Weber Andrade
“Foi onça. Noventa e nove vírgula nove por cento que foi onça”, sentenciou o produtor rural Isaías Badke, quando o vizinho Janildo Rocha, o Quarentinha, mostrou o vídeo de um bezerro recém nascido com sinais de estrangulamento e faltando um quarto traseiro.
O caso aconteceu na noite desta quarta-feira, 29, na propriedade de Quarentinha, na região do Bagaço. “Eu fui pra roça ontem (quarta-feira) no final da tarde, com o Sayonara e, numa certa hora começamos a ouvir muitos mugidos estranhos. Falei para minha esposa, tem alguma coisa errada, não sei o que é, mas o gado está muito agitado”, conta ele.
Quarentinha disse que, ao chegar à cidade, nesta quinta-feira, 30, pela manhã, pediu ao cunhado, Afrânio, que fosse até a propriedade vacinar o gado e verificasse se havia alguma coisa diferente. “Quando o Afrânio me mandou o vídeo, eu não tive muitas dúvidas. Foi uma onça que pegou o bezerro recém parido. Certamente, depois de matá-lo, tirou um pedaço para alimentar o filhote ou filhotes”, analisa.
Ao mostrar o vídeo para o vizinho, Isaías, este não teve dúvidas. Foi onça mesmo. “Isaías até sugeriu que eu fizesse uma armadilha para tentar prende-la, mas preferi não fazer. Só gostaria de alertar os amigos e vizinhos que têm propriedade rural, para que não mandem crianças ou adolescentes tanger o gado no início da noite, sozinhos. Sei que elas não costumam atacar com frequência os seres humanos, mas a fome e a necessidade de alimentar as crias, pode provocar uma tragédia”, aconselha.
Ainda na tarde de ontem, 30, Quarentinha esteve de volta ao local onde o bezerro foi encontrado e já não havia nada além de um rastro pelo capim e alguns poucos ossos a cerca de 50 metros.
Assista ao vídeo:
Relatos são constantes na região
Os relatos de aparição de onças na região têm atiçado a curiosidade das pessoas e deixado muita gente assustada na zona rural. Em Mantena, segundo o site Mantena Online, o vereador Jonas Emiliano, postou foto de possíveis pegadas de onça em uma propriedade no córrego dos Ilhéus, bem próximo da sede do município mineiro.
O mesmo site também já recebeu relato e até foto de uma onça parda que foi avistada na beira da estrada, próximo ao distrito de São José, em Mantenópolis.
Recentemente, o produtor rural francisquense Valdeir Simões, residente no córrego Fervedouro, postou áudio no grupo de whatsapp dos voluntários de Defesa do Rio Itaúnas, citando relato de amigos que teriam avistado uma onça parda bebendo água numa lagoa próxima à casa dele e perto de onde uma nascente que foi cercada no ano passado.
O diretor Geral do campus do Ifes em Barra de São Francisco, professor José Alexandre Gadioli, também confirmou à reportagem dos sites ocontestado.com e vozdabarra.com.br, que pegadas de onça foram registradas na área do campus da instituição, no Valão Fundo. Ele, inclusive, nos presenteou com uma camisa da instituição, que tem a logomarca da “Rota da Onça”, assim batizada pelos profissionais por causa da presença do animal.
Como elas precisam de um vasto território para sobreviver – áreas médias de 65 km² – e mínimo de 20 km², pode ser que a mesma onça avistada em Mantena esteja “passeando” em Barra de São Francisco. Os machos toleram-se e evitam-se.
História – A região sempre foi habitat de onças pardas, como conta o historiador francisquense – embora ele diga ser apenas um contador de causos – Edivaldo Machado de Lima e também o servidor estadual aposentado Cícero Heitor Pontes Pereira que, inclusive, relata já ter visto onças, mas na década de 50, quando chegou a Barra de São Francisco.
Veja também Oncas pardas e pintadas estão em risco de extincão por falta de espaco natural.
Caraterísticas – A onça parda é um mamífero da família Felidae, nativo do continente americano. É conhecida popularmente como suçuarana, leão baio, onça vermelha e puma.
É um animal solitário e apresenta hábito de vida noturno. Porém, embora mais raramente, faça caçadas durante o dia. O habitat desta espécie animal no Brasil é formado, principalmente, por cerrado, caatinga e pantanal.
O nome científico da onça-parda é Puma concolor e o animal adulto pesa entre 45 e 70 quilos e possui entre 1,70 e 2,10 metros de comprimento.
Carnívora, ela se alimenta, principalmente, de pequenos mamíferos, aves e roedores de pequeno porte, mas, eventualmente, podem atacar bezerros recém-nascidos, como aconteceu na região do Bagaço.
Em seu habitat natural e preservado, os animais desta espécie vivem, em média, 20 anos. A gestação da onça-parda dura entre 82 e 96 dias. As principais ameaças de extinção desta espécie são: redução de seu habitat (causado por desmatamentos) e a prática da caça ilegal.
A onça parda possui grande habilidade para subir em árvores. Os filhotes da onça parda ficam sob os cuidados maternos até completarem dois anos de idade. (Weber Andrade)