Dois irmãos representantes comerciais da área do granito e moradores de Barra de São Francisco, procuraram a nossa Redação nesta quarta-feira, 10, pela manhã, para reclamar da falta de condições para aquisição de cloroquina no município e no Espírito Santo. Segundo A.R. e M.A., o primeiro deles com sintomas da Covid-19, eles já fizeram de tudo para obter a cloroquina, mas não conseguem pelos órgãos públicos municipais e estaduais.
“Eu fiz uma viagem e voltei com os sintomas da Covid-19. Procurei a Unidade de Referência para a Covid-19 em Barra de São Francisco. Fui muito bem atendido, mas o médico informou que na farmácia pública não existe a cloroquina e que ele só poderia receitar o medicamento sob algumas condições, como fazer um eletrocardiograma e assinar um termo de responsabilidade”, conta A. R.
Ainda segundo ele, a equipe não exigiu o teste de confirmação da Covid-19, mas pediu que ele ficasse em isolamento. Com a receita em mãos, A. R. começou a percorrer a farmácias da cidade em busca do medicamento, mas descobriu que ele não pode ser vendido nos balcões e que as farmácias também não estão manipulando a droga.
“A única solução que me resta é ir até Mantena, onde médicos estão receitando a cloroquina aos pacientes com Covid-19 e as farmácias também estão autorizadas a vender o produto”, disse A.R.
O irmão dele, M. A., também confirmou que, na vizinha Mantena, a cloroquina está sendo utilizada como medicamento de tratamento da Covid-19. “Tenho parentes que trabalham no setor e tenho informação confiável de que lá o medicamento está sendo usado”, afirma.
Medicamento está liberado
pelo Ministério da Saúde
No final do mês passado, o Ministério da Saúde emitiu uma nova orientação que libera o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no Sistema Único de Saúde (SUS) até para casos leves de Covid-19. Até então, o protocolo previa os remédios apenas para os casos graves.
O presidente Jair Bolsonaro defende o uso da cloroquina no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. No novo protocolo divulgado pelo ministério, não aparece assinatura de nenhuma autoridade. O texto mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio. A cloroquina não está disponível para a população em geral.
O termo de consentimento, que deve ser assinado pelo paciente, ressalta que “não existe garantia de resultados positivos” que “não há estudos demonstrando benefícios clínicos”.
O documento afirma ainda que o paciente deve saber que a cloroquina pode causar efeitos colaterais que podem levar à “disfunção grave de órgãos, ao prolongamento da internação, à incapacidade temporária ou permanente, e até ao óbito”.
Sesa– Segundo o secretário o Estado de Saúde, Nésio Fernandes, após contato com um conjunto de médicos especialistas, infectologistas e intensivistas, sobre o assunto e após estudos realizados em todo o mundo, o protocolo para o uso do medicamento mudou no Estado.
“Nós adotamos o uso da cloroquina desde o início da pandemia, até a última semana, em todos os pacientes com indicação de internação em unidades de terapia intensiva. Inúmeras pesquisas foram desenvolvidas no mundo, inúmeros estudos e artigos, e a Sociedade Brasileira de Pneumologia, Infectologia, a Associação Brasileira de Médicos Intensivistas construíram conceitos onde foi retirada a indicação do uso da cloroquina para os pacientes graves. Ficando a cargo dos médicos e assistentes a avaliação se utilizam ou não o medicamento para pacientes com indicação de terapia intensiva”, explicou Nésio.
Por conta disso, o Estado seguiu a mesma orientação. “Nós retiramos a indicação da prescrição desse medicamento por não haver evidências científicas que apontem a eficácia dele nos pacientes graves. A própria Organização Mundial da Saúde o fez, alguns países do mundo já vêm abandonando o uso da cloroquina totalmente”, disse o secretário.
“Na atualização do nosso protocolo, nós reafirmamos a conduta anterior, já adotada pelo governo do Estado do Espírito Santo, de não recomendar o uso da cloroquina em pacientes com quadros leves, porque não existem evidências científicas que sustente a prescrição para pacientes leves”, completou Nésio.
O secretário também fez o alerta para a população sobre o uso indiscriminado deste e de outros medicamentos. “É preciso deixar claro que a Organização Mundial da Saúde, várias publicações em revistas científicas internacionais tem apontado o risco de complicações de pacientes que fazem o uso da cloroquina. Ela possui efeitos adversos”, explicou.
Semus – Tentamos contato com a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) para saber como está sendo tratada a questão da cloroquina no município, mas o secretário, Rafael Partelli, até a publicação dessa matéria, ainda não tinha retornado a ligação, pois encontrava-se em um reunião de trabalho. (Weber Andrade)