeiras, Serra|27 3218-9429Hemocentro de Colatina
Rua Cassiano Castelo, s/nº, Centro, Colatina|27 3717-2800Hemocentro de São Mateus
Av. Othovarino Duarte Santos, s/nº, Pq. Washington, São Mateus |27 3767-7954Hemocentro de Linhares
Av. João Felipe Calmon, 1.305, Centro, Linhares|27 3264-6000
Coleta externa
Cidadãos, instituições públicas e particulares ou entidades interessadas em reforçar o banco de sangue podem agendar uma coleta externa, que poderá ser feita pelo ônibus do Hemoes ou por meio da coleta itinerante. Basta enviar solicitação para o email hemoes.coletaexterna@saude.es.gov.br e cumprir os requisitos necessários para cada um dos casos. É preciso fazer a solicitação com antecedência. (Da Redação com Webales)